Em 2020, Cariacica teve 14 candidatos a prefeito. Em 2024, há apenas três. Isso porque poucas forças políticas se insurgem contra o atual chefe do Executivo municipal, Euclério Sampaio (MDB), que tenta a reeleição. Muitos dos adversários de Euclério naquele pleito, depois, migraram para o palanque dele. Pesquisa Ipec realizada a pedido da Rede Gazeta e publicada nesta segunda-feira (26) mostra que o emedebista conquistou não apenas os atores políticos cariaciquenses, mas a maioria do eleitorado.
Se as eleições fossem hoje, Euclério seria reeleito, no primeiro turno, com 65% dos votos. Em segundo lugar, aparece a ex-secretária municipal de Educação Célia Tavares (PT), com 18%, e em seguida, o pastor Ivan Bastos (PL), com 4%. Esse é o resultado da pesquisa estimulada, quando a lista com os nomes dos candidatos é exibida previamente aos entrevistados.
A coligação de Euclério, além do MDB, conta com 13 partidos, que vão da centro-esquerda, como PSB e PDT, à centro-direita, como Republicanos, PP e DC. Esses partidos lançaram, ao todo, quase 200 candidatos a vereador. É um grande contingente de potenciais cabos eleitorais.
Aliás, até entre os aliados de Célia Tavares vai ter gente pedindo votos para o atual prefeito. A coligação da petista é formada pela federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV) e pela federação PSOL/Rede. Candidatos a vereador do PCdoB e do PV já estão há tempos no palanque do emedebista.
Para se ter uma ideia, na Assembleia Legislativa, que reúne parlamentares de diversas siglas, por mais de uma vez o prefeito de Cariacica foi elogiado. O coro, normalmente, é puxado pelo deputado estadual Denninho Silva (União), primo de Euclério.
E até João Coser (PT), correligionário de Célia, já chegou a dizer que se surpreendeu positivamente com o desempenho do prefeito.
Euclério conta com o apoio declarado do governador Renato Casagrande (PSB) nesta eleição, apesar de o PT estar na base aliada do socialista. Ou seja, neste caso, Casagrande escolheu um lado.
O governo estadual fez diversos investimentos em Cariacica e os louros foram divididos com o prefeito.
A administração municipal é considerada boa ou ótima por 65% dos entrevistados pelo Ipec.
É neste cenário que Euclério aparece como favorito.
Ainda há espaço para ele ampliar a vantagem ou para que os adversários alcancem um percentual melhor, mas o fator "rejeição" torna a primeira possibilidade mais provável (veja mais abaixo).
Outro dado que pesa a favor de Euclério é que 74% dos eleitores de Cariacica, independentemente de em quem pretendem votar, acreditam que o prefeito vai ser reeleito.
Isso quer dizer que boa parte dos eleitores de Célia e de Ivan Bastos, se tivessem que apostar, apontariam Euclério Sampaio como o provável vencedor do pleito de 2024.
Isso afeta o moral dos eleitores em geral.
Uma eleição não é apenas sobre vencer, mas debater a cidade e, em caso de derrota, preparar-se para fazer oposição sabendo do que se está falando. Mas quem acha que vai perder fica meio desanimado.
"Comigo, só não estão os partidos dos extremos", afirmou Euclério, à reportagem de A Gazeta, em julho.
Para quem quer montar uma aliança ideologicamente ampla, é até bom não ter PT e PL no grupo.
Mas a candidata do Partido dos Trabalhadores pontuou até bem, com 18%, ainda que 47 pontos percentuais atrás do prefeito. É que a onda do favoritismo de Euclério é tão grande que se imaginava que essa distância seria ainda maior.
Ter quase 20% das intenções de voto não é algo que se possa ignorar.
Célia já afirmou e reafirmou que é "candidata para valer e para ganhar". Em 2020, ela chegou ao segundo turno, perdeu a disputa, mas conquistou um capital político respeitável.
Só que os tempos são outros. Como já mencionado, a corrida eleitoral municipal anterior teve dois turnos após uma primeira etapa disputada por 14 candidatos.
E, em 2020, o prefeito da época, Juninho (Cidadania), não tentava a reeleição nem apoiava alguém abertamente. Na ocasião, portanto, a máquina pública não trabalhava fortemente em prol de um dos candidatos. Agora, a máquina municipal e a estadual estão a todo vapor ao lado de Euclério.
Célia conta com o apoio do deputado federal e ex-prefeito Helder Salomão. O Partido dos Trabalhadores tem um legado na cidade, devido aos dois mandatos exercidos por Helder na chefia do Executivo municipal.
A eleição de 2024 pode servir, no mínimo, para defender esse legado e mantê-lo vivo na memória dos eleitores cariaciquenses. Em 2026, tem eleição novamente e Helder pode ser candidato ao Senado ou ao governo do Espírito Santo.
É importante frisar que Célia Tavares é verdadeiramente opositora de Euclério Sampaio, ainda que de forma isolada. Até meados de 2023, nem o PT de Cariacica se colocava contra Euclério.
O então presidente municipal da sigla, o vereador André Lopres, era da base do prefeito na Câmara. Ele trocou o Partido dos Trabalhadores pelo PSB e segue ao lado prefeito.
Quanto a Ivan Bastos,a coligação dele é formada apenas pelo PL e pelo nanico PRTB. Em 2020, o pastor evangélico também concorreu à Prefeitura de Cariacica. Ironicamente, na época, ele era filiado ao MDB.
Euclério disputou, naquele ano, pelo DEM, que depois se fundiu ao PSL, dando origem ao União Brasil. O prefeito migrou para o União Brasil em outubro de 2023.
Voltando a Ivan Bastos, em 2020 ele ficou em penúltimo lugar na corrida pela prefeitura. Recebeu 1.658 votos, o correspondente a 1%.
Mesmo dentro do PL, há quem avalie que a candidatura dele em 2024 é mais para demarcar espaço e divulgar o Partido Liberal, pois os "conservadores" já dão como certa a vitória de Euclério.
Além do contexto diferente do de 2020, outro fator que facilita as coisas para Euclério Sampaio e complica para seus adversários é o quesito rejeição.
Quando questionados pelo Ipec, 36% dos eleitores de Cariacica disseram que não votam na candidata do PT "de jeito nenhum". O candidato do PL, por sua vez, é rejeitado por 33%. Como a margem de erro da pesquisa é de quatro pontos percentuais, Célia e Ivan são igualmente rechaçados pelo eleitorado.
Enquanto isso, Euclério tem 7% de rejeição. É um percentual bem baixo, principalmente considerando que ele é o candidato a prefeito mais conhecido entre os três e, assim como tem mais visibilidade, também corre mais risco de sofrer críticas, pois está na "vitrine", que é a gestão municipal.
Os candidatos do PL e do PT, assim, têm mais dificuldade para crescer na preferência dos eleitores.
E a campanha eleitoral é curta, começou no último dia 16 e dura, ao todo, 45 dias.
LEIA MAIS COLUNAS DE LETÍCIA GONÇALVES
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.