O debate entre os candidatos a prefeito de Vitória realizado nesta sexta-feira (20) não contou apenas com provocações. De vez em quando, algumas propostas foram citadas, principalmente quando os questionamentos partiram dos jornalistas de A Gazeta.
Só que algumas das promessas são, no mínimo, curiosas ou até mirabolantes.
O deputado estadual Assumção (PL), capitão da reserva da Polícia Militar, por exemplo, quer dotar a Guarda Municipal de Vitória de uma agência de inteligência.
"Estaremos entrando com a agência de inteligência municipal, dos mesmos moldes que a agência Mossad atua em Israel", afirmou o candidato do PL, durante o debate.
O Mossad é o Instituto de Inteligência e Operações Especiais de Israel, criado em 1949 meses após a criação do próprio Estado de Israel.
É um serviço secreto, como a CIA, dos Estados Unidos, ou o MI6, do Reino Unido.
"Com um orçamento anual de cerca de US$ 3 bilhões e uma equipe de aproximadamente 7 mil funcionários, o Mossad é considerado por especialistas em segurança e inteligência como a segunda maior agência de espionagem do Ocidente, depois da CIA", como mostra reportagem da BBC.
O Mossad ficou sob os holofotes recentemente por, supostamente, estar por trás da explosão de pagers e walkie-talkies no Líbano.
Os aparelhos são usados por membros do grupo extremista armado Hezbollah.Cerca de 30 pessoas morreram e 3 mil ficaram feridas devido às explosões.
Mas, enfim, como a guarda de Vitória se transformaria num Mossad municipal?
A prefeitura já tem uma Gerência de Integração e Inteligência, ligada à Secretaria Municipal de Segurança Urbana, que "promove a coleta, a busca e a análise de dados de segurança, realizam levantamentos, organizam e exploram as informações locais sobre a criminalidade".
Mas, até onde se sabe, isso não tem nada a ver com alta espionagem, tramas internacionais e dispositivos explosivos remotos.
O próprio Assumção, no debate, lembrou que "a guarda municipal ainda não tem a atividade policial discriminada no artigo 144 da nossa Constituição (Federal)".
Ou seja, a ideia do Mossad-Vix está muito além das competências legais da Guarda.
O HOSPITAL DA VALE
O candidato Du (Avante) teve que explicar, no debate, uma proposta que ele já havia apresentado na campanha: o Hospital do Cais.
A ideia é transformar o Cais das Artes, que ainda está em construção na Enseada do Suá, em um hospital.
Só que o prédio foi concebido para ser um espaço cultural e a obra é do governo do Espírito Santo, sem nenhum vínculo com a prefeitura.
No debate, Du insistiu no "Hospital das Artes" (errou o nome da própria proposta, que é Hospital do Cais) na Enseada e afirmou que a cena artística ficaria melhor no Centro de Vitória.
Procurei o estado, sei que ali é do governo do estado. Tive respostas, inclusive: 'Como não pensamos nisso antes?'".
Não foi essa a resposta que a Secretaria Estadual de Cultura deu à reportagem de A Gazeta, em agosto.
O "ideal", de acordo com Du, seria a Prefeitura de Vitória administrar o hospital, o que não sei se seria legalmente e financeiramente possível.
Mas o candidato do Avante, que é empresário, foi além.
Ao falar sobre o Hospital do Cais (ou das Artes), no qual seria possível chegar por terra, água e ar, ele também defendeu que a Vale, a mineradora, construa um hospital em Vitória, "por conta dela, para atender a população".
Ele disse que essa ideia existe desde 2013.
Por que uma empresa privada construiria e manteria um hospital? E por que meios ela seria obrigada ou convencida a fazer isso?
Ok. O problema da poluição do ar em Vitória é real, mas se a solução é o "Hospital da Vale", não há muitas esperanças.
ESCOLA CÍVICO-MILITAR
Em 2020, logo após ser eleito, o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), afirmou que pretendia implantar escolas cívico-militares na cidade.
O projeto, entretanto, nunca foi concretizado e arrefeceu ainda mais depois que o governo Lula (PT), em julho de 2023, decidiu encerrar o incentivo federal a essas unidades.
Estados e municípios, entretanto, têm autonomia para criar esse tipo de instituição, se quiserem.
O benefício ou não da educação militar é uma questão sobre a qual vale refletir.
Os alunos de escolas cívico-militares têm, em média, bom desempenho devido à rígida disciplina e aos professores fardados ou por que, via de regra, essas escolas contam com um investimento maior que as demais e adotam um sistema de seleção de estudantes antes da matrícula?
E, se reeleito, Pazolini vai implantar escolas cívico-militares em Vitória? A coluna perguntou ao prefeito, no debate.
Não seria uma iniciativa mirabolante, mas controversa.
"Se for da vontade dos pais, se houver número suficiente, expressivo, se essa demanda estiver presente e se nós tivermos condições técnicas e legais para prosseguirmos, assim o faremos", respondeu Pazolini.
Mas a probabilidade é baixa: "Vai ser muito mais difícil, sem o governo federal".
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