O vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) é um possível candidato ao governo do Espírito Santo em 2026, como representante do grupo do governador Renato Casagrande (PSB). O próprio governador já disse que o martelo não foi batido e outros aliados também estão no páreo, mas Ricardo é uma das principais apostas.
O vice é presença constante em agendas públicas do chefe do Executivo, nas quais discursa e faz a defesa da atual gestão. Nesta quinta-feira (9), durante o lançamento do Expresso GV, um corredor exclusivo para ônibus, no Palácio Anchieta.
O que chamou a atenção desta colunista foi um trecho das declarações de Ricardo: "Há governos que só se preocupam com responsabilidade fiscal e a população sofre com falta de investimentos (...) em Segurança Pública".
"E há governos que têm capacidade de combinar, de equilibrar responsabilidade fiscal com os investimentos que são de fundamental importância para a vida das pessoas", completou o vice-governador.
Ele não citou nomes nem governos específicos, mas o fato de ter abordado justamente o tema responsabilidade fiscal lembra um debate travado desde 2014 no estado.
Naquele ano, Paulo Hartung (então filiado ao MDB) disputou o Palácio Anchieta contra Renato Casagrande (PSB), seu ex-aliado.
A principal crítica de Hartung à gestão do socialista foi o que o emedebista considerou falta de responsabilidade fiscal, má gestão das contas públicas. Tese, obviamente, rechaçada por casagrandistas.
Hartung venceu Casagrande e "responsabilidade fiscal" virou o assunto da vez no mercado político capixaba.
O emedebista cortou gastos, para organizar a máquina pública e, em 2017, passou por uma grande turbulência, a greve da Polícia Militar.
Adversários do então governador passaram a entoar que, no afã da responsabilidade fiscal, ele deixou os investimentos e ações sociais de lado. Hartunguistas, também obviamente, discordam dessa leitura.
De volta ao governo em 2019, Casagrande desde então faz questão de ressaltar que a gestão tem "responsabilidade fiscal com responsabilidade social".
Não é à toa que frequentemente a "nota A do Tesouro" é mencionada. É um medidor da capacidade de pagamento — endividamento, poupança corrente e liquidez relativa.
O Espírito Santo recebe a nota máxima da Secretaria do Tesouro Nacional (STN) desde 2012.
Ao reafirmar o discurso em prol da responsabilidade fiscal sem perder de vista os investimentos públicos, Ricardo Ferraço, intencionalmente ou não, evoca a controvérsia de dez anos atrás e reforça os argumentos casagrandistas em oposição aos hartunguistas.
Ricardo já foi vice-governador de Paulo Hartung, entre 2007 e 2010, mas nos últimos anos migrou para o grupo político do atual governador.
2026
A possibilidade de Ricardo Ferraço disputar o governo em 2026 vai ser reforçada se Casagrande deixar o mandato, em abril do ano que vem, para concorrer ao Senado.
Nesse caso, o vice assumiria o comando do Executivo estadual e, de acordo com o próprio governador, tornaria-se o "candidato natural" à sucessão.
O RETORNO DE HARTUNG
Hartung, por sua vez, está sem partido desde novembro de 2018 e prestes a se filiar ao PSD.
Isso motivou especulações. O ex-governador poderia disputar o Palácio Anchieta ou o Senado.
Outra possibilidade é que ele atue em prol da eleição do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), outro provável candidato ao Palácio, que concorreria contra o nome palaciano.
De qualquer forma, Hartung e Ricardo Ferraço, outrora aliados, vão estar em lados opostos.
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