O líder do PSDB no Senado, Izalci Lucas, fez o convite e o senador Marcos do Val aceitou. Comunicou ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que se desfiliou do Podemos e ingressou no PSDB.
O site do Senado até já registrou a mudança. A notícia pegou os tucanos do Espírito Santo de surpresa. A coluna entrou em contato com a direção nacional do PSDB.
Eis que, na tarde desta quinta (21), pouco após Do Val divulgar que entrou no novo partido e Izalci afirmar, ao Metrópoles, que “a filiação de Marcos do Val trará mais uma voz de peso nos debates e votações importantes”, a direção nacional do PSDB, em resposta à coluna, informou que vai barrar a entrada do senador capixaba no partido.
A nota do PSDB nacional é curta e grossa:
A Direção Nacional do PSDB foi surpreendida com notícia referente a pedido de filiação do senador Marcos do Val e comunica que, caso venha a ocorrer, encaminhará o seu indeferimento.
Do Val, pelo acordo com Izalci, seria até líder do bloco de oposição formado por PSDB e Podemos no Senado.
Mas, de acordo com a direção nacional do PSDB, nada disso vai acontecer, ao menos não no ninho tucano.
A rejeição a Do Val foi rápida. Presidente do PSDB de Vitória, o ex-prefeito Luiz Paulo Vellozo Lucas afirmou que Do Val não tem identidade com o partido.
"Vou pedir ao diretório municipal que faça ao diretório nacional uma manifestação contrária a essa filiação, ocorrida sem nenhuma consulta às bases tucanas capixabas", ressaltou Luiz Paulo.
A direção estadual do PSDB também confirmou, via assessoria, que o senador não preencheu ficha de filiação à legenda.
A coluna procurou Marcos do Val, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.
O episódio é todo constrangedor, para Do Val e para o PSDB.
Pelo que a coluna apurou nos bastidores, Izalci tenta robustecer a bancada para que o partido não perca o direito a ter liderança na Casa. Para isso, é preciso ter ao menos três parlamentares e o PSDB conta com apenas dois.
Izalci abordou, nos últimos dias, Do Val e Styvenson Valentim (RN), também do Podemos, na tentativa de atrair ao menos um deles e, assim, alcançar o número mínimo.
Mas, pelo visto, não combinou essa movimentação com a direção nacional do PSDB, ao mesmo tempo em que deixou o senador do Espírito Santo convencido de que estava tudo certo.
A coluna entrou em contato com o gabinete de Izalci, mas não recebeu um posicionamento.
O presidente da legenda é o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.
"Tenho certeza que essa posição (de filiar Do Val) não é majoritária na Executiva nacional", preconizou Luiz Paulo, em conversa com a coluna, pouco antes da nota oficial do partido confirmar a declaração do ex-prefeito de Vitória.
O PSDB não vive seu melhor momento. Até 2022, tinha 22 deputados federais, depois do pleito do ano passado, perdeu nove cadeiras, uma vez que elegeu 13.
No Senado, tinha quatro parlamentares, mas caiu para dois, após as saídas, em 2023, de Mara Gabrilli (SP) e Alessandro Vieira (SE). Ela foi para o PSD e ele, para o MDB.
Eduardo Leite segue à frente da legenda, mas uma decisão judicial determinou a realização de uma nova eleição para o comando nacional. O governador do Rio Grande do Sul trava uma disputa interna no partido com tucanos de São Paulo.
No Espírito Santo, o presidente é o deputado estadual Vandinho Leite. Na Assembleia Legislativa, a sigla tem ainda Mazinho dos Anjos.
O principal nome do partido no estado é o do vice-governador e secretário estadual de Desenvolvimento, Ricardo Ferraço.
O PSDB quer disputar a Prefeitura de Vitória no ano que vem. Tem as pré-candidaturas de Luiz Paulo, Mazinho e do ex-deputado estadual Sergio Majeski.
E Ricardo é lembrado como possível candidato a sucessor do governador Renato Casagrande (PSB) em 2026.
São planos ambiciosos. Criar um ruído desses com a filiação/não filiação de Do Val não ajuda.
Claro que os tucanos do Espírito Santo, para sermos justos, não provocaram nada disso. Luiz Paulo até foi rápido ao rechaçar o ingresso de Do Val na legenda. Vandinho e Mazinho endossaram a manifestação dele.
O PSDB nacional, por sua vez, demorou a reagir diante das movimentações de Izalci e Do Val.
Está faltando, no mínimo, comunicação entre as instâncias e parlamentares do partido.
E AGORA?
A coluna não conseguiu contato com Gilson Daniel, presidente estadual do Podemos, mas Do Val, na mesma nota em que anunciou a filiação ao PSDB, afirmou que saiu do Podemos "em comum acordo" com o partido e "com a anuência da presidente nacional da legenda, deputada Renata Abreu".
Senadores não estão amarrados à regra da fidelidade partidária, podem trocar de partido sem o risco de perder o mandato. Mas agora, impossibilitado de migrar para o ninho tucano, Do Val tem a opção de permanecer no Podemos? E o climão?
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