Desde a campanha eleitoral, no segundo turno, o governador Renato Casagrande (PSB) já havia avisado que o vice na chapa, o ex-senador Ricardo Ferraço (PSDB), exerceria um papel de destaque no próximo mandato, caso o socialista fosse reeleito.
O tucano coordenaria as áreas de Desenvolvimento Econômico, Meio Ambiente e Agricultura. A dúvida era se, além disso, ele ainda acumularia o comando de uma dessas secretarias.
As urnas reconduziram Casagrande e, nesta quinta-feira (1), veio o anúncio: Ricardo vai ser chefiar a pasta de Desenvolvimento. E vai ter ascendência sobre as demais.
"Ele vai ser empoderado para isso por mim. Antes de ser secretário, ele é vice-governador. Na relação que temos, de parceria e compromisso, ele tem ascendência sobre todos os secretários", destacou o governador, em entrevista concedida à imprensa.
O empoderamento de Ricardo, ao contrário do que indica Casagrande, não vem apenas do fato de ele ser o vice.
Basta lembrar que outros companheiros de chapa do socialista, Givaldo Vieira (2011–2015), então filiado ao PT, e Jacqueline Moraes (2018-2022), do PSB, não tiveram o mesmo protagonismo.
O governador justificou o papel dado ao tucano como uma forma de cumprir uma promessa eleitoral. Afinal, já havia dito à coluna e a uma plateia repleta de empresários, que o tucano seria essencial à nova gestão.
O vice-governador eleito é próximo ao empresariado de alta plumagem e à centro-direita, setores que se engajaram, na reta final, na campanha do socialista.
Embora Casagrande tenha dito que o futuro governo não deve pender mais à direita devido a esse contexto, o protagonismo de Ricardo pressupõe algo diverso disso.
Não que isso inviabilize o "empoderamento" de outros atores, como o PT, que, certamente, vai ganhar uma secretaria para chamar de sua.
SUPERSECRETÁRIO
Ricardo, entretanto, ganha ares de supersecretário. Mesmo sem uma supersecretaria.
A Secretaria da Ciência, Tecnologia, Inovação, Educação Profissional e Desenvolvimento Econômico (Sectides) vai ser desmembrada. É graças a isso que a futura pasta do tucano vai voltar a existir.
O projeto de lei que trata do tema já está na Assembleia Legislativa.
A Sectides, então superpasta, era comandada por Tyago Hoffmann (PSB) que, a partir de fevereiro de 2023, vai ser deputado estadual.
A recriação da Secretaria de Estado de Desenvolvimento (Sedes) vai custar R$ 1 milhão em 2023, outro milhão em 2024 e mais um no ano seguinte, conforme especifica o texto enviado ao Legislativo.
"Compreendemos que é uma secretaria que precisa de estatura, uma pessoa com trânsito aqui e no Brasil todo. Ricardo tem muito conhecimento e será um secretário que vai fazer essa grande articulação estadual, nacional e fora do Brasil", adiantou o governador.
"Vai me ajudar na coordenação dos trabalhos na área da Agricultura e do Meio Ambiente, com uma visão de que desenvolvimento que tem que incorporar inovação, educação, formação profissional e sustentabilidade", emendou.
"Vamos inserir o Espírito Santo na nova economia, aproveitar a economia do mar, a geração de energia eólica (...) requalificar nosso comércio exterior", exemplificou Ricardo Ferraço.
A aposta pode beneficiar o governo, dando mais dinâmica aos setores econômico e ambiental.
O último, aliás, foi bastante criticado na campanha. O próprio governador reconheceu que o Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema) ainda está saindo da Idade da Pedra.
Por outro lado, é preciso lembrar que Ricardo é indemissível. Claro que poderia perder o posto de secretário, mas, por ter mandato eletivo, vai ser sempre uma figura do governo, para o bem ou para o mal. E Casagrande vai ter que lidar com o vice empoderado que ele mesmo criou.
PRÉ-SUPERSECRETÁRIO
Enquanto não assume a vice-governadoria e a Sedes, Ricardo já está trabalhando.
O governador confirmou que o tucano é consultado sobre a escolha de outros secretários, a exemplo dos de Agricultura e Meio Ambiente, com os quais deve tratar cotidianamente.
O trabalho, por enquanto, não é remunerado. Casagrande também frisou que o tucano não vai receber dois salários por acumular funções a partir de 2023.
SUCESSÃO
O pagamento de Ricardo pode ser outro, não pecuniário. A visibilidade que ele vai ter como supersecretário é um ativo para a corrida eleitoral de 2026.
Evidentemente, há muita água para passar por baixo da ponte até lá. Mas o vice eleito é lembrado desde já como um possível candidato ao Palácio Anchieta, afinal, Casagrande não vai poder tentar a reeleição.
"Não tem nenhuma conversa minha e de Ricardo em relação a 2026. É preciso ter cautela, humildade, não temos controle de processos políticos. Diversas lideranças trabalham para se fortalecer. Não poderei ser candidato a governador e tenho um papel de fazer a transição política e administrativa. Ricardo vai me ajudar a fazer isso. Mas não posso apontar candidato para 2026 em 2022", ressaltou o governador.
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