O deputado federal Felipe Rigoni saiu do PSB e ingressou no União Brasil, partido que resultou da fusão de DEM e PSL, e já assumiu a presidência da legenda no Espírito Santo. Não sem contratempos. Com menos de uma semana no posto já tem que conter uma possível debandada, que inclui a família Ferraço e deputados estaduais descontentes. Tudo isso ainda tentando emplacar uma candidatura ao governo do estado, a dele mesmo.
Inicialmente, quem comandaria o União Brasil estadual seria o ex-senador Ricardo Ferraço, mas por intervenção da direção nacional do partido, a sigla foi para as mãos de Rigoni. O deputado e o ex-senador se desentenderam.
Para Ricardo, de acordo com o próprio Rigoni, seria melhor que o pré-candidato ao governo do estado recuasse e disputasse a reeleição, facilitando a montagem de chapa de candidatos à Câmara Federal.
Deputados estaduais, principalmente os mais próximos ao governador Renato Casagrande (PSB), como aliás o é Ricardo Ferraço, não querem endossar o pleito de Rigoni ao Palácio Anchieta. Também apontam dificuldade para formar chapas proporcionais.
"Com o Ricardo presidente, a ideia era Rigoni vir a federal, aí viria também a Norma (Ayub) à reeleição e chamaríamos ainda a Lauriete (deputada federal que está no PSC). Agora, fica difícil", resumiu o deputado estadual Coronel Alexandre Quintino, aliado de primeira hora de Casagrande. Ele está de malas prontas para sair do União Brasil. É pré-candidato à reeleição na Assembleia.
Rigoni convocou uma entrevista coletiva nesta segunda-feira (14), que precedeu o ato de lançamento da pré-campanha dele, marcada para o próximo dia 17. Ressaltou que vai trabalhar para impedir a saída de deputados e da família Ferraço, que inclui Theodorico, Norma e Ricardo.
Mas, se a tentativa resultar infrutífera, não vai se furtar em atrair outros quadros, tendo como prioridade o desenho das chapas para eleger deputados estaduais e federais.
Parece um contrassenso e é. A janela partidária, período em que deputados podem trocar de partido sem risco de perder o mandato, está aberta e o mercado político em polvorosa. Justamente agora o recém-criado União Brasil mostra desunião, um clima de barata-voa que Rigoni vai ter que administrar.
Para além das questões pragmáticas, Rigoni tem um plano. Quer ser governador, ainda que momentaneamente isolado no próprio partido, e repetiu que o ciclo de Renato Casagrande e Paulo Hartung na história política do Espírito Santo chegou ao fim. Algo que tem dito em entrevistas recentes.
O deputado foi eleito, em 2018, com apoio do atual governador, mas afirmou que preparar o estado para o próximo ciclo, que ele demarca em 20 anos, está à frente das relações pessoais.
Também não faltou, na coletiva, a menção a políticas públicas baseadas em evidências, quase um mantra de Rigoni. Ele apresentou um manifesto e quer imprimir eficiência estatal, digitalização dos serviços públicos e um novo ciclo de desenvolvimento econômico no estado.
É um plano ambicioso, mas para tirá-lo do papel precisa primeiro convencer os aliados, aliás, obter aliados.
Rigoni não parece ter pressa. Disse que somente vai procurar outros partidos para a empreitada quando o plano de governo estiver pronto, em junho.
"Ele fica falando isso de junho, mas eu não tenho até junho para mudar de partido", alfinetou Quintino à coluna.
Questionado pela coluna se poderia recuar da candidatura ao Palácio Anchieta e tentar a reeleição, o deputado federal respondeu que só trabalha com plano A.
"Paulo Hartung e Casagrande colocaram o estado nos trilhos. Está na hora de colocar o Espírito Santo na pista de decolagem", resumiu.
Ele não se considera oposição a Casagrande, embora tenha se colocado na rota como adversário, e diz que não foi estimulado por Paulo Hartung a disputar, mas não despreza o eventual apoio dele.
PROVISÓRIA
O União Brasil não tem um diretório estadual formado, apenas uma comissão provisória, e o mesmo modelo deve se repetir na organização municipal da legenda. Rigoni não tem um prazo, um mandato à frente da sigla.
Não foi eleito e sim designado, mas ao menos até o final do ano deve comandar o partido no Espírito Santo, sendo responsável, inclusive, por decidir quem vai dar as cartas em nome da sigla nas cidades.
LUIZ PAULO COORDENA PLANO
O ex-prefeito de Vitória Luiz Paulo Vellozo Lucas coordena o plano de governo de Rigoni. Não se trata de uma participação tucana. Luiz Paulo abriu uma empresa de consultoria e foi contratado pelo deputado federal.
O cientista político João Gualberto Vasconcellos também.
Os dois, inclusive, marcaram presença na entrevista coletiva desta segunda-feira.
NEM LULA NEM BOLSONARO
Quando a questão é a disputa pela Presidência da República, Rigoni não tem um candidato natural a a quem apoiar. O União Brasil, nacionalmente, ainda não endossou ninguém.
O que o deputado garante é que, no primeiro turno, não vai estar com Lula (PT) nem com Jair Bolsonaro (PL).
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