O prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini, e o grupo político que o cerca, formado, basicamente, por integrantes do Republicanos, partido ao qual ele é filiado, tem planos de se consolidar politicamente no Espírito Santo. E deu passos em direção a isso nas eleições de 2020.
A própria ascensão de Pazolini, delegado da Polícia Civil, foi uma conquista. O partido elegeu, ao todo, na ocasião, 10 chefes de Executivos municipais, perdeu apenas para o PSB do governador Renato Casagrande, que alcançou 13.
Alguns dos prefeitos filiados ao Republicanos, entretanto, deixaram a legenda devido ao movimento de oposição ao socialista. O presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso (Republicanos), chegou a ser lançado pré-candidato ao Palácio Anchieta.
Depois, numa reviravolta, disputou o Senado. Pazolini foi o principal cabo eleitoral de Erick. Este ficou em terceiro lugar na corrida.
No primeiro turno, o Republicanos não apoiou ninguém, oficialmente, ao governo. No segundo, também ainda não.
O presidente da Assembleia, entretanto, está ao lado de Manato (PL). O vereador de Vila Velha Devanir Ferreira, secretário-geral do partido, tomou o mesmo caminho.
O prefeito de Vitória, por sua vez, não se manifestou sobre o pleito. Mesmo postando-se na oposição a Casagrande.
Juntando-se a Manato, talvez o palanque fique apertado demais quando se olha mais para frente. Em 2024 tem eleição municipal.
Pazolini deve tentar a reeleição. O PL de Manato saiu fortalecido das urnas em 2022. O deputado estadual Capitão Assumção foi o segundo mais votado para a Assembleia.
Em 2018, ele recebeu 27,7 mil votos. Agora, saltou para 98,6 mil.
Em 2020, Assumção foi candidato à Prefeitura de Vitória, pelo Patriota, e teve um desempenho tímido, ficou em quarto lugar.
O sucesso nas urnas no último pleito, contudo, pode animá-lo a tentar, mais uma vez, chegar ao Executivo municipal.
O mesmo vale para o vereador de Vitória Gilvan (PL). Ele foi o segundo deputado federal mais votado do estado, com 87,9 mil votos. Em 2018, quando disputou uma cadeira na Assembleia Legislativa, teve pouco mais de 5 mil.
Aí o PL teria que escolher um nome.
Assim, Pazolini não deve mesmo apoiar Manato publicamente, avalia uma pessoa próxima ao prefeito.
A estratégia seria não abraçar o bolsonarismo, assim como na eleição de 2020, para contar, em 2024, com votos do eleitor de centro.
Isso apostando que a lógica do pleito municipal não é igual à das eleições gerais, em que o fator ideológico pesou muito.
Pazolini é de direita e se cerca de pessoas de direita. Em 2020, a então ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, comemorou a eleição dele, a quem chamou de amigo.
Mas ninguém o vê por aí gritando "nossa bandeira jamais será vermelha" e fazendo arminha com a mão.
Contar com a não contaminação do pleito de 2024 pela polarização entre esquerda e direita, ou entre bolsonaristas e antibolsonaristas, é arriscado, na avaliação de aliados do próprio Pazolini.
Em 2022, o PL se deu bem, a exemplo de Assumção e Gilvan, mas o PT local que abraçou Lula teve suas vitórias.
O mais votado para deputado federal foi Helder Salomão (120.337 votos) e a presidente estadual dos petistas, Jack Rocha, vai ter uma cadeira na Câmara dos Deputados.
Na Assembleia, Iriny Lopes (PT) não vai mais ser estrela solitária. O ex-prefeito João Coser (PT) também foi eleito.
AS VITÓRIAS E DERROTAS DE PAZOLINI
Em 2022, o prefeito de Vitória apoiou, com entusiasmo e muita presença, Erick para o Senado.
Nem na própria Capital o presidente da Assembleia foi o mais votado. O pódio coube a Rose de Freitas (MDB). No estado, o vencedor foi Magno Malta (PL).
Pazolini apareceu no horário eleitoral pedindo votos para o vereador de Vitória Denninho (União Brasil), que foi eleito deputado estadual.
No Republicanos, quem mais contou com a máquina da prefeitura foram Devanir, candidato a deputado federal, e o vereador de Vitória Leandro Piquet, candidato a estadual. Os dois não foram bem sucedidos.
APOIOS A MANATO
Integrantes ou ex-integrantes da gestão municipal já declararam apoio a Manato no segundo turno, como o ex-secretário de Desenvolvimento da Cidade Marcelo Oliveira e o subsecretário de Relações Institucionais, Kauê Oliveira.
O ex-secretário da Fazenda de Vitória Aridelmo Teixeira (Novo), que disputou o Palácio Anchieta e teve 0,73% dos votos no primeiro turno, também está com o candidato do PL. Aliás, foi até anunciado como eventual secretário estadual da Fazenda.
Já a vice-prefeita, Capitã Estéfane (Patriota), de quem Pazolini não é próximo, já declarou voto em Casagrande.
Em tempo: sempre que menciono isso, algum leitor manda e-mail para dizer que o apoio da capitã da PM se deu porque a irmã dela tem um cargo comissionado no governo estadual.
O Portal da Transparência, entretanto, mostra que a irmã da militar ficou no cargo, lotada na Vice-governadoria, apenas de abril a setembro de 2021. A partir de outubro do ano passado ela virou soldado da Polícia Militar, após ser aprovada em concurso, como a coluna já registrou.
ISOLAMENTO
Pessoas com as quais a coluna conversou, entre aliados e críticos de Pazolini, avaliam que o prefeito está meio isolado politicamente, devido a um "perfil centralizador" e à falta de traquejo político.
Um deles deixou escapar, entretanto, que há desconforto por cargos comissionados não preenchidos na prefeitura. Esses cargos, via de regra, são usados como moeda em troca de apoio.
E Pazolini não está exercitando muito a tática, o que ética e até tecnicamente falando, é louvável. Mas tem um preço.
Outro problema é que Pazolini não tem muitos aliados fora do Republicanos. Os mais próximos a ele são o presidente estadual do partido, Roberto Carneiro, e Erick Musso.
E tem gente que reclama de "fogo amigo". Ex-secretário de Segurança Urbana, o delegado Ícaro Ruginski, por exemplo, desistiu de disputar as eleições para deputado federal.
Em julho, ele divulgou uma carta explicando os motivos e, sem citar nomes, revelou o que foi interpretado como decepção com o prefeito, por falta de apoio. Ícaro e Pazolini são amigos há tempos.
CÂMARA DE VITÓRIA
Outra questão é que o presidente eleito da Câmara de Vitória, Armandinho Fontoura (Podemos), não é tão próximo de Pazolini como o atual, Davi Esmael (PSD).
Armandinho vai assumir o comando do Legislativo em 2023. A eleição dele não passou por articulação da prefeitura. A base aliada votou no vereador, mas sem a digital do chefe do Executivo.
O episódio em que um orçamento da Câmara inflado para 2023 chegou à prefeitura chama a atenção. Como a coluna registrou, Pazolini tornou pública a iniciativa da Casa que, nos bastidores, já sofre a influência de Armandinho.
Pressionada, a Câmara elaborou outro orçamento, mais enxuto, e creditou o envio do primeiro texto como "um erro técnico".
Isso não quer dizer que Armandinho vá ser oposição a Pazolini. O prefeito tem ampla base na Câmara. É esperar para ver.
OUTROS POSSÍVEIS CANDIDATOS
Além de Assumção, ou Gilvan, a bolsa de apostas sobre quem vai disputar a Prefeitura de Vitória em 2024 já recebe lances.
Os deputados estaduais eleitos João Coser (PT), Camila Valadão (PSol) e Mazinho dos Anjos (PSDB) são lembrados.
Gandini (Cidadania), reeleito para a Assembleia, também. E há quem cite até Denninho, hoje aliado do prefeito.
COM A PALAVRA, PAZOLINI
A coluna tentou falar com o prefeito de Vitória nesta quarta-feira (19), diretamente e via assessoria de imprensa. Não houve retorno.
NOVO SECRETÁRIO DE SEGURANÇA
No lugar de Ícaro Ruginski, exonerado apesar de não ter disputado as eleições, quem passou a responder pela Secretaria de Segurança Urbana de Vitória foi o tenente-coronel da Polícia Militar Paolo Quintino de Lima.
Em setembro, a prefeitura anunciou que o novo secretário seria o então superintendente da Polícia Rodoviária Federal no Espírito Santo, Amarílio Boni.
Enquanto ele se licenciava da PRF, o comandante da Guarda Municipal, Fábio Rebello Alves, assumiu a pasta interinamente.
Nesta quarta foi publicada a nomeação de Boni como secretário.
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