Disputa? Que disputa? Se questionados, deputados estaduais eleitos ou reeleitos lembrados como possíveis candidatos à presidência da Assembleia Legislativa do Espírito Santo dizem que não há nem conversas a esse respeito, que ainda é cedo.
A nova Mesa Diretora vai ser eleita em 1º de fevereiro de 2023, mesma data da posse dos parlamentares. Mas, nos bastidores, a movimentação corre solta.
Os três cotados, hoje, são: o deputado estadual reeleito Marcelo Santos (Podemos), o ex-prefeito de Vitória João Coser (PT) e o ex-secretário Tyago Hoffmann (PSB). O petista e o socialista, no ano que vem, vão ocupar cadeiras no Legislativo estadual.
Os três, em maior ou menor grau, são aliados do governador Renato Casagrande (PSB). O chefe do Palácio Anchieta, também quando questionado, responde que esse é um assunto da Assembleia, no qual não cabe ao Executivo interferir.
Mas certamente vai interferir, sim. E o motivo é óbvio: é importante para o governo que a pessoa que define a pauta e conduz as votações no Legislativo seja aliada ou ao menos não faça oposição à gestão. Do contrário, os projetos emperram.
Se o resultado das urnas no segundo turno fosse diferente e Manato (PL) tivesse levado a melhor sobre Casagrande, certamente os nomes cotados como possíveis candidatos a comandar a Assembleia seriam outros.
Aliás, antes da eleição, o mais provável é que o plural se transforme em singular. Via de regra, apenas uma chapa disputa a Mesa Diretora, formada por presidente, vice e secretários. Assim, o resultado é conhecido antes mesmo da votação, com possíveis variações no placar.
MARCELO SANTOS
O deputado estadual foi fortalecido pelo desempenho nas urnas, recebeu cerca de 22 mil votos a mais em outubro em comparação com os que ganhou em 2018 – passou de 19.595 para 41.627 votos.
Como já mencionado, esteve ao lado de Casagrande no atual mandato, mas também é aliado do presidente da Casa, Erick Musso (Republicanos), cujo mandato se encerra em 31 de janeiro.
Erick adotou uma postura de oposição ao governador, até chegou a ser pré-candidato ao Palácio Anchieta. Disputou o Senado, sem sucesso e, no segundo turno, apoiou Manato.
Marcelo teve atuação destacada no famigerado episódio da eleição antecipada da Mesa Diretora, que tentou reconduzir Erick à cadeira antes da hora, em 2019, contrariando o Palácio Anchieta.
O deputado do Podemos, na época filiado ao PDT, presidiu a sessão. Ele é o vice-presidente da Casa.
Depois de receber diversas críticas, o próprio Erick recuou e a eleição foi anulada. Marcelo, também após todo o acontecido, avaliou que foi um erro do colega antecipar o pleito.
Mais recentemente, o deputado fez algumas observações sobre o governo estadual. Em conversa com a coluna na última segunda-feira (21), por exemplo, criticou o fato de o PSB ter muito espaço e influência na gestão.
Ou seja, o deputado é aliado do governador, mas não tanto quanto os outros postulantes à presidência da Assembleia.
Por outro lado, Marcelo teria mais facilidade para lidar com os demais 29 parlamentares, o que seria bom para o governo. A maior bancada é formada pelo PL, que conta com cinco cadeiras.
Coser e Hoffmann dificilmente teriam diálogo facilitado com esse grupo, integrado, entre outros, por Capitão Assumção.
O deputado do Podemos não se diz candidato a presidente. Ao contrário. Mas deixa uma brecha. Avalia que, se a maioria dos deputados entrar em consenso, ele aceita a tarefa.
TYAGO HOFFMANN
Aliado de primeira hora de Casagrande, o ex-secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação, Educação Profissional e Desenvolvimento Econômico, Hoffmann fazia parte do núcleo duro do governo.
Não à toa era o titular da Sectides, conhecida como supersecretaria. Pelo critério de afinidade com o governador, ganha de Marcelo e Coser.
Quando o assunto é o relacionamento com os deputados, entretanto, a popularidade diminui.
Antes mesmo de ser eleito, o fato de o então secretário gozar de muito prestígio no governo causou "ciúmes" e críticas públicas em discursos na Assembleia.
Os deputados já vislumbravam que, com a ajuda da máquina estatal, em breve Hoffmann estaria no Plenário, entre eles. E assim foi.
Veja também
Outro senão é que seria difícil justificar que o PSB mantivesse, ao mesmo tempo, as chefias do Executivo e do Legislativo.
Ainda mais considerando que, para vencer a disputa acirrada, Casagrande contou com apoios de diversos partidos e lideranças políticas, que vão cobrar a fatura.
Hoffmann afirmou à coluna, como é praxe, que não tem conversado sobre a eleição da Mesa.
Outros deputados contam que ele chegou a se movimentar, mas fez uma pausa estratégica.
JOÃO COSER
Coser é próximo a Casagrande, apesar de ter sido secretário do adversário político dele, o então governador Paulo Hartung.
O PT esteve no palanque do governador desde o primeiro turno, até retirou a candidatura do senador Fabiano Contarato ao Palácio Anchieta em prol dessa composição.
E não levou a vaga de candidato ao Senado pelo bloco nem tampouco a de vice-governador.
Poderia, portanto, pleitear um espaço agora, contando com a ajuda do Executivo.
Deputados consultados pela coluna dizem que Coser movimenta-se mais abertamente que Hoffmann, mas apenas nos bastidores.
O ex-prefeito afirmou à coluna que é cedo para tratar da eleição para o comando do Legislativo.
OUTRA ELEIÇÃO
Outra eleição, a de 2024, pode interferir desde já na Assembleia. Na Casa, há possíveis candidatos à Prefeitura de Vitória, entre eles Coser.
Uma fonte da coluna avalia que Denninho Silva, que deve assumir a presidência municipal do União Brasil, é outro potencial candidato a prefeito, embora hoje seja aliado do atual chefe do Executivo municipal, Lorenzo Pazolini (Republicanos).
Logo, seria difícil Denninho, deputado estadual eleito, apoiar a candidatura de Coser à presidência da Assembleia. Seria fortalecer um potencial adversário ou do próprio Denninho ou de Pazolini.
LEIA MAIS COLUNAS DE LETÍCIA GONÇALVES
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.