Em 2018, o ex-deputado federal Carlos Manato (então filiado ao PSL) foi candidato ao governo do Espírito Santo pela primeira vez, após uma série de mandatos na Câmara dos Deputados.
Apresentou-se como um "kamikaze de Bolsonaro", ao decidir não disputar a reeleição para o Legislativo. A missão era concorrer ao Palácio Anchieta para garantir um palanque local a Jair Bolsonaro (também então integrante do PSL), deputado federal que pretendia chegar à Presidência da República.
Manato ficou em segundo lugar no pleito, com 525.973 votos, o equivalente a 27,22%.
Renato Casagrande (PSB) foi eleito no primeiro turno, escolhido por 1.072.224 eleitores (55,49%).
Bolsonaro foi o mais votado no estado naquele ano. No segundo turno, sagrou-se vencedor no país.
Nos últimos quatro anos, o ex-deputado federal capixaba ficou na planície, teve uma breve passagem pelo segundo escalão do governo federal, presidiu o PSL local e, depois, saiu da legenda, seguindo o mesmo rumo do presidente da República. Ingressou no PL.
Manato já foi do PDT, um partido de esquerda, e do Solidariedade, do sindicalista Paulinho da Força, mas, desde 2016, vestiu-se da alma do bolsonarismo.
Foi esse perfil que ele exibiu em 2022, ao tentar, novamente, o governo do Espírito Santo. Desta vez, levou a disputa ao segundo turno, algo que não acontecia no estado desde 1994. No primeiro turno, chegou a 38,48% dos votos.
No fim das contas, perdeu. Mas a votação do ex-deputado dobrou, considerando os números deste domingo (30), em comparação a 2018.
Foram 1.006.021 votos (46,20%). Casagrande foi reeleito com 1.171.288 (53,80%).
Assim, o capital político do filiado ao PL aumentou. Isso pode cacifá-lo para disputas futuras.
Em entrevista à Rádio CBN Vitória logo após o resultado das urnas, Manato disse a esta colunista e aos jornalistas Abdo Filho, Leonel Ximenes e Fernanda Queiroz que não tem planos eleitorais.
Nem para 2026, quando vai ser realizada a próxima eleição para o governo do estado, nem para 2024, em que os comandos das prefeituras vão estar em jogo.
Apesar da votação expressiva, há alguns problemas para Manato, caso ele decida ser candidato novamente.
O ex-deputado passou quatro anos sem mandato. Vai ficar, no mínimo, mais dois na planície.
Se quiser concorrer à Prefeitura de Vitória, por exemplo, há outras pessoas no exercício do mandato que, em tese, teriam mais visibilidade para fazê-lo, a exemplo dos correligionários Capitão Assumção e Gilvan da Federal.
A outra questão, que afeta não apenas Manato, mas todos os bolsonaristas é: Jair Bolsonaro perdeu a eleição para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no país.
O resultado foi apertado, 50,90% contra 49,10% dos votos. Considerando que a máquina pública foi usada como nunca – sim, já foi usada em outros pleitos, mas não na proporção em que ocorreu agora – a vitória de Lula não deve ser minimizada, mas tampouco deve servir para estancar de vez o bolsonarismo, que é um conjunto de valores que vai além do próprio Bolsonaro.
No Espírito Santo, isoladamente, o presidente venceu. Aliás, se dependesse apenas dos eleitores do estado, ele teria sido reeleito no primeiro turno, com 52% dos votos. No segundo, alcançou 58,04%. Venceu, entretanto, a estratégia CasaNaro, ou Bolsogrande, em que eleitores escolheram Casagrande e Bolsonaro.
A ausência do líder tem impacto local. Manato e aliados iriam remar contra maré sob os governos Casagrande e Lula.
LÓGICA LOCAL
Em 2020, simplesmente ser bolsonarista não garantiu a vitória de ninguém. O eleitor colocou em primeiro lugar as necessidades locais e não as questões nacionais ou preferências ideológicas.
Assumção, por exemplo, concorreu à prefeitura da Capital e ficou em quarto lugar.
Lorenzo Pazolini (Republicanos) fez história ao se eleger. Quebrou uma sequência de prefeitos de esquerda na cidade.
Apesar de ser de direita, entretanto, o delegado da Polícia Civil não abraçou declaradamente o bolsonarismo e, assim, foi bem sucedido.
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