Hoje, frise-se, hoje, o prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (Podemos), seria facilmente reeleito, e no primeiro turno. Pesquisa realizada pelo Ipec a pedido da Rede Gazeta, publicada nesta sexta-feira (23), mostra que o candidato do Podemos está “nadando de braçada” na cidade litorânea.
Ele tem 75% das intenções de voto no recorte estimulado, quando a lista com os nomes dos candidatos é exibida aos entrevistados. O segundo colocado, Coronel Ramalho (PL), aparece com 10%.
Para vencer no primeiro turno, Arnaldinho precisa de 50% mais um (não 51% e sim metade dos votos + 1 voto).
A campanha eleitoral está apenas começando, o início oficial foi em 16 de agosto. Mas ela acaba rapidinho também. Os candidatos têm, ao todo, 45 dias para conquistar os eleitores.
Ramalho e demais candidatos a prefeito de Vila Velha precisariam, portanto, crescer nas intenções de voto em pouco tempo para ao menos forçar um segundo turno.
O ex-vereadores Babá (PT) e Maurício Gorza (PSDB), apesar de serem integrantes de partidos com expressividade — ok, o PSDB encolheu bastante no país, mas já governou Vila Velha — aparecem timidamente na pesquisa Ipec, com 3% e 1%, respectivamente.
Professor Nicolas Trancho (PSOL) e Gabriel Ruy (Mobiliza), filiados a legendas menores, têm 1% cada um também.
Considerando a margem de erro da pesquisa, que é de quatro pontos percentuais, para mais ou para menos, Arnaldinho está isolado em primeiro lugar e os demais estão embolados.
Ramalho está 65 pontos percentuais abaixo do prefeito e tecnicamente empatado com o candidato do PT.
É que Babá tem, considerando o extremo da margem de erro, entre 1% e 7% das intenções de voto e, por isso, matematicamente falando, "encosta" no candidato do PL. O coronel tem, ainda levando em conta o extremo da margem, entre 6% e 14%.
Os outros candidatos com 1% cada um estão tecnicamente empatados com o ex-vereador do PT.
Ou seja, o cenário está bastante confortável para Arnaldinho.
Isso é reforçado quando se observa o percentual de rejeição ao prefeito.
Via de regra, quanto mais conhecido um candidato, maior a chance de a rejeição dele ser alta. Um desconhecido não tem a preferência do eleitorado, mas, da mesma forma, não motiva muitos “haters”.
Arnaldinho, por estar no poder, tem bastante visibilidade, mas a rejeição dele é baixa: 6%
É a menor rejeição entre todos os candidatos a prefeito de Vila Velha.
Ramalho, que nunca ocupou um cargo eletivo, mas ficou em evidência por ter sido secretário estadual de Segurança Pública, é o mais rejeitado: 33% dos entrevistados disseram não votar nele “de jeito nenhum”.
Não são dígitos proibitivos, mas, ainda assim, bem superiores aos do atual prefeito e representam um empecilho para o crescimento do candidato do PL.
Para completar, 83% dos eleitores de Vila Velha, independentemente do candidato em que pretendem votar, acham que Arnaldinho vai ser reeleito.
Isso quer dizer que, mesmo entre os eleitores de Ramalho, não há muita esperança.
Em busca da reeleição, o prefeito aposta na boa avaliação da gestão municipal e evita entrar em debates ideológicos.
Além do Podemos, ele conta com 12 partidos na coligação “Avança Vila Velha”, que congrega siglas de centro-esquerda, como PSB e PDT, e centro-direita, como Republicanos e PP.
A aliança, heterogênea, é a mais ampla entre os candidatos a prefeito da cidade canela-verde.
Esses partidos lançaram, juntos, quase 250 candidatos a vereador. Se a maioria deles pedir aos eleitores para votar em Arnaldinho, já temos aí um exército de cabos eleitorais.
A coligação ainda garantiu ao prefeito o maior tempo de exibição no horário eleitoral gratuito: cinco minutos e três segundos.
Arnaldinho conta também com o apoio declarado do governador Renato Casagrande (PSB). Aliás, parte da popularidade do candidato do Podemos pode ser creditada à realização de investimentos do governo estadual em Vila Velha, em parceria (financeira ou política) com a prefeitura.
Arnaldinho conquistou até os representantes de uma categoria que, por afinidade, poderiam naturalmente ficar ao lado de Coronel Ramalho.
O Projeto Político Militar do Espírito Santo (PPMES), que reúne as quatro maiores associações de classe do setor de segurança pública no estado, declarou, nesta sexta, apoio à reeleição do prefeito.
Ramalho, principal adversário de Arnaldinho, por sua vez, lança mão, justamente, do debate ideológico.
Ele fala, na campanha, de coisas relativas aos serviços municipais? Sim.
Até fez, por exemplo, uma publicação no Instagram sobre "a Vila Velha que o outro lado não mostra", em que exibe imagens de esgoto correndo a céu aberto em frente a residências. Mas o que predomina é a cartilha bolsonarista, com críticas à esquerda e ao PSB de Casagrande.
Ramalho faz isso mesmo incorrendo em contradições, como o fato de até o início do ano ter integrado o primeiro escalão do governo estadual, como secretário de Segurança Pública. O coronel sustenta que seu papel aí foi “técnico”.
Enquanto Arnaldinho exibe o apoio de Casagrande, Ramalho se fia em lideranças nacionais, como o ex-presidente Jair Bolsonaro, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e os deputados federais Eduardo Bolsonaro, Marco Feliciano e Nikolas Ferreira, todos do PL.
O coronel da reserva da PM, assim, dialoga com um nicho bolsonarista, que é forte em Vila Velha. Mas transportar isso para o pleito municipal em que, normalmente, temas locais predominam, é um risco.
Até agora, pelo que mostra o Ipec, não tem dado certo.
Ramalho também explora o fato de o prefeito ter escolhido como vice na chapa o ex-secretário municipal de Planejamento Cael Linhalis, não somente pelo fato de o vice ser filiado ao PSB, mas por Arnaldinho ter preterido um aliado mais antigo, o presidente da Câmara de Vila Velha, Bruno Lorenzutti (MDB), para o posto.
O candidato do PL, implicitamente, disse considerar o movimento de Arnaldinho como “traição” a Lorenzutti. É, esse é um tema bem local, mas, talvez, local demais, algo com pouco apelo para o eleitorado que não conhece o presidente da Câmara tanto assim.
A coligação de Ramalho é composta apenas pelo próprio PL e pelo nanico PRTB. Como o Partido Liberal tem uma grande bancada no Congresso Nacional, isso garante ao militar dois minutos e oito segundos na TV e no rádio durante o horário eleitoral gratuito.
E O PT, HEIN?
Babá apresenta-se como “do time do Lula” e diz que Vila Velha não é “essa cidade toda resolvida”, ou seja, que não tem problemas.
Um problema para Babá, contudo, é o sentimento antipetista que permeia boa parte do eleitorado.
Talvez, aliás, Ramalho esteja mirando na força do bolsonarismo e acertando no antipetismo. Ser contra o PT não significa automaticamente ser a favor de Bolsonaro.
Outro aspecto a ser destacado é que o poder do presidente e do ex-presidente sobre os eleitores de Vila Velha no pleito municipal não é tão decisivo.
Já Maurício Gorza tem como padrinho político o ex-prefeito Max Filho (PSDB). Foi graças a Max que os tucanos lançaram candidato à Prefeitura de Vila Velha, por força de intervenção do PSDB nacional.
Mas a verdade é que nem o partido de Gorza, refiro-me aos dirigentes estaduais da sigla, embarcaram na candidatura dele. Empolgar o eleitor canela-verde, então, fica difícil.
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