
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), "abraçou o Paulo", como dizia o jingle do ex-goverador Paulo Hartung na campanha eleitoral de 2014. Os dois se encontraram na inauguração de uma fábrica da Klabin, em Piracicaba (SP), nesta quinta-feira (27). Hartung fez questão de publicar um registro no Instagram. O ex-governador vai se filiar ao PSD, presidido nacionalmente por Gilberto Kassab, em maio. O PSD é aliado de Tarcísio, aliás, o próprio Kassab é secretário estadual de Governo em São Paulo.
Ao discursar, no evento da Klabin, Tarcísio elogiou Hartung e o chamou de "mentor":
"Paulo é um grande exemplo, um grande gestor, com o qual tive a oportunidade de conviver em outros carnavais, em discussões sobre Infraestrutura. Paulo é um gestor que inspira. Mais que uma referência, hoje, para mim, já virou um mentor".
"Como é bom me aconselhar com você, pela sua capacidade, pelo seu talento e pelo seu compromisso com o país", completou.
Tarcísio é um político de centro-direita, mas flerta bastante com o bolsonarismo. Considera Jair Bolsonaro (PL) "a principal liderança política do Brasil" e é uma das principais apostas da direita para concorrer ao Palácio do Planalto, uma vez que o ex-presidente da República está inelegível.
O PSD de Kassab/Hartung também tem ministérios no governo Lula (PT) e, assim, mantém um pé em cada um dos principais lados do tabuleiro político nacional.
As escolhas a serem feitas pelo PSD até a eleição de 2026 são relevantes, uma vez que a sigla cresceu bastante no país e Kassab é referência quando o assunto é articulação política.
Enquanto isso, no Espírito Santo, o suspense nos bastidores é quanto ao que Hartung vai fazer.
Disputar o governo? O Senado? Não ser candidato a nenhum cargo, mas tentar influenciar a disputa? O ex-governador, como sempre, mantém a indefinição até o último momento e, assim, de certa forma, já influencia a corrida eleitoral, já que aliados e adversários têm que se preparar para todos os cenários.
O afago de Tarcísio — e o fato de Hartung dar visibilidade a isso — pode ser interpretado como um sinal de que o ex-governador está mais interessado em atuar na política nacional. Ser o "mentor" de um candidato à Presidência da República tem seu valor.
O ex-governador também foi o "mestre Miyagi" do apresentador de TV Luciano Huck, mas este decidiu não se lançar na corrida pelo Palácio do Planalto em 2022.
O gesto desta quinta-feira em São Paulo pode soar ainda como mais um sinal de proximidade de Hartung com o Republicanos de Tarcísio. Esse é também o partido do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini.
O prefeito da Capital já foi elogiado publicamente pelo ex-governador e saudado como "nova liderança" que se consolida no Espírito Santo.
Além disso, ex-integrantes do governo Hartung compõem a equipe da Prefeitura de Vitória, como o secretário municipal de Gestão e Planejamento Regis Mattos Teixeira, que foi titular da pasta estadual de Economia e Planejamento, entre 2015 e 2018.
Pazolini movimenta-se para disputar o Palácio Anchieta no ano que vem e uma aliança entre o PSD e o Republicanos, assim como ocorre no estado de Tarcísio de Freitas, é bem plausível.
Hartung pode estar apenas se cacifando para jogar, mesmo, na política nacional, mas é preciso lembrar que, em dezembro do ano passado, ao anunciar que o ex-governador vai se filiiar ao PSD, Kassab ressaltou que "o Espírito Santo e o Brasil ganham muito com a volta" dele.
O presidente nacional do PSD, em entrevista a O Globo, ainda provocou: "Se eu fosse morador do Espírito Santo, eu não deixaria passar a oportunidade de de pressioná-lo para ser candidato".
Não creio que o ex-governador vá disputar o Palácio Anchieta. O Senado é mais provável, mas ainda assim uma incógnita.
Hartung está mais voltado à política nacional desde que encerrou o último mandato à frente do Executivo estadual, em 2018. De lá pra cá, fez incursões em prol de um ou outro candidato ao governo do Espírito Santo, mas sempre nos bastidores.
Em 2022, por exemplo, incentivou o então superintendente da Polícia Federal Eugênio Ricas a se filiar ao PSD e concorrer, ao mesmo tempo em que abençoava o ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon, no mesmo PSD, para disputar o governo. Como cada sigla pode lançar apenas um nome, Ricas desistiu, nem se filiou e saiu magoado da história.
Guerino, por sua vez, foi candidato ao Palácio naquele ano, mas não contou com o apoio declarado de Hartung. Ficou em terceiro lugar, com 7% dos votos.
A questão agora é se o ex-governador entraria em campo abertamente a favor de Pazolini. Se disputar o Senado pelo PSD numa chapa com o Republicanos, certamente, isso ocorreria. Para o Republicanos, de qualquer forma, uma aliança formal com o PSD viria a calhar.
Em 2024, o partido apoiou a eleição de Renzo Vasconcelos, prefeito de Colatina e presidente estadual do PSD, o que dá margem a uma eventual parceria em 2026. A filiação de Hartung ao PSD, entretanto, é que o mais contribui para isso, uma vez que o partido de Renzo, até antes do pleito do ano passado, era mais próximo de Casagrande.
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