Assim como o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o governador reeleito do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), escolheu um vice querido pelo mercado e com histórico no PSDB. Alckmin já deixou o ninho tucano, está no PSB, mas ficou 33 anos lá.
Ricardo Ferraço, por sua vez, também tem uma trajetória tucana. Nos últimos anos teve passagem pelo DEM (que depois fundiu-se ao PSL, tornando-se o União Brasil), mas já retornou à antiga legenda.
O tucano local também tem perfil de centro-direita, assim como Alckmin. Nem tudo são coincidências. O vice de Lula assumiu um protagonismo crescente, mas já era exibido com frequência desde o primeiro turno das eleições de 2022.
Ricardo, por outro lado, estava praticamente desaparecido das peças de campanha de Casagrande. Até que, no segundo turno, tudo mudou. Ele teve vez no horário eleitoral e o então candidato do PSB avisou que, se reeleito, o vice teria um papel de destaque na gestão.
Em encontro com empresários, boa parte deles representante da maior fatia do PIB capixaba, Casagrande deixou claro que Ricardo Ferraço coordenaria áreas sensíveis, como Desenvolvimento econômico, Agricultura e Meio ambiente.
Após a vitória nas urnas, veio a confirmação. O vice não apenas vai ficar de olho nessas pastas como também comandar uma delas, a de Desenvolvimento. Um supersecretário, portanto.
Ricardo também é consultado sobre a escolha dos demais secretários. E Casagrande garantiu que o vice vai ter ascendência sobre todo o primeiro escalão.
Enquanto isso, Alckmin é o principal nome da transição de Lula. É ele quem anuncia os nomes da equipe que prepara o início do próximo governo e é um dos principais interlocutores do petista.
CADA UM COM SUAS BATALHAS
Uma diferença primordial, aí não em relação a Alckmin e Ricardo e tampouco entre Lula e Casagrande, é o cenário em que tudo isso se desenrola.
Lula tem que fazer uma transição entre o futuro governo e o atual, que é comandado, ao menos em tese, por Jair Bolsonaro (PL), seu adversário figadal.
Já Casagrande é sucessor de si mesmo.
O governador já disse que tem até um grupo que cuida da transição, integrado pelo secretário de Planejamento, Álvaro Duboc, pois entende que é preciso preparar o terreno para cumprir promessas de campanha.
O próximo governo tem que ser diferente do atual e, ao mesmo tempo, de continuidade.
O equilíbrio da balança está em mudar algumas coisas que o duro segundo turno disputado por Casagrande mostrou serem necessárias.
MUDANÇAS
Uma delas é pender a balança mais aos anseios da centro-direita, sem desagradar a esquerda. O PT, por exemplo, cobrou na campanha empenho para "incluir os pobres no orçamento".
O governador afirmou à coluna que o novo governo não deve pró-direita. Lembrou que o próprio PT deve ganhar uma secretaria.
Mas o protagonismo de Ricardo indica que a centro-direita também vai ter seu lugar. E no camarote.
Assim como Alckmin, o vice do governador do Espírito Santo é um anteparo a críticas de setores como o empresarial e uma ponte de diálogo com eles.
Cabe frisar que o Espírito Santo é mais bolsonarista que a média do país. E os empresários o são mais ainda.
O fato de Ricardo ficar a cargo de áreas sensíveis a esse público é um afago ao mercado e pode, na prática, dar dinamismo ao Desenvolvimento, à Agricultura e ao Meio Ambiente.
Para Lula, a tarefa é mais árdua. Alckmin não consegue promover afagos sozinho, principalmente quando o próprio Lula emite sinais trocados.
SUCESSÃO
Assim como o vice-presidente eleito, Ricardo já é apontado como um possível sucessor.
Casagrande não pode mais tentar a reeleição e, certamente, vai apoiar alguém em 2026.
O próprio governador já disse que vai empoderar Ricardo, mas negou que faça isso com vistas às próximas eleições gerais.
Até lá, outros nomes podem surgir, evidentemente. Cotado para assumir a Secretaria de Ciência e Tecnologia, o deputado federal não reeleito Felipe Rigoni (União Brasil), por exemplo, é lembrado.
E forças políticas de peso no estado, como o PT e o próprio PSB, não devem ficar de braços cruzados.
O futuro governo Lula nem começou e as apostas sobre quem deve ser o candidato a presidente em 2026 já afetam a equipe. O presidente eleito garantiu que não vai tentar a reeleição, o que aquece os motores da corrida.
Alckmin, a senadora Simone Tebet (MDB) e o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) são alguns dos cotados. Os dois últimos devem ser ministros.
LEIA MAIS COLUNAS DE LETÍCIA GONÇALVES
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.