Em 2006, para construir uma ampla aliança em torno da reeleição do então governador Paulo Hartung (na época filiado ao PMDB), vários partidos e políticos deram suas contribuições.
O PT desistiu de lançar Claudio Vereza ao Palácio Anchieta e, ainda que os petistas não estivessem na coligação de Hartung, endossaram a candidatura dele e até deram aval para a consolidação da parceria do governador com o PSDB.
O tucano Ricardo Ferraço, que foi secretário estadual de Agricultura, por sua vez, abriu mão de disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados – mesmo cotado para ser um dos campeões de votos, como registrou A Gazeta, na época – para figurar como vice na chapa do governador.
E Renato Casagrande foi o candidato ao Senado do grupo. Luiz Paulo Vellozo Lucas, que acabou não sendo lançado à vaga pelo PSDB, recusou-se a pedir votos para o socialista. Mas Ricardo mostrou-se fiel aos aliados, mesmo os não correligionários: "Vou trabalhar dentro da coligação o nome de Renato", cravou, em julho daquele ano.
Ricardo já era cotado, naquela época, para concorrer ao governo em 2010, como um caminho natural após ser vice.
Preparou-se e foi preparado por Hartung para a sucessão. O governador se licenciaria do cargo antes do fim do segundo mandato consecutivo, deixaria o Executivo nas mãos do vice, que concorreria à reeleição.
Mas, quando chegou o fatídico "abril sangrento", em 2010, Ricardo foi rifado. Devido a contrapartidas partidárias costuradas nacionalmente, o governador permaneceu no cargo e apoiou a candidatura de Casagrande ao Palácio Anchieta.
A Ricardo, coube a resignação, não sem antes disparar: "Eu sangrei porque o fogo amigo me corroeu".
Dezesseis anos depois, em relação a 2006, Ricardo está de novo em uma chapa como candidato a vice-governador. O anúncio oficial ocorreu nesta terça-feira (19), confirmando o que já se sabia nos bastidores.
As coisas mudaram. Hartung e Casagrande agora são adversários e é o socialista o líder do projeto que o tucano endossa.
Mais uma vez, Ricardo Ferraço já chega à chapa com projeções para o que vai ser nos próximos quatro anos, um provável candidato ao governo do estado, já que Casagrande não vai poder tentar mais um mandato consecutivo.
Isso, claro, se os dois vencerem o pleito de 2022.
E ainda depende da viabilidade eleitoral. Em 2018, com o apoio de Casagrande, Ricardo não conseguiu se reeleger para o Senado e está na planície desde então.
Mas manteve-se próximo ao socialista. Nesta terça-feira, esteve no Palácio Anchieta, em reunião com o governador e os presidentes estaduais de PSB, PSDB e Cidadania.
Ao fim do encontro, Casagrande disse que conversa com o ex-senador permanentemente. Desta vez, a reunião teve um peso maior, devido à iminência do anúncio da formação da chapa.
POR QUE RICARDO FERRAÇO VICE, DE NOVO?
Além da proximidade com o governador, Ricardo serve como um anteparo às críticas de adversários que a tudo e todos chamam de "comunistas".
Apesar de a coligação de Casagrande conter até o bolsonarista PP, o discurso antiesquerda é forte. A chegada de MDB e PSDB equilibra a aliança.
Mas um nome de centro-direita tradicionalmente ligado ao meio empresarial como candidato a vice reforça esse equilíbrio.
Casagrande atraiu o PT e vai fazer campanha para o ex-presidente Lula. O PSDB e Ricardo apoiam a pré-candidatura de Simone Tebet (MDB) ao Palácio do Planalto.
E há toda uma confluência de movimentos partidários que permitem que o tucano ocupe o posto.
O PT aceitou firmar a parceria com o governador devido aos acenos do socialista para Lula e, principalmente, como contrapartida por apoios do PSB aos petistas em outros estados. Logo, ficaria difícil exigir vaga de candidato a vice.
O PP bem que queria esse lugar, mas tem o peso de estar no palanque de Bolsonaro, que não é a escolha da maioria dos integrantes da aliança e tampouco de Casagrande.
PSDB e Cidadania, federados, por outro lado, exigiam a vaga de candidato a vice ou a senador.
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