Para surpresa de ninguém, o governador Renato Casagrande (PSB) foi o alvo certeiro dos adversários no debate realizado pela TV Gazeta na noite de terça-feira (27). O socialista lidera as pesquisas de intenção de voto, com chance de vencer já no primeiro turno.
Aridelmo Teixeira (Novo), Audifax Barcelos (Rede), Carlos Manato (PL) e Guerino Zanon (PSD) podem até não ter combinado o script, nem precisava, mas seguiram a mesma estratégia.
Foi um comportamento natural. Quem está no governo vira vidraça, é do jogo. Ainda assim, a hostilidade chamou a atenção.
Casagrande, diante das bordoadas, esquivou-se e deixou de responder a algumas questões. Pareceu tenso e às vezes apático.
Foi chamado de "mentiroso", "exterminador de futuros" e outros adjetivos pouco abonadores. Pediu vários direitos de resposta.
Os principais flancos abordados pelos adversários foram suspeitas de corrupção no governo estadual – como as que levaram à prisão do ex-secretário da Fazenda Rogélio Pegoretti e à exoneração do então subsecretário de Agricultura Rodrigo Vaccari –; o apoio de Casagrande ao ex-presidente Lula (PT), ainda que o governador não o apoie tanto assim; e críticas às políticas de saúde, educação e segurança.
Dados foram lançados no ar. Casagrande disse que Aridelmo, por exemplo, "tortura os números". O socialista também citou informações da gestão para contrapor a metralhadora dos adversários.
Nos poucos momentos em que decidiu alfinetar os concorrentes, o socialista lembrou que Linhares, cidade comandada por Guerino por cinco mandatos, "não tem rodoviária" e não teve os mesmos bons resultados na redução da taxa de homicídios que o estado alcançou nos últimos anos.
"Está claro que é um jogo combinado", afirmou o governador, referindo-se à estratégia dos adversários.
Audifax fez questão de dizer que não orquestrou nada.
Manato e Guerino insistiram no tema da prisão do ex-secretário da Fazenda. Casagrande, em certo momento, resolveu responder. Disse que a investigação que chegou a Pegoretti foi conduzida pela própria Secretaria Estadual da Fazenda, em parceria com o Ministério Público Estadual, o que é verdade.
"O ex-secretário, se tiver responsabilidade, é culpa dele. Não vou criar constrangimento para quem já foi preso. A Justiça que sabe", pontuou.
O tema do "dinheiro guardado em caixa" voltou à tona. Os concorrentes de Casagrande o acusam de ter recursos e, mesmo assim, não realizar medidas para sanar mazelas sociais.
Audifax aproveitou essa e outras deixas para dizer incessantemente que o atual governador não é gestor e que ele, sim, é.
O socialista repetiu que a população deve tomar cuidado com quem quer "raspar o tacho" e afirmou que o dinheiro do estado não é dele e precisa ser reservado, ao menos em parte, para atender a emergências como desastres provocados por chuvas, compra de vacinas para Covid e compensar a queda de arrecadação provocada pela redução da cobrança de ICMS sobre os combustíveis.
A pandemia de Covid-19, aliás, ganhou destaque. Guerino e Manato, aliados do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), e Aridelmo criticaram as medidas adotadas pelo governo, que levou ao fechamento de estabelecimentos comerciais por um período para incentivar o isolamento social e conter o contágio pelo coronavírus.
"A revolta dos negacionistas é natural. Não pude lavar as mãos, como Pôncio Pilatos. Protegemos a vida das pessoas", defendeu-se Casagrande.
CUBA
Um país que fica a mais de seis mil quilômetros do Espírito Santo foi citado no debate.
"(Casagrande) importou secretário formado em Cuba", afirmou Aridelmo, referindo-se ao titular da Saúde, Nésio Fernandes.
Guerino também criticou "o secretário comunista formado em Cuba". Nésio é filiado ao PCdoB.
É uma retórica que pode funcionar com eleitores de Bolsonaro ou os mais ideologizados, digamos assim, preocupados com "o fantasma do comunismo" e outras teorias da conspiração.
Mas parece um discurso distante do eleitor médio, que, provavelmente, quer saber mais sobre coisas afeitas ao seu dia a dia.
PROPOSTAS
As propostas ficaram em segundo plano, mas apareceram. Como exemplos, Manato quer criar uma nova Ceasa, maior, para ajudar os agricultores; criar o Auxílio Espírito Santo, uma espécie de Auxílio Brasil e usar igrejas e a maçonaria em projetos de assistência social.
Audifax quer reestruturar a Polícia Militar Ambiental e acelerar a gestão, que ele considera lenta. E criar um Vale do Silício capixaba.
Aridelmo quer a volta do programa Escola Viva nos moldes implementados pelo governo Paulo Hartung e acrescentar uma incubadora de inovação nas unidades de ensino.
Guerino quer instituir um curso de residência para professores e investir nos jovens para conter a violência.
Casagrande mais elencou o que fez no atual governo, até para rebater os adversários, num contra-ataque sem a virulência com que foi atingido.
Ele disse que vai microrregionalizar a área da saúde e que o Hospital Geral de Cariacica "vai ficar pronto rapidamente".
OS VICES E UMA AUSÊNCIA
Quase todos os candidatos chegaram à Rede Gazeta acompanhados dos respectivos vices: Aridelmo tem Camila Domingues (Novo); Manato chegou ladeado por Bruno Lourenço (PTB); Guerino levou Marcus Magalhães (PSD) e Audifax destacou a Tenente Andresa (Solidariedade).
Ricardo Ferraço (PSDB), vice na chapa de Casagrande, entretanto, não estava na comitiva do socialista. Aliás, a imagem do tucano não tem sido exibida pela campanha.
Curiosamente, quem usa Ricardo como cabo eleitoral é a deputada estadual Janete de Sá (PSB), que tenta a reeleição. Em vídeos impulsionados no YouTube o ex-senador aparece elogiando a parlamentar.
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