A prisão do ex-secretário da Fazenda da gestão Renato Casagrande (PSB) Rogelio Pegoretti, nesta terça-feira (12), surpreendeu integrantes do governo e servidores da Sefaz. Casagrandistas avaliam que a ação policial veio em má hora, por óbvio, em pleno ano eleitoral e um dia após o governador anunciar que vai disputar a reeleição.
Alguns integrantes do primeiro escalão chegam a falar que a operação Decanter, do Ministério Público Estadual e da própria Secretaria de Estado da Fazenda, teve critérios políticos, com endereço certo. Mas outros, até mais próximos ao governador, são categóricos ao afirmar que não acreditam nessa tese, uma vez que o governo participa das investigações.
Ao lado da procuradora-geral de Justiça, Luciana Andrade, durante coletiva de imprensa para falar da operação na sede do Ministério Público Estadual, em Vitória, estava o subsecretário de estado da Receita, Benicio Suzana Costa. Ele é auditor fiscal, quadro efetivo, e ocupa um cargo de segundo escalão bem próximo da cúpula da Sefaz.
O fato é que a prisão de Pegoretti acarreta desgaste político-eleitoral, sim. E a oposição não vai deixar isso passar batido.
Mas aliados do governador apostam que o argumento de que a própria Sefaz ajudou na apuração vai ajudar a afastar a mácula do pré-candidato à reeleição.
"E a investigação é sobre algo muito técnico, coisas sobre as quais o governador nem tem ingerência", pontuou um casagrandista.
"Agora, ele (Casagrande) não tem compromisso com o erro. Quem errou, se errou, tem que pagar", emendou a mesma fonte.
Coincidentemente, o governador usou palavras parecidas na segunda-feira (11), ao declarar que vai disputar mais um mandato.
Ele lembrou que o estado é líder em transparência, "o sol que mata o germe da corrupção", e afirmou que "não tem compromisso com o erro".
Nesta terça, o socialista esteve na Feira do Empreendedor, do Sebrae, realizada na Serra. Quem o viu por lá disse que ele parecia tranquilo.
Pegoretti comandou a Secretaria da Fazenda desde que Casagrande assumiu o mais recente mandato, em janeiro de 2019, e ficou no cargo até agosto de 2021, quando pediu exoneração. Alegou motivos pessoais.
Até mesmo integrantes da Sefaz, com quem ele manteve sempre uma boa relação, desconfiam dessa motivação, embora o clima entre os servidores seja de surpresa devido à prisão, como já mencionado, e certo pesar. De acordo com o MPES, as investigações começaram em 2020, mas o ex-secretário tornou-se suspeito apenas após ter deixado a função.
"Mas é difícil saber de alguma coisa porque o setor que faz interlocução com o Ministério Público é composto por pouquíssimas pessoas e, muitas vezes, quando tem operação, nem a cúpula da secretaria fica sabendo previamente", afirmou um servidor à coluna.
O ex-secretário também fez parte do primeiro governo de Casagrande (2011-2014), foi subsecretário de Transparência.
Pegoretti é auditor de controle externo do Tribunal de Contas do Estado (TCES), servidor efetivo, com salário de R$ 21.702,57 brutos. Ingressou na instituição em 2013.
O MPES não divulgou os nomes dos presos na Decanter. A reportagem de A Gazeta apurou e descobriu sobre a prisão do ex-secretário.
Na coletiva de imprensa, tampouco foi detalhada qual seria a participação de Pegoretti no suposto esquema.
A apuração apontou a existência de uma fraude fiscal milionária no comércio de vinhos no Espírito Santo, com prejuízo de R$ 120 milhões aos cofres estaduais.
Quatro empresários também foram presos e há mandados de prisão a serem cumpridos contra outros dois.
Os empresários sonegaram cerca de 25% do ICMS devido. E há suspeita do pagamento de propina a agentes públicos. Um servidor efetivo da Sefaz é investigado.
Ex-colegas de Pegoretti no governo dão a ele o benefício da dúvida e aguardam o desenrolar das investigações.
A coluna não conseguiu contato com a defesa do ex-secretário.
OUTRA VEZ
A Operação Volátil II, deflagrada em março pela Polícia Federal, foi a primeira a chegar ao governo Casagrande, diretamente. Trata-se de suspeitas que pesam sobre compra de álcool em gel durante a pandemia de Covid-19.
Na ocasião, o então subsecretário de Agricultura, Rodrigo Vaccari, foi afastado do cargo por decisão judicial. Ele é suspeito de ter recebido vantagens indevidas.
Vaccari é filiado ao PSB, partido do governador, há anos, e seria candidato a deputado estadual. A Volátil, no entanto, pôs fim aos planos.
Em nota divulgada à imprensa, ainda em maio, o ex-subsecretário de Agricultura afirmou que "não se condena ninguém antecipadamente", negou superfaturamento na compra de álcool em gel por parte do governo e ressaltou que o que foi apontado como vantagem indevida trata-se da reforma feita em uma casa, com recursos próprios.
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