Candidato ao governo do Espírito Santo, o ex-deputado federal Carlos Manato (PL) tenta personificar uma espécie de Jair Bolsonaro (PL) local. Enquanto Renato Casagrande (PSB) e Audifax Barcelos (Rede) se esforçam para não nacionalizar o pleito, Manato faz justamente o contrário.
A campanha dele baseia-se, sobretudo, na imagem do presidente da República.
Nesta terça-feira (20), em entrevista à Rádio CBN Vitória e a A Gazeta, o candidato do PL ao Palácio Anchieta teve que se esquivar de perguntas sobre corrupção no governo federal, pecha que prega no principal adversário.
E ainda travou um pitoresco debate sobre "quem é Bolsonaro", não no sentido da essência do presidente, mas quem se identifica com ele no estado.
Quando questionado pela coluna sobre o fato de associar Casagrande aos governos do PT – a campanha do candidato do PL diz, na TV, que "a corrupção não pode voltar" – mas ignorar as suspeitas de corrupção que pesam sobre a gestão Bolsonaro, Manato decidiu apontar, de novo, para o PT:
"O presidente da República do PT foi preso. O ex-presidente do PT foi preso. O ex-presidente da Petrobras no governo do PT foi preso. O ex-presidente da Caixa Econômica foi preso".
Mas o atual presidente nacional do PL, o ex-deputado federal Valdemar Costa Neto, também foi preso, como lembrou o colunista Abdo Filho. Costa Neto foi condenado por participar do mensalão.
Aí Manato titubeou, mas ainda assim, "passou pano":
"É ... ele foi preso também, lá em 2006, no escândalo do mensalão, estava junto com o PT, foi um equívoco dele que aconteceu isso aí".
A coluna insistiu sobre os escândalos de corrupção do governo Bolsonaro, como o caso dos pastores do MEC, o ex-ministro do Turismo indiciado pela PF por esquema de candidaturas laranjas e uso de verbas milionárias do orçamento secreto para abastecer de emendas obscuras a base do governo.
"São casos que estão sendo apurados, que entrou Polícia Federal, está sendo avaliado. Tem que avaliar, partir pra cima e, se for culpado, tem que ser preso", respondeu Manato. Quanto ao orçamento secreto, ele considera o expediente "transparente".
O colunista Leonel Ximenes quis saber a que o candidato credita ser rejeitado por 22% dos eleitores, como mostrou pesquisa Ipec publicada no último dia 2. O percentual é igual aos que rejeitam o atual governador.
Manato disse que a rejeição parte de integrantes do PT, do PCdoB e do PSol, embora filiados a partidos sejam a minoria do eleitorado.
O candidato do PL, assim, mais uma vez, nacionaliza e "ideologiza" a eleição local, que ele divide entre apoiadores e opositores de Bolsonaro.
O ex-deputado federal também foi questionado, na entrevista, sobre obras estruturantes e investimentos na área de saúde.
Em meio à questão sobre a rejeição, Manato foi lembrado que outros candidatos de direita ao governo do Espírito Santo não são tão rechaçados pelos eleitores.
"Mas quem é que é Bolsonaro?", questionou o candidato do PL, dizendo-se, assim, alvo de rejeição pela proximidade com o presidente.
O ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon (PSD) também se perfila no campo bolsonarista. Ao ouvir que "Guerino também é Bolsonaro", entretanto, Manato entrou numa espécie de competição para definir quem é mais próximo ao presidente da República.
"Ele (Guerino) fala que vota em Bolsonaro. Falar que vota é diferente de ser", analisou.
"Você fala em Bolsonaro, pergunta a 100 pessoas: Bolsonaro é Manato, Manato é Bolsonaro", afirmou o próprio Manato.
"Ele (Guerino) nunca encontrou com Bolsonaro, não tem uma foto com Bolsonaro. A única foto que ele tem próximo de Bolsonaro foi no evento da Fenasp (em Vitória, em julho), ele atrás de Bolsonaro", minimizou.
Guerino vai ser o entrevistado desta quarta-feira (21).
A bem da verdade, Manato foi quem primeiro e com mais ênfase se associou ao bolsonarismo entre os candidatos ao governo do estado.
De acordo com o Ipec, Casagrande tinha 56% das intenções estimuladas de voto no dia 2 de setembro. Manato, 19%. Guerino e Audifax apareceram com 5% cada um, seguidos por Capitão Vinicius Sousa (PSTU), com 3%, Aridelmo Teixeira (Novo) e Claudio Paiva (PRTB), com 1% cada um.
DINHEIRO PARA CAMPANHA
Manato recebeu R$ 100 mil da direção nacional do PL para fazer campanha. O candidato ao Senado do partido no estado, Magno Malta, por sua vez, conta com R$ 2 milhões.
"Magno foi muito claro comigo. Falou 'Manato, o PL tem duas candidaturas majoritárias. Nós temos o presidente da República candidato a majoritário, nós temos eu candidato a majoritário. Não temos recurso para outra campanha majoritária'. Provou pra mim que não tinha. Eu falei 'eu assumo a responsabilidade' e assumi. Ele foi honesto comigo, o partido foi honesto comigo", admitiu Manato.
Como a coluna mostrou, entretanto, o PL tem 14 candidatos a governador no país. Manato é o que menos recebeu recursos enviados pela direção nacional do partido.
Anderson Ferreira, que disputa em Pernambuco, recebeu R$ 11 milhões. Ao que tem menos recursos, tirando Manato, o Coronel Diego Melo, do Piauí, foram destinados R$ 600 mil.
O partido, assim, não parece priorizar a eleição de Manato.
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