Este é um espaço para falar de Política: notícias, opiniões, bastidores, principalmente do que ocorre no Espírito Santo. A colunista ingressou na Rede Gazeta em 2006, atuou na Rádio CBN Vitória/Gazeta Online e migrou para a editoria de Política de A Gazeta em 2012, em que trabalhou como repórter e editora-adjunta

O tamanho da derrota do partido de Bolsonaro no ES em 2024

PL lançou 50 candidatos a prefeito e elegeu apenas cinco, em cidades pequenas do interior. Veja qual foi a estratégia do partido e o que levou a esse resultado

Vitória
Publicado em 08/10/2024 às 10h26
O ex-presidente Jair Bolsonaro, durante visita ao Espírito Santo para apoiar candidatos do PL nas Eleições 2024
Assumção, Magno Malta, Jair Bolsonaro e Gilvan da Federal em carreata pela Grande Vitória no dia 30 de setembro. Crédito: Fernando Madeira

O PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), apostou alto no Espírito Santo, lançou o maior número de candidatos a prefeito: 50. O resultado nas urnas, porém, foi tímido, para dizer o mínimo. A sigla elegeu apenas cinco, ou seja, 10%. E as vitórias ocorreram em cidades pequenas, do interior do estado.

As conquistas do Partido Liberal ocorreram em Domingos Martins (Edu do Restaurante), Ibatiba (Dr. Luis Pancoti), Muqui (Camarão), Santa Maria de Jetibá (Ronan Fisioterapeuta) e São Gabriel da Palha (Tiago Rocha).

Somando-se a população desses cinco municípios, o PL vai governar 148.429 pessoas no Espírito Santo a partir do ano que vem. Isso corresponde a 3,87% do total de habitantes do estado (3.833.712).

Na Grande Vitória, o desempenho do partido foi um fiasco.

Em Vila Velha, o ex-secretário estadual de Segurança Pública Coronel Ramalho foi escolhido por 42.096 eleitores, o que corresponde a 17,20% dos votos e lhe garantiu o segundo lugar. Ele ficou bem atrás do primeiro colocado, o prefeito reeleito Arnaldinho Borgo (Podemos), que recebeu 193.451 votos (79,04%).

Em Vitória, o deputado estadual Assumção ficou em quarto lugar, com 9,55% dos votos (17.946). O candidato do PL na Capital superou o desempenho que teve em 2020, quando, filiado ao Patriota, foi escolhido por 12.365 eleitores na disputa pela prefeitura da Capital.

Ainda assim, foi um desempenho tímido. Assumção, um político de direita, não conseguiu tirar votos do prefeito reeleito Lorenzo Pazolini (Republicanos), que é de centro-direita e não apelou ao bolsonarismo.

Na Serra, o vereador Igor Elson (PL) recebeu 12.365 votos (7,66%) e ficou em quarto lugar na corrida pela prefeitura.

O pior resultado de um candidato a prefeito do PL, entre as principais cidades da Grande Vitória, deu-se em Cariacica. Ivan Bastos ficou em terceiro e último lugar, com 2,51% dos votos (4.788).

MELHOR RESULTADO EM CACHOEIRO

A cidade em que o PL se saiu melhor, no estado, foi Cachoeiro de Itapemirim, onde Léo Camargo ficou em segundo lugar na corrida pela prefeitura. A curva de crescimento dele já havia sido mapeada pelo Ipec, na sexta-feira (4), mas Léo Camargo surpreendeu e ultrapassou Diego Libardi (Republicanos).

O candidato do PL recebeu 23,09% dos votos (23.861). Libardi, 19,38% (20.030). O prefeito eleito é Theodorico Ferraço (PP), com 42,81% (44.240).

Magno Malta, Coronel Ramalho e Jair Bolsonaro
Magno Malta, Coronel Ramalho, Jair Bolsonaro e Léo Camargo na Prainha, em Vila Velha, no dia 30 de setembro. Crédito: Vitor Jubini

O ex-presidente da República Jair Bolsonaro, maior liderança do partido, esteve no Espírito Santo na reta final da campanha de 2024. Em comício realizado na Prainha, em Vila Velha, pediu votos para Ramalho, Assumção… para os candidatos do PL, enfim.

Não fez milagre, como a coluna havia previsto.

QUE ESTRATÉGIA FOI ESSA?

Em 2024, o PL decidiu lançar 38 candidatos a prefeito a mais do que havia lançado em 2020.

Quatro anos atrás, o Partido Liberal teve 12 postulantes a prefeituras capixabas. Agora, com o recorde de 50 candidatos, a sigla tinha tudo para fazer barba, cabelo e bigode no pleito, certo?

Errado. Antes que o resultado da primeira urna de 2024 fosse apurada, integrantes do próprio PL já pressentiam que o resultado não seria nada bom para os candidatos a prefeito da legenda. E não apenas porque as pesquisas de intenção de voto já indicavam isso.

É que, por ordem do presidente estadual da sigla, o senador Magno Malta, o PL ficou isolado na maioria das cidades, sem poder coligar com partidos que, para Magno, são “direitinha”, ou seja, não são de direita o suficiente, por dialogarem e não serem sectários.

A estratégia do senador foi, justamente, abraçar o rótulo de radical e enfatizar o discurso do “nós contra eles”, sendo que na categoria “eles” colocou até PP e Republicanos, partidos de centro-direita que têm crescido no Espírito Santo.

E os candidatos a prefeito imitaram esse discurso, tentaram nacionalizar a eleição, apresentaram-se como bolsonaristas, combatentes da esquerda e opositores do presidente Lula (PT), apostando que temas nacionais seriam decisivos num pleito que, tradicionalmente, é pautado por assuntos locais.

Foi a aposta errada. Ao menos se o objetivo era mesmo eleger prefeitos.

“2026 PASSA POR 2024”

O presidente estadual do PL enfatizou, durante a campanha, que “2026 passa por 2024” e, instado a elencar as prefeituras prioritárias para o partido, nem se deu o trabalho de elencá-las. Todas eram igualmente importantes, de acordo com ele.

A estratégia não era geográfica e sim temporal, pensando em 2026. Não é raro que partidos lancem candidaturas já pensando no próximo pleito.

Derrotados de 2024 ganharam visibilidade e podem tentar cargos como os de deputado estadual ou federal daqui a dois anos.

Mas também correm o risco de terem saído menores do que entraram, o que não tem como ser positivo.

Por isso, durante a campanha, a coluna ouviu diversas críticas de filiados ao próprio PL à forma como Magno conduziu o partido a esse destino. Basicamente, quem manda no partido é ele e a vontade do senador prevaleceu.

A não ser em alguns casos.

COLIGAÇÕES PROIBIDONAS

Dos cinco prefeitos eleitos pelo PL no Espírito Santo, três conseguiram a vitória após se aliar a partidos que haviam sido barrados oficialmente pelo presidente estadual da legenda.

No palanque de Tiago Rocha, em São Gabriel da Palha, estavam Podemos, PSDB, Cidadania, PRD, Republicanos, PRTB, Novo e PL. Somente os últimos três estavam liberados por Magno.

Em Muqui, Camarão obteve a vitória com os apoios de Republicanos, PP, PSDB e Cidadania. Todos “proibidões”. Apenas PL e Agir, eram os membros “legalizados” da coligação.

Por fim, em Ibatiba, Luis Pancoti foi eleito prefeito com a ajuda dos “barrados” PP, Podemos e PSD. Novo e DC, além, obviamente, do PL, compuseram a coligação.

Edu do Restaurante, em Domingos Martins, foi eleito coligado apenas com PL e Novo.

Foi um feito e tanto, pois ele superou três adversários, sendo um deles Fabinho Trarbach (PSD), que contava com os apoios do atual prefeito da cidade, Wanzete Kruger (PSD), do governador Renato Casagrande (PSB) e do ex-governador Paulo Hartung (sem partido).

Em Santa Maria de Jetibá, Ronan Fisioterapeuta foi outro que conseguiu a vitória mesmo isolado partidariamente. A coligação dele contou apenas com o PL e o nanico PRTB.

VEREADORES DE TORNOZELEIRA

Se na corrida pelas prefeituras da Grande Vitória o PL foi um fiasco, ao menos nas Câmaras de três das quatro principais cidades o partido conseguiu emplacar vereadores.

Em Vitória, o PL vai contar, a partir do ano que vem, com dois representantes: Armandinho Fontoura e Darcio Bracarense.

Em Vila Velha, com Devacir Rabelo, Pastor Fabiano e Patrick da Guarda.

E na Serra, foi eleito Pastor Dinho Souza.

Em Cariacica, o PL não elegeu nenhum vereador.

Armandinho, em Vitória, e Fabiano, em Vila Velha, usam tornozeleiras eletrônicas por determinação do Supremo Tribunal Federal, são investigados no Inquérito das Fake News.

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