O prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), candidato à reeleição, não é conhecido por grandes arroubos verbais, embora não seja mau orador, ou por se posicionar firmemente quando temas polêmicos estão em discussão. É o estilo e a estratégia política dele. E não foi diferente na sabatina realizada por A Gazeta e Rádio CBN Vitória nesta segunda-feira (2). Veja a entrevista na íntegra no vídeo acima.
Pazolini evitou a todo custo responder diretamente a questões incômodas e até em relação a perguntas sem muita controvérsia o prefeito preferiu ser comedido.
O republicano tem 51% das intenções de voto, de acordo com pesquisa Quaest divulgada no último dia 28.
É uma margem estreita para vencer no primeiro turno, mas confortável se considerarmos que ele está 34 pontos percentuais à frente do segundo colocado, o deputado estadual e ex-prefeito João Coser (PT), que aparece com 17%.
Então, por que Pazolini mudaria de tática? Ao que tudo indica, está dando certo.
O eleitor de Vitória, hoje, tem simpatia por um perfil mais moderado.
Mas o prefeito poderia, digamos, ser mais incisivo.
Em 2022, Pazolini não declarou voto para presidente da República. Recentemente, foi chamado de "covarde", pelo deputado estadual Capitão Assumção (PL), também candidato a prefeito, devido a isso.
Em 2022, o Republicanos estava coligado com o PL de Bolsonaro.
Mas Pazolini, pessoalmente, é ou foi bolsonarista? Foi uma das perguntas que fiz nesta segunda.
Após um longo preâmbulo, em que falou de pandemia, retração econômica, em cuidar das pessoas, o prefeito ... não respondeu nem sim nem não:
"Sempre conduzi minha política de forma independente (...). Tenho minhas convicções, mas elas não são relevantes. O importante é cuidar do povo e é o que temos feito".
Para 46% dos eleitores de Vitória, de acordo com a pesquisa Quaest, o melhor é que o prefeito da Capital não se alinhe politicamente a Bolsonaro e nem ao presidente Lula (PT).
Então, ao não se posicionar, Pazolini até fez bem, do ponto de vista da estratégia eleitoral.
Mas o "não posicionamento" foi quase geral na entrevista.
Por exemplo:
Pazolini disse que vai incrementar a receita de Vitória. Como? Quis saber o colunista Abdo Filho?
Ouvindo as pessoas, os setores econômicos e, para isso, o prefeito vai contar com o auxílio da vice na chapa, a empresária Cris Samorini (PP).
Não foi uma resposta muito concreta, mas uma coisa Pazolini garantiu: "O aumento da arrecadação não vai vir do aumento de impostos".
Quando questionado sobre uma crítica comum que adversários fazem a ele, a de que Pazolini "isolou" Vitória, principalmente, por não ser aliado do governador Renato Casagrande (PSB), o prefeito evitou rebater os concorrentes.
Elencou parcerias firmadas entre a gestão municipal e o Palácio Anchieta, como uma delegacia da Polícia Civil que funciona em imóvel cedido pela prefeitura. Pazolini sustentou que "a população nunca foi prejudicada" pelo fato de ele o governador não serem próximos.
Mas o tom utilizado na resposta foi mais brando do que o adotado um mês atrás quando, em entrevista coletiva após a convenção municipal do Republicanos, o prefeito asseverou que "o isolamento não existe" e que "a velha política ficou para trás, mas alguns ainda insistem em tentar ressuscitá-la".
Voltando à sabatina desta segunda, o candidato se arrepende da "visita surpresa" que fez ao Hospital Dório Silva, na Serra, em 2020, quando era deputado estadual, acompanhado de outros parlamentares? O colunista Leonel Ximenes perguntou.
Em meio à pandemia de Covid-19, a ideia, em tese, era fiscalizar unidades hospitalares, mas isso ocorreu logo após Bolsonaro insuflar seus seguidores a invadirem unidades de saúde.
Como se sabe, para o então presidente da República, a doença que, por fim, matou mais de 700 mil brasileiros, era só "uma gripezinha".
Pazolini não respondeu objetivamente à questão, apenas afirmou que a ida ao Dório Silva, considerada, à época, uma "invasão" pela Secretaria Estadual de Saúde, ocorreu dentro da legalidade e que a data da "visita surpresa" foi uma "infeliz coincidência", ou seja, não atendeu à convocação de Bolsonaro.
Curiosamente, na ocasião, Pazolini e Assumção estavam lado a lado. O deputado do PL só não entrou no hospital porque estava... com Covid-19. Ficou no estacionamento da unidade enquanto os colegas realizavam a "inspeção".
Pazolini, em maio de 2022, acusou publicamente o governo Renato Casagrande (PSB) de tentar fraudar uma licitação pública. O caso teria ocorrido ainda em 2021.
A Procuradoria-Geral da República (PGR), em novembro de 2022,contudo, arquivou a notícia de fato (nome formal do procedimento), por falta de provas. O prefeito, que é delegado licenciado da Polícia Civil, nunca mais tocou no assunto, voluntariamente.
Nesta segunda, na sabatina, falou a respeito sem dizer muita coisa. Considerou um "episódio encerrado" e avaliou que investigações são assim mesmo, podem resultar em alguma coisa ou ser arquivadas, e que o importante é que as instituições funcionaram.
Mas por que Pazolini demorou tanto tempo, meses, para denunciar publicamente, e às autoridades, o suposto caso de corrupção?
Aí veio a resposta mais abstrata de todas da sabatina:
"Isso varia de pessoa para pessoa, não tem dificuldade nenhuma. Essas coisas não são absolutas, não são como matemática, não são números rígidos e inflexíveis. E aí cada um tem o seu tempo e vai dosando isso ao longo da sua jornada. Enfim, o tempo não trata as coisas de maneira dura, ele não é tão concreto. É abstrato".
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