O ex-deputado federal Roberto Jefferson, que estava em prisão domiciliar após incitar ataques contra membros do Supremo Tribunal Federal, disparou tiros de fuzil e jogou granadas em policiais federais que chegaram à casa dele para levá-lo a um presídio.
Como não havia cumprido as medidas cautelares necessárias à manutenção da prisão domiciliar, ele perdeu o benefício. Em resposta, cometeu o atentado e feriu policiais, no domingo (23). Foi para o presídio, de qualquer forma, e indiciado por tentativa de homicídio.
Jefferson é apoiador do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), assim como Manato (PL), que disputa o governo do Espírito Santo. Para complicar, o ex-deputado é presidente de honra do PTB, partido do vice do candidato local do PL, Bruno Lourenço.
"Sou totalmente contra a violência. Decisão judicial tem que se cumprir. No estado democrático tem os poderes têm que ser respeitados (...) acho que ele (Jefferson) está um tanto quanto desequilibrado para tomar uma atitude dessa. Sou veemente contra, ele teve um erro grave", afirmou Manato, em entrevista à Rádio CBN Vitória e a A Gazeta nesta segunda-feira (24).
O candidato foi questionado também sobre o fato de se aliar a partidos que têm figuras como Jefferson, que, além disso tudo, foi condenado por participação no mensalão.
"O PTB aqui é o Bruno Lourenço, é o Assis (Tenente Assis, que foi candidato a deputado federal). É com essas pessoas que eu sempre tive negociação. E a participação deles na negociação é a vice e acabou, não tem cargo, não tem nada. Nunca tive reunião com Roberto Jefferson", complementou o candidato.
"O que vamos falar então do PSB (partido do governador Renato Casagrande), que o líder maior é do PT? Um vagabundo, um ladrão, que já foi preso?", questionou, retoricamente.
O presidente nacional do PL, partido de Manato, Valdemar Costa Neto, também já foi preso e condenado no mensalão. Lembrado desse fato pela coluna, o candidato respondeu:
"Eu fui condenado? Eu sou ficha limpa! (...) As lideranças nacionais não vão opinar aqui", garantiu.
Em julho, Assis disse que esperava que Roberto Jefferson pudesse participar da convenção do PTB no Espírito Santo, avaliava que logo ele estaria em liberdade.
O partido, na ocasião, preparava-se para indicar o vice na chapa de Manato. Jefferson seguiu preso e não compareceu à convenção.
Manato, no próprio domingo, condenou a atitude de Roberto Jefferson. Inicialmente, em tom condescendente.
"Sabemos tudo que vem passando Roberto Jefferson, mas nada justifica a violência, principalmente contra agentes públicos", escreveu o candidato do PL, no Twitter.
Horas depois, foi mais enfático: "Em meu governo, quem atirar em policiais ou tentar intimidar agentes da lei terá resposta na mesma proporção"
Casagrande usou o episódio, ainda no domingo, para ligar Manato ao caso. "O meu adversário tem um vice indicado pelo Roberto Jefferson, que hoje tentou matar um policial federal", escreveu, no Twitter.
O vice, Bruno Lourenço, é o presidente estadual do PTB, embora Assis seja a figura mais proeminente do partido, informalmente, já que militares da ativa não podem se filiar.
Manato frisou, na entrevista desta segunda, que a escolha do companheiro de chapa coube ao próprio candidato ao governo, sem interferência de Roberto Jefferson.
REAÇÕES
As reações de apoiadores de Bolsonaro ao atentado de Jefferson foram contraditórias nas redes sociais. Inicialmente, defenderam o ex-deputado federal, chamando-o de herói e patriota por ter resistido a uma decisão do Supremo Tribunal Federal, instituição que é alvo dos bolsonaristas.
Quando o próprio presidente da República condenou o ataque de Jefferson a policiais, o discurso mudou da água para o vinho.
O influencer Rodrigo Constantino, por exemplo, republicou, às 13h20 de domingo, um vídeo do ex-deputado justificava o fato de ter atirado contra os policiais e exortava apoiadores à violência e ao descumprimento de decisões judiciais. Constantino considerou "impactante essa mensagem". E ainda chamou a Polícia Federal de Gestapo, a polícia nazista.
Depois, aplaudiu o repúdio de Bolsonaro a Jefferson e tentou ligar o ex-deputado ao ex-presidente Lula (PT). Eles já foram aliados, realmente. Mas nos últimos tempos Bob Jeff, como é conhecido, abraçou a cartilha bolsonarista.
Como foi impedido de disputar a Presidência da República, escalou o padre Kelmon em seu lugar. Kelmon, nos debates do primeiro turno, serviu de linha auxiliar de Bolsonaro para atacar Lula. No dia da eleição, padre Kelmon pediu votos para Bolsonaro.
Neste domingo, apareceu, todo paramentando, à casa de Roberto Jefferson em meio à negociação para que o aliado se entregasse à polícia.
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