Em maio, o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), discursava, durante a inauguração de uma escola em Jardim Camburi, quando resolveu fazer uma grave denúncia.
Os fatos narrados, de acordo com ele, datavam de 2021, mas somente naquele momento o chefe do Executivo municipal decidiu falar. Pazolini contou que, em uma reunião "em um palácio, no centro da cidade, que leva o nome de uma autoridade cristã católica" ouviu uma proposta indecorosa.
O governo do estado faria investimentos em Vitória, mas somente se uma empresa específica ganhasse a licitação para a realização de obras. Ao que Pazolini, ainda segundo o próprio, respondeu: "Obrigado, autoridade X", e recusou a oferta.
Os subterfúgios quanto ao nome do Palácio Anchieta e da "autoridade" não deixavam dúvidas que se tratava de um petardo disparado contra a administração do governador Renato Casagrande (PSB), a quem Pazolini faz oposição.
Pouco mais de seis meses depois veio a resposta. A Procuradoria-Geral da República arquivou o caso.
"Foi justa a decisão da Procuradoria-Geral da República de arquivar a acusação de fraude licitatória contra o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande", comemorou o advogado do socialista, Willer Tomaz.
"A denúncia, com fins claramente eleitoreiros, se baseava em fatos vagos e contraditórios, sem qualquer âncora na realidade ou prova minimamente plausível em processos dessa gravidade. Nesse sentido, o parecer do subprocurador-geral da República Carlos Frederico Santos apenas reconheceu a ausência de elementos que justificassem a própria existência da ação", afirmou, por meio de nota.
Pazolini nunca detalhou a denúncia. Aliás, depois do discurso apoteótico ele evitou tocar no assunto. Apresentou documentos à Polícia Federal, que encaminhou o caso à PGR.
De acordo com o site "O Antagonista", o relato do prefeito é o de que, após uma reunião com Casagrande, um empresário o abordou e falou sobre o condicionamento da realização dos investimentos à licitação fraudulenta.
Isso é um pouco diferente do que Pazolini narrou no discurso de maio. Na ocasião, ele afirmou que a proposta foi feita em meio à reunião, ou seja, na presença da "autoridade X": "E eu bati na mesa e saí dessa reunião".
Eu não estava lá. Logo, não posso dizer o que houve ou não.
Entretanto, não seria de surpreender se um empresário tentasse se arvorar mais importante do que realmente é e "jogasse um verde" para sondar a receptividade do prefeito a uma proposta nada republicana.
Então o arquivamento não quer dizer, necessariamente, que Pazolini "inventou" essa história toda.
Daí a implicar o próprio governador na conversa são outros quinhentos. Sem entrar no mérito de honestidade ou caráter de quem quer que seja, façamos uma análise apenas lógica:
Por que o governador, sabendo que Pazolini é um opositor, arriscaria-se a fazer ou a endossar uma oferta desse tipo? Para dar, de bandeja, munição ao adversário? Não faz muito sentido.
O relato de Pazolini foi parar na PGR justamente por citar o governador. O foro, o local em que os governadores são processados e julgados, é o Superior Tribunal de Justiça (STJ). Na Corte, quem atua pelo Ministério Público é a Procuradoria-Geral da República.
ELEIÇÕES 2022
A situação foi ainda mais delicada por se tratar de ano eleitoral. Em dezembro de 2021 o Republicanos já havia lançado o presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso, como pré-candidato ao governo do Espírito Santo, ou seja, concorrente direto de Casagrande.
Erick é aliado de Pazolini. Por fim, o presidente da Assembleia foi candidato ao Senado. Contou com a ajuda quase onipresente do prefeito de Vitória na campanha, mas ficou em terceiro lugar na corrida.
O governador foi reeleito. Com o arquivamento da denúncia, agora é o socialista que pode usar isso como munição.
A nota do advogado já dá o tom, ao mencionar "denúncia com fins claramente eleitoreiros".
Espera-se que todo esse entrevero e outros mais não prejudiquem o que realmente interessa: as pessoas que moram em Vitória e não têm nada a ver com essas questiúnculas políticas.
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