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Marcos do Val volta atrás: "Não vou deixar o mandato"

Na madrugada, senador do ES afirmou que abandonaria a política definitivamente e pediria afastamento do cargo. E ainda acusou Jair Bolsonaro te tentar cooptá-lo para dar um golpe. À tarde, já mudou a versão

Vitória
Publicado em 02/02/2023 às 15h24
Marcos Do Val disse ter desistido de renunciar na GloboNews
Marcos Do Val disse, em entrevista à GloboNews, ter desistido de renunciar. Crédito: Reprodução/GloboNews

Em entrevista coletiva concedida no Senado, no final da manhã desta quinta-feira (2), o senador do Espírito Santo Marcos do Val (Podemos) mudou a versão que havia dado anteriormente em uma live (transmissão ao vivo nas redes sociais) na madrugada. Afirmou que não partiu do ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL) o pedido de ajuda para uma tentativa de "golpe de Estado" e negou ter sido coagido.

E mais: não cravou que vai sair da política "definitivamente", ao contrário do que postou, no Instagram, por volta das 2h da manhã. Disse que ainda não havia se decidido.

Já à tarde, à GloboNews, afirmou que vai permanecer no cargo a pedido, entre outros, do senador Flávio Bolsonaro (PL).

Como a coluna mostrou, caberia à suplente de Do Val, Rosana Foerst (Cidadania), assumir a cadeira no Senado caso ele pedisse afastamento das funções ou renunciasse o mandato.

Mas Rosana foi escolhida como 1ª suplente ao acaso. A ideia era trocar o nome, dentro do prazo permitido pela Justiça Eleitoral. Ocorre que convites feitos a outras pessoas foram recusados. E Rosana acabou efetivada na chapa.

Na coletiva, pela manhã, o senador admitiu que a candidatura da suplente foi improvisada. E ainda bradou que não há possibilidade de permitir que ela o substitua.

Ou seja, para isso, ele tem que continuar nas funções, apesar de ter dito, horas antes, com todas as letras, que pediria afastamento e iria trabalhar nos Estados Unidos. Ou manobrar para que o segundo suplente, Ronaldo Libardi (Cidadania), ficasse com a vaga.

Mas Libardi também foi escolhido ao acaso. A única diferença é que o segundo suplente tem um pouco mais de experiência na política. Foi candidato a deputado estadual em 2014.

Além disso, o segundo suplente é convocado apenas se o primeiro não puder assumir.

"Eu estava praticamente decidido mesmo a chegar aqui, reunir a equipe e, realmente ia sair. Deixar assumir a suplente, não. Na época da campanha eu não tinha nenhum nome para a suplência. Aí tinha a secretária do vereador (Fabrício Gandini, que foi eleito deputado estadual em 2018) e eu pedi para ela emprestar o documento para ela ser minha suplente. Ela deu e aí pronto, foi eleita ", contou Do Val à imprensa.

"Ela achou que ... Eu tive um infarto logo no primeiro ano, porque me dediquei muito. Ela mandou mensagem dizendo 'estou pronta para assumir', nem perguntou se eu estava bem. E eu falei, 'olha, não foi acordado nada disso. Você esquece dessa possibilidade'", narrou o senador.

"Essa possibilidade, de alguém assumir o meu lugar, é zero. Não posso deixar todo o trabalho que fiz até aqui ser destruído", reforçou.

Na mesma entrevista, contudo, Do Val afirmou o seguinte: "A decisão ainda não foi tomada se eu permaneço".

“Eu nunca fui político. Quando você entra aqui (…) tem hora que a gente fica com vontade de ir embora, porque você é colocado em uma posição como se quisesse estar tirando proveito, querendo enriquecer”, declarou, ao ser questionado sobre as postagens feitas na madrugada.

NÃO RENUNCIA

Á tarde, em entrevista à GloboNews, Do Val falou já falou outra coisa. Desta vez, garantiu que não vai deixar o mandato temporariamente e tampouco renunciar.

"O Flávio Bolsonaro, o Eduardo (Bolsonaro), Davi Alcolumbre, a (Soraya) Thronicke ... Todo mundo me ligou para não deixar de ser senador", afirmou o capixaba.

A jornalista Andreia Sadi ficou intrigada: "O Flávio foi generoso a esse ponto? O senhor acusou o pai dele (Jair Bolsonaro) de um golpe...".

"Não, até porque o print do Daniel (o ex-deputado federal) Daniel Silveira (PTB-RJ) fala 'Flávio não está sabendo disso'. Como o Flávio fez esse movimento ... Eu até achei que eles iriam cortar relação, parar de falar comigo, aí eu fui lá agradecer", disse Do Val.

"Não vou deixar o mandato. Vou cumprir a promessa que fiz pra minha filha de deixar um país melhor."

Do Val entregou à revista Veja prints de conversas que teve com Daniel Silveira. Nos diálogos, os dois marcam um encontro sigiloso no Palácio do Planalto.

Segundo o senador do Espírito Santo, o próprio Bolsonaro, ainda presidente da República, em 9 dezembro, participou da reunião.

Lá, Do Val foi incitado a gravar uma conversa com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. A ideia, de acordo com  o relato do senador, era tentar fazer Moraes admitir que agiu fora dos limites da Constituição Federal para, depois, prendê-lo e forçar a permanência de Bolsonaro no poder.

Na live feita na madrugada, o senador disse que o então presidente da República, pessoalmente, o coagiu a participar de um golpe de Estado.

Na entrevista coletiva da manhã, entretanto, ele livrou a barra do ex-mandatário. Colocou tudo na conta de Silveira, preso nesta quinta-feira por descumprir medidas cautelares.

CIDADANIA SAI EM DEFESA DE SUPLENTE

Como Do Val fez pouco caso da 1ª suplente, na entrevista coletiva que concedeu à imprensa, conforme registrado nos primeiros parágrafos deste texto, o Cidadania, partido ao qual Rosana Foerst é filiada desde 2015, emitiu uma nota oficial:

O Cidadania se sentiria honrado em ter como senadora a pedagoga Rosana Foerste, que, em virtude de seus valores republicanos e seu profundo compromisso com a democracia, muito teria a contribuir, caso assumisse o mandato no Senado, com o País e, principalmente, com o Espírito Santo, retirando o estado das páginas policiais na qual se encontra hoje pelo envolvimento em ação golpista de um de seus representantes.

Os capixabas se sentiriam honrados em ter alguém com sua competência e caráter em Brasília.

A nota que, frise-se, diz, sem citar o nome do senador, que Do Val tem "envolvimento em ação golpista", foi assinada pelos presidentes nacional e estadual do Cidadania. Roberto Freire e Fabrício Gandini, respectivamente.

Foi por esse mesmo partido que o senador se elegeu em 2018. Depois, migrou para o Podemos.

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