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O desafio de Casagrande para unir esquerda e direita no ES

Governador apela aos eleitores que o comparem ao adversário Manato. Estratégia do candidato do PL, entretanto, é colar em Bolsonaro

Vitória
Publicado em 25/10/2022 às 16h21
Sabatina com o candidato ao governo do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB)
A âncora da CBN Vitória Fernanda Queiroz, o colunista Abdo Filho, o governador Renato Casagrande, a colunista Letícia Gonçalves e o colunista Leonel Ximenes em entrevista na Rede Gazeta. Crédito: Vitor Jubini

O ex-deputado federal Carlos Manato (PL), que disputa no segundo turno o Palácio Anchieta contra o governador Renato Casagrande (PSB), tem apostado todas as fichas na associação com o presidente Jair Bolsonaro (PL). Até o slogan dele é "o governador de Bolsonaro".

Mesmo já tendo pertencido aos quadros do PDT, um partido de esquerda, o ex-parlamentar adotou o bolsonarismo nos últimos anos e agora fala contra "a esquerda festiva", "os vermelhos" e ressalta que "nossa bandeira jamais será vermelha".

No primeiro turno, a estratégia de campanha foi falar para fora da bolha. Como Bolsonaro teve 52% dos votos no Espírito Santo, na segunda etapa a ideia é inflar a bolha bolsonarista.

Casagrande, por sua vez, tem "alertado" contra o que considera o despreparo de Manato e o "retrocesso" que ele representa.

Como não pode abrir mão dos eleitores bolsonaristas, o governador adota um tom conciliador, de união, que o impede de criticar o presidente da República para não melindrar o eleitor conservador capixaba.

"Sempre fui respeitoso com quem pensa igual e com quem pensa diferente. Vocês nunca me viram desrespeitando qualquer presidente da República. Posso discordar, discordo com respeito", afirmou nesta terça-feira (25), em entrevista a A Gazeta e à Rádio CBN Vitória.

"Tenho apoiadores que votam em Casagrande e votam em Bolsonaro. E apoiadores que votam em Casagrande e votam no presidente Lula", ressaltou.

"Vou somar esforços com qualquer que seja o presidente da República", complementou.

O socialista se apresenta como o único que pode se relacionar com Lula (PT) ou Bolsonaro, uma vez que Manato chama o petista de "ladrão" e usa adjetivos pouco abonadores.

Renato Casagrande (PSB)

Governador do Espírito Santo e candidato à reeleição

"Vou levar valores para esse estado, não o debate ideológico. Não vou dividir esse estado entre esquerda e direita"

Casagrande é um homem partidário, fiel ao PSB e pode ser descrito como um político de centro-esquerda. Ele declarou voto no ex-presidente Lula, mas, na campanha, praticamente ignora o petista.

Uma exceção é o futuro presidente da Câmara de Vitória, Armandinho Fontoura (Podemos), que está no palanque de Manato e de Bolsonaro.

"Tenho valores cristãos, valores de família, valores da administração pública", afirmou Casagrande.

Menções ao cristianismo e à família são caras ao bolsonarismo, ainda que, na maioria das vezes, isso se restrinja ao discurso, sem reverberação prática.

"Peço sua ajuda para a gente não ter nenhum retrocesso", alertou, mais uma vez, o governador.

Na entrevista a A Gazeta ele lembrou que os bispos da Igreja Católica se manifestaram contra isso, embora a carta dos religiosos não tenha citado nomes de candidatos.

O governador também passou a incorporar palavras que, até então, ao menos publicamente, não faziam parte do vocabulário dele.

Casagrande agora diz, frequentemente, que "bandidos não vão se criar" no Espírito Santo. E, em entrevista à TV Gazeta, afirmou que criminosos, se não fugirem do estado, "vão ser presos ou vão para o IML".

Questionado pela coluna nesta terça a respeito dessa mudança, digamos, semântica, o socialista saiu pela tangente.

"Surgiram suspeitas por que tantos eventos estão surgindo neste período", deixou no ar.

Na entrevista, foram lembrados o assalto a banco em Santa Leopoldina; os incêndios criminosos em ônibus em Vitória; o assassinato de dois policiais em Cariacica e o sequestro do filho de um empresário.

Tudo isso em meio à eleição. O governador diz que não há provas de qualquer motivação político-eleitoral por trás dos episódios, mas suspeitas, sim.

Ao explicar a afirmação em relação ao "IML", que soa similar ao bordão "bandido bom é bandido morto" dos bolsonaristas (que só querem a morte de alguns bandidos, frise-se), Casagrande afirmou o seguinte:

"O bandido, no enfrentamento com os policiais, corre risco de vida. Não queremos tirar a vida de ninguém. Só Deus tem essa permissão. Mas, no enfrentamento com a polícia, os policiais correm risco e os líderes criminosos também".

"Lamentamos muito a morte de dois jovens policiais. Usamos instrumentos tecnológicos novos e, em menos de 24 horas, todos os episódios foram resolvidos pelas forças policiais", destacou.

E é justamente a área da segurança pública, muito criticada pelo adversário, que o governador usa para fazer mais um "alerta".

"Os cariocas (na verdade, não só eles, mas os fluminenses) entraram numa aventura, elegeram o Witzel. A eleição do Witzel fez com que as milícias tomassem mais conta das comunidades ainda. Depois ele foi afastado do governo do estado", exemplificou, ao falar do ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel.

"Não entre numa aventura. Conheça os candidatos e os projetos. Para construir é demorado, para destruir é num piscar de olhos". Essa última frase tem sido quase um mantra do socialista.

A pedra no sapato de Casagrande é o bolsonarismo.

Se a estratégia de Manato colar e as pessoas votarem nele apenas por ser o candidato do presidente da República, a comparação entre os nomes que concorrem ao governo do estado vai ficar em segundo plano, ou em plano algum.

Além disso, a campanha do socialista pode estar pecando em um ponto.

O fato de Manato ter sido associado à Scuderie Le Cocq, um grupo de extermínio famoso nos anos 1990, tem sido um dos principais motes dos ataques de Casagrande ao adversário.

E vai além. Devido à essa filiação, o socialista diz que o candidato do PL local é ligado ao crime organizado. A Justiça Eleitoral chegou a proibir a campanha dele de usar esse artifício.

Manato admitiu ter se associado à Le Cocq, mas diz que fez apenas filantropia na entidade. "Nunca vi Le Cocq fazer filantropia", afirmou Casagrande, voltando ao assunto, na entrevista desta terça-feira.

O ex-procurador da República Henrique Herkenhoff, que atuou na campanha de Paulo Hartung em 2014, saiu em defesa de Manato e afirmou que o candidato do PL não cometeu crimes relacionados à Le Cocq.

De qualquer forma, é provável que parte dos eleitores nem lembre o que foi o esquadrão da morte.

PAULO HARTUNG

Por falar em Paulo Hartung, Casagrande disse, indiretamente, que não procurou o adversário em busca de apoio contra Manato.

"O ex-governador Paulo Hartung tem maturidade e responsabilidade para saber o que faz no processo eleitoral. Fica muito ruim, pelo tamanho da liderança dele, a gente ficar fazendo qualquer tipo de articulação", afirmou.

"Ele (Hartung) está acompanhando, naturalmente, e vendo o que está acontecendo", complementou.

O ex-governador não declarou em quem pretende votar no segundo turno, se Lula ou Bolsonaro e tampouco se Casagrande ou Manato.

Aliados de Hartung, entretanto, estão no palanque do candidato do PL, a exemplo do empresário Aridelmo Teixeira (Novo) e do ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon (PSD).

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