O ex-prefeito da Serra Audifax Barcelos (PP) decidiu não apoiar nem o ex-secretário estadual de Turismo Weverson Meireles (PDT) nem o deputado estadual Pablo Muribeca (Republicanos) no segundo turno da eleição para a prefeitura da cidade.
Audifax ficou em terceiro lugar e recebeu 58.643 votos (23,96%), numa derrota surpreendente, considerando que liderava as pesquisas de intenção de voto, mas, na reta final, como o Ipec revelou na véspera da eleição, ele perdeu pontos enquanto Weverson cresceu.
O principal apoiador do candidato do PDT é o atual prefeito da Serra, Sérgio Vidigal (PDT), que é arquirrival de Audifax. Muribeca, por sua vez, foi pintado na campanha pelo ex-prefeito como uma "ameaça" para a cidade.
Nesta quinta-feira (10), o ex-prefeito afirmou, em entrevista coletiva, que os dois candidatos que passaram ao segundo turno são igualmente um risco.
"São duas histórias desconhecidas, a cidade corre risco. Não ficaremos com nenhum dos dois candidatos", cravou o ex-prefeito.
Audifax afirmou que foi procurado, tanto por Weverson quanto por Muribeca, diretamente ou por intermediários, após o resultado do primeiro turno.
Weverson negou: "Não fiz contato com ele e ninguém da minha campanha o procurou. O único partido do qual busquei apoio neste segundo turno foi o PSDB". Os tucanos decidiram apoiar o pedetista.
Muribeca também disse à coluna que não entrou em contato com Audifax, mas que alguém da campanha dele pode ter feito isso. "Eu liguei para o Da Vitória para pedir apoio do partido", contou o deputado, referindo-se ao PP, sigla do ex-prefeito.
O PP, entretanto, também vai ficar neutro na Serra no segundo turno.
Mas a neutralidade de Audifax beneficia algum dos candidatos?
Avalio que há pontos positivos a serem explorados pelo candidato do PDT e pelo do Republicanos, mas a neutralidade é mais benéfica para Weverson. Eis os motivos que me levam a esta conclusão:
SE AUDIFAX FICASSE COM WEVERSON
Weverson conta com a quase onipresença de Vidigal na campanha. O atual prefeito está no quarto mandato no comando do Executivo municipal, mas o candidato do PDT a prefeito apresenta-se ao eleitor como "renovação com responsabilidade".
A menção a renovação é parte importante da estratégia eleitoral dele e repetida até por Vidigal, que aponta o pupilo como "o novo", "a mudança segura" para a cidade. O jovem, em 2024, disputa a primeira eleição.
Muribeca, por sua vez, afirma ser a "renovação de verdade" e o único que representaria, de fato, o fim do revezamento entre Vidigal e Audifax no poder, que perdurou por quase 28 anos.
Se Audifax subisse no palanque de Weverson, Muribeca ganharia um argumento de presente.
O deputado poderia dizer: "Estão vendo? As duas forças políticas 'antigas' da cidade estão ao lado do mesmo candidato. Como Weverson pode representar alguma renovação?".
Se até os adversários históricos Audifax e Vidigal se unissem contra ele, o republicano reforçaria o que já vem dizendo desde o primeiro turno, que há um "consórcio" pelo poder na Serra, contra o qual apenas Muribeca, o "antissistema" se levanta.
Paralelamente, salvo alguma reviravolta (que não podemos descartar, dado o resultado do primeiro turno), o eleitor de Audifax, por incrível que pareça, tende a se identificar mais com Vidigal e, por consequência, com Weverson, mesmo sem o endosso público do ex-prefeito.
É que Audifax e Vidigal são da mesma escola política. Aliás, o ex-prefeito já foi pupilo do atual chefe do Executivo municipal.
Então o candidato do PDT já vai herdar, de qualquer forma, boa parte dos votos que foram para Audifax no primeiro turno, sem o ônus de ser atacado por Muribeca com o argumento do "consórcio".
A união entre Audifax e Vidigal seria ruim para Muribeca também? Em parte, sim, pois alguns eleitores poderiam considerar isso a confirmação de que o republicano é um risco tão grande que até adversários figadais decidiram se juntar para evitar a derrocada da cidade.
Mas essa leitura não seria unânime, pelos motivos expostos nos parágrafos anteriores.
SE AUDIFAX FICASSE COM MURIBECA
Se o ex-prefeito endossasse a candidatura de Muribeca no segundo turno, seria um sinal para os eleitores do ex-prefeito de que o candidato do Republicanos, no fim das contas, não é uma ameaça tão grande assim.
Por outro lado, isso abriria um flanco contra o próprio Muribeca.
Afinal, se ele é a "novidade" da política serrana e atua "contra o sistema", como poderia se aliar a alguém que foi prefeito da cidade por três mandatos? Alguém a quem criticou diversas vezes no primeiro turno?
Além do "risco" que Audifax avalia que Weverson e Muribeca representam, o ex-prefeito afirmou que "princípios e valores" nortearam a decisão de não apoiar ninguém.
Weverson largou na frente na corrida pela prefeitura no primeiro turno, recebeu 35.397 votos a mais que o candidato do Republicanos.
Ele conta com os apoios de Vidigal, Casagrande e, no segundo turno, recebeu o endosso do PT, que concorreu na primeira etapa do pleito com Professor Roberto Carlos.
O PSDB, que compôs chapa com Audifax, também fechou com Weverson.
Muribeca, por sua vez, tem ao seu lado lideranças do Republicanos, como o deputado federal Amaro Neto e o deputado estadual Sérgio Meneguelli, além do presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Santos.
O Novo, que teve candidato à Prefeitura da Serra no primeiro turno, Wylson Zon, já declarou apoio a Muribeca.
O PL, oficialmente, ficou neutro, mas Magno Malta, presidente estadual, e Valdemar Costa Neto, presidente nacional, implicitamente, apoiam Muribeca.
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