Este é um espaço para falar de Política: notícias, opiniões, bastidores, principalmente do que ocorre no Espírito Santo. A colunista ingressou na Rede Gazeta em 2006, atuou na Rádio CBN Vitória/Gazeta Online e migrou para a editoria de Política de A Gazeta em 2012, em que trabalhou como repórter e editora-adjunta

Primeiro turno mostrou que cantar vitória antes da hora é autoengano

Pesquisa Ipec aponta vantagem de Renato Casagrande sobre Manato no ES a dez dias das eleições, mas, nas urnas, pode ser outra história

Vitória
Publicado em 21/10/2022 às 19h45
Renato Casagrande e Carlos Manato disputam o segundo turno das eleições para o governo do Espírito Santo
Renato Casagrande e Carlos Manato disputam o segundo turno das eleições para o governo do Espírito Santo. Crédito: Arte/AG

Se tem uma coisa que o primeiro turno das eleições de 2022 ensinou, foi que cantar vitória antes da hora é autoengano. Por isso, ainda que a pesquisa Ipec divulgada nesta sexta-feira (21) mostre Renato Casagrande (PSB) com dez pontos percentuais a mais em relação a Manato (PL), a campanha do socialista não deve comemorar.

De acordo com o Ipec, o governador Casagrande tem 55% dos votos válidos na corrida pelo Palácio Anchieta, contra 45% do adversário, ex-deputado federal.

Os votos válidos excluem as menções dos entrevistados a votos nulos e brancos e os indecisos. É assim que a Justiça Eleitoral faz a apuração.

No primeiro turno, quando havia, ao todo, sete candidatos ao governo do Espírito Santo, o socialista alcançou 46,94% e Manato, 38,48%. 

Pela projeção das pesquisas, a balança pendia para a reeleição do governador já no dia 2 de outubro. Não. A pesquisa não "foi comprada". Discrepâncias ocorreram em outros estados também.

Entre os fatores que podem ter interferido no resultado diferente estão decisões de voto de última hora;  o não comparecimento de 20% do eleitorado e o fato de eleitores bolsonaristas, por vezes, recusarem-se a responder aos entrevistadores. Um deles chegou a ser agredido no interior de São Paulo, por exemplo

Mas, ainda que não houvesse esses pontos fora da curva, é preciso ter em mente: pesquisa é retrato do momento, não adivinhação do futuro. Mais um motivo para quem aparece na frente não sair soltando fogos (aliás, não soltem fogos nunca, isso incomoda os cachorros).

BOLSONARO X LULA

Ainda na primeira etapa do pleito, o presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu 52,3% dos votos no Espírito Santo, os eleitores do estado são mais bolsonaristas que a média dos brasileiros. Considerando todo o país, Bolsonaro teve 43,20%, foi ultrapassado pelo ex-presidente Lula (PT), com 48,43%.

Assim, a disputa presidencial também foi para o segundo turno.

O Ipec mostra que, hoje, na corrida pelo Palácio do Planalto no estado, o atual presidente da República tem 12 pontos percentuais à frente do petista: 56% a 44%, ainda considerando os votos válidos. 

Manato é o candidato de Bolsonaro no Espírito Santo. Casagrande declarou voto em Lula, mas não é lá um grande entusiasta da campanha dele.

No primeiro turno, teve gente que votou em Bolsonaro e em Casagrande – o voto BolsoGrande ou CasaNaro – e a campanha do governador tem apostado nisso nesta etapa o pleito.

Manato, por sua vez, tem dado ênfase ao fato de ser aliado ao presidente. O slogan do candidato do PL local era "O governador de todos os capixabas". Agora é "O governador de Bolsonaro".

No fim das contas, os eleitores bolsonaristas é que vão decidir o pleito. Os de Lula, dificilmente, optariam por Manato. Embora não se possa descartar o voto LulaNato. E, é preciso ressaltar, os que apoiam Bolsonaro são maioria no Estado.

Em 2018, quando Casagrande foi eleito ainda no primeiro turno e Manato ficou em segundo lugar, a candidatura deste havia sido meio improvisada, desta vez ele teve tempo, e até dois turnos, para se associar ao correligionário.

O número de urna de Manato é 22, igual ao de Bolsonaro, o que o ajuda. O de Casagrande é 40. O de Lula, 13.

O candidato do PL ao Palácio Anchieta centrou fogo no governador no primeiro turno, metaforicamente falando. No segundo, tenta suavizar a própria imagem.

Ele mesmo diz que ficou "mais carinhoso", "mais educado". Casagrande, por outro lado, passou a ser mais assertivo e a fazer críticas diretas ao adversário.

Aí Manato também engrossou o caldo. Um exemplo foi o debate realizado entre os dois na TV Vitória na noite de quinta-feira (20). Para não dizer que foi pura baixaria, vou traduzir: um debate eivado de julgamentos e opiniões negativas de parte a parte e com pouca ou nenhuma proposta.

Em resumo, a campanha tem sido assim: o governador "alerta" contra o despreparo do adversário para chefiar o Executivo estadual e diz que Manato é ligado ao crime organizado por ter sido associado à Scuderie Le Cocq, um grupo de extermínio famoso na década de 1990

O ex-deputado federal obteve, recentemente, um depoimento do ex-procurador da República Henrique Herkenhoff. "Nunca chegou a nós nenhuma suspeita sequer de que o Manato tivesse participado de qualquer atividade ilegal da instituição. Ele nem sequer foi investigado", afirmou Herkenhoff, que chefiou a missão de combate ao crime organizado no início dos anos 2000 no Estado.

Em contra-ataque, Manato diz que Casagrande que é "o chefe do crime organizado", também sem provas, lembrando, por exemplo, que o ex-secretário da Fazenda Rogélio Pegoretti foi preso suspeito de participar de fraude fiscal. A operação que prendeu o ex-titular da pasta foi realizada pela própria Secretaria da Fazenda de Casagrande. 

Manato também passou a chamar o governador de "Centroavante", nome associado ao socialista em planilha da Odebrecht, empresa cujos executivos confessaram crimes de corrupção ativa, entre outros. Contra Casagrande, entretanto, não houve nenhuma condenação.

Como talvez parte dos eleitores nem lembre da Le Cocq, o governador passou a trazer as acusações para cenários mais recentes, como a greve da Polícia Militar de 2017, que ele sustenta ter sido comandada por Manato. A greve, ilegal, causou prejuízos milionários ao comércio e mais de 200 mortes em menos de um mês.

O candidato do PL, que na época era deputado federal e estava filiado ao PSL, realmente, foi apontado como incentivador do movimento, mas daí a chefe e mentor parece forçado. 

Casagrande chama Manato de "incompetente" por ter permanecido menos de cinco meses em cargo comissionado na Casa Civil. O candidato do PL diz que pediu para sair.

Enfim, não vou desfiar aqui todo o rosário de disse-me-disse em que se transformou a eleição. Cabe ao eleitor não se fixar apenas nisso, ainda que os postulantes ao Palácio Anchieta não colaborem para tal.

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