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Que tiro foi esse? O atentado que Muribeca não sofreu

Candidato a prefeito da Serra chegou a afirmar que foi alvo de tentativa de homicídio em meio à campanha eleitoral. A Polícia Civil contou o que realmente aconteceu

Vitória
Publicado em 24/10/2024 às 20h40
Pablo Muribeca, candidato à Prefeitura da Serra, entrevistado por A Gazeta e CBN Vitória
Pablo Muribeca, candidato à Prefeitura da Serra, entrevistado por A Gazeta e CBN Vitória. Crédito: Ricardo Medeiros

O candidato a prefeito da Serra Pablo Muribeca (Republicanos) não sofreu um atentado, ao contrário do que ele mesmo chegou a afirmar. De acordo com a Polícia Civil, o deputado estadual realizava um ato de campanha em Central Carapina na noite de quarta-feira (23) quando um homem condenado por tráfico achou que seria uma boa ideia matar um rival que passava pelo local bem na hora. 

O homem, de 32 anos, não conseguiu nem tentar cometer o crime, pois foi derrubado por um integrante da campanha de Muribeca, e fugiu disparando para o alto. 

Enquanto corria, acabou baleado — não se sabe por quem — e depois foi preso. Em nenhum momento, segundo o delegado Rodrigo Sandi Mori, chefe da Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Serra, o candidato a prefeito esteve na mira dos disparos. 

Não era a intenção de ninguém tentar matar ou ferir o deputado ou seus apoiadores, de acordo com a investigação. E não há nenhum componente político no caso. 

Em vídeo publicado nas redes sociais, em seguida apagado, Muribeca alardeou: "Tentaram me matar em Central Carapina!". 

Em boletim de ocorrência registrado às 22h26 da noite de terça-feira (23) na 3ª Delegacia Regional da Serra, o deputado afirmou que "era o alvo" dos disparos e "desesperou-se acreditando que iriam tirar a sua vida".

O Boletim Unificado registrou o crime de "tentativa de homicídio por arma de fogo". 

Em outro boletim sobre o mesmo episódio, registrado pelo 6º Batalhão da Polícia Militar às 22h52 com base em relato de Muribeca, o crime mencionado é o de "disparo de arma de fogo" e não há alusão a nenhum atentado.

Em depoimento a Sandi Mori, nesta quinta-feira (24), Muribeca negou que tenha sido vítima de uma tentativa de homicídio.

"Eu questionei se houve tentativa de homicídio em desfavor dele. Ele, assim como as outras testemunhas, afirmou que não", contou o delegado.

"Ah, mas por que que ele fez um vídeo falando que tinha sofrido atentado? Aí já não cabe a mim falar", completou Mori.

O chefe da DHPP da Serra concedeu entrevista coletiva na tarde desta quinta ao lado do chefe da Polícia Civil, Darcy Arruda, sobre o episódio. "Não tenho lado político. Não sou A nem B", ressaltou Mori.

A motivação do homem que disparou tiros para o alto foi desvendada pelo próprio atirador, após ser preso numa unidade de saúde, já que estava ferido por um tiro na perna.

O relato dele foi corroborado por imagens de câmeras de segurança e por testemunhas.

Após a entrevista coletiva dos delegados, Muribeca postou outro vídeo nas redes sociais, em que afirmou que "um bandido colocou um terror danado" no ato de campanha e agradeceu à "elucidação rápida" do caso por parte da DHPP.

"Primeiro, achei que era contra a minha vida", contou o deputado, em debate realizado na TV Vitória no início da noite.

O candidato também criticou o episódio de violência em Central Carapina, reafirmando o que disse o delegado, que tratou-se de uma investida entre bandidos locais.

APOIADORES DE MURIBECA ARMADOS

No depoimento desta quinta-feira à Polícia Civil, de acordo com Sandi Mori, Muribeca revelou que havia "três ou quatro" integrantes da própria equipe armados durante o ato de campanha.

Mas não disse quem são essas pessoas e se elas têm porte de arma.

O delegado suspeita que um dos apoiadores do candidato foi o autor do disparo que atingiu a perna do homem condenado por tráfico. 

Mas isso ainda está em apuração, não é uma certeza, como a palavra "suspeita" já indica. Não se sabe também se esse disparo configura tentativa de homicídio ou legítima defesa.

O prefeito reeleito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), que participava do ato de campanha em Central Carapina ao lado de Muribeca e é delegado licenciado da Polícia Civil, deve prestar depoimento como testemunha.

Rodrigo Sandi Mori, delegado chefe da DHPP da Serra
Rodrigo Sandi Mori, delegado chefe da DHPP da Serra. Crédito: Letícia Gonçalves

Ok. No calor do momento, o deputado deve ter se assustado com os tiros e pode ter pensado ser alvo de um atentado que nunca ocorreu.

Mas lhe faltou ao menos prudência ao publicar um vídeo e ao registrar isso num boletim de ocorrência.

Atentado político é coisa séria e poderia mudar os rumos de uma eleição. Muribeca saiu do primeiro turno em segundo lugar e está atrás nas pesquisas de intenção de voto.

A coluna entrou em contato com a assessoria do deputado e fez questionamentos a respeito das diferenças entre os dois boletins de ocorrência e o depoimento prestado nesta quinta.

Também perguntou quem são os integrantes da campanha armados, o que eles estavam fazendo e se têm porte de arma.

Em resposta, recebeu uma nota que não elucida nenhuma dessas questões. Veja a nota, na íntegra:

O candidato a prefeito da Serra Pablo Muribeca agradece a Deus e às Forças de Segurança, que já elucidaram o caso, com a nossa contribuição. O indivíduo que fez os disparos está preso e todo mundo que estava conosco, minha esposa, o prefeito Pazolini e os participantes da minha campanha, está bem.

Estamos focados nesta reta final de campanha em apresentar propostas para a população da Serra, para melhorar a Segurança Pública da cidade e fazer do município um lugar seguro para se viver.

A população da Serra é gente do bem, trabalhadora e merece uma mudança de verdade.

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