Este é um espaço para falar de Política: notícias, opiniões, bastidores, principalmente do que ocorre no Espírito Santo. A colunista ingressou na Rede Gazeta em 2006, atuou na Rádio CBN Vitória/Gazeta Online e migrou para a editoria de Política de A Gazeta em 2012, em que trabalhou como repórter e editora-adjunta

Weverson Meireles deleta menções à sigla "LGBT" em plano de governo

Candidato do PDT a prefeito da Serra disputa o segundo turno contra Pablo Muribeca (Republicanos). Após ser alvo de ataques, pedetista excluiu até a palavra "diversidade" do texto

Vitória
Publicado em 21/10/2024 às 19h12
Weverson Meireles, candidato à Prefeitura da Serra entrevistado por A Gazeta e CBN Vitória
Weverson Meireles disputa o segundo turno da corrida eleitoral pela Prefeitura da Serra. Crédito: Ricardo Medeiros

O candidato a prefeito da Serra Weverson Meireles (PDT) modificou o plano de governo registrado na Justiça Eleitoral. As cinco breves menções à sigla "LGBT" no documento de 80 páginas foram deletadas. Até a palavra "diversidade" foi excluída de um parágrafo.

O plano original foi lançado no dia 12 de agosto. Na última quinta-feira (17), contudo, o candidato do PDT solicitou à 26ª Zona Eleitoral da Serra "a alteração do plano de governo, bem como requer a juntada do novo plano de governo que segue em anexo".

O novo plano também tem 80 páginas. Nunca houve citação a "ideologia de gênero nas escolas" em nenhum dos documentos, ao contrário do que críticos de Weverson apregoam, mas mesmo assim o pedetista resolveu eliminar qualquer alusão à comunidade LGBTQIAP+. 

Antes, o candidato a prefeito pretendia, se eleito, "implantar o Tripé da Cidadania LGBTI+ com a criação do Conselho, Cargo Representativo na Gestão Municipal e o Plano Municipal", como consta na página 53 do texto original.

Esse trecho foi totalmente suprimido do tópico "direitos humanos e cidadania".

O "Projeto esse é meu nome", que consistia em "realizar campanhas de sensibilização e combate à LGBTfobia, promovendo o respeito à diversidade sexual e de gênero", também foi descartado.

E o mesmo ocorreu com a proposta de "fomentar o diálogo e a colaboração com organizações LGBT+ dentro dos territórios para identificar e atender às necessidades específicas da comunidade".

A sigla "LGBT" foi banida até de um parágrafo que elenca dados estatísticos sobre a Serra. Originalmente, a explanação sobre o "cenário atual" em "direitos humanos e cidadania" dizia o seguinte:

"Segundo o IBGE, em nosso município residem 116.519 jovens entre 15 e 29 anos; dez por cento da população se reconhece como LGBTI+; cerca de 400 pessoas estão em situação de rua e, entre elas, pessoas em estado de uso abusivo de álcool e outras drogas; reforçamos as políticas de direitos humanos com base nas notificações nos casos de violência interpessoal/autoprovocada de munícipes de Serra no Sistema de Informação e-SUS VS, totalizando 52,69 notificações por semana".

No novo plano, dez por cento da população foram desprezados.

No trecho imediatamente anterior, ainda na página 52, o programa original de Weverson lembrava que "a Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania (...) reativou o Conselho Sobre Drogas (COMSOD) e fortaleceu o Conselho de Direitos Humanos, o Conselho da Juventude e o Fórum LGBTI+".

Em 17 de outubro, "o Fórum LGBTI+" foi excluído do texto.

Weverson pretende implantar o "Projeto Cidadania nas Escolas e nas Comunidades", que pretendia "ampliar, promover e abordar temas como igualdade, diversidade, não discriminação, assédio, respeito mútuo, entre outros".

Mas o novo plano já não pretende aumentar a "diversidade", palavra que foi removida.

COMPROMISSO COM PASTORES

O plano de governo do candidato do PDT não causou nenhum alvoroço no primeiro turno. Weverson recebeu 97.087 votos no dia 6 de outubro e passou à segunda etapa do pleito em primeiro lugar.

Numa guinada surpreendente, ele desbancou o até então favorito na corrida, o ex-prefeito da Serra Audifax Barcelos (PP), que liderava as pesquisas de intenção de voto até a reta final.

No segundo turno, a campanha mudou. O adversário do pedetista, Pablo Muribeca (Republicanos), e os apoiadores do republicano, trouxeram temas "conservadores" ao debate.

Passaram a compartilhar trechos descontextualizados do plano de Weverson e a afirmar que o candidato do PDT defende "ideologia de gênero nas escolas", o que não é verdade.

Mesmo assim, a estratégia movimentou líderes religiosos.

O presidente da Comissão de Assuntos Políticos da Convenção das Assembleias de Deus no Estado do Espírito Santo (Cadeeso), pastor Rafael Ferreira, por exemplo, chegou a retirar o apoio que havia dado a Weverson. Em entrevista à coluna, Ferreira se disse contrário até mesmo a "ampliar, promover e abordar temas como igualdade e diversidade".

"Por que ampliar? (A comunidade LGBTQIAP+) é um grupo tão representativo assim na sociedade?", questionou o pastor.

Deu-se, então, uma "guerra santa", em que Weverson e Muribeca passaram a disputar o endosso de lideranças evangélicas. Vários pastores continuavam ao lado do pedetista.

No último dia 14, o próprio Rafael Ferreira voltou atrás e reafirmou o apoio a Weverson.

Entre uma coisa e outra, o candidato do PDT assinou uma carta em que se comprometeu a "não apoiar ideologia de gênero" e qualquer outra pauta que contrarie a palavra de Deus".

Tudo isso culminou na modificação do plano de governo.

Nesta segunda-feira (21), durante debate realizado por A Gazeta e CBN Vitória, Muribeca leu trechos do plano de governo original de Weverson, as menções à sigla "LGBT", num tom alarmista e condenatório.

Weverson limitou-se a dizer tratar-se de "fake news" e não contou que modificou o texto.

O candidato do PDT ainda afirmou ser "contra ideologia de gênero" e contou que é evangélico.

Após o debate, fui checar, mais uma vez, o programa no site DivulgaCand, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Lá, estão os dois planos, o original e o reformulado.

Carta assinada por Weverson Meireles e pastor
Carta assinada por Weverson Meireles. Crédito: Reprodução

Ao fazer as alterações aqui reveladas, Weverson, sua equipe de campanha e apoiadores mais próximos fizeram uma escolha. Certamente, calcularam que, na Serra, eleitores preocupados com direitos humanos e cidadania, pessoas contrárias à discriminação e à homofobia, são minoria.

Considerando que boa parte da população é evangélica, imaginam que uma fatia considerável do eleitorado pode ser suscetível a discursos homofóbicos e a desinformação propagada por políticos e líderes religiosos conservadores. 

Assim, pragmaticamente, preferiram agradar ao segmento que pode fornecer mais votos. 

Toda essa manobra é, no mínimo, pouco transparente e sintoma de um retrocesso civilizatório que não podemos creditar apenas ao candidato do PDT. 

O QUE DIZ WEVERSON

A coluna procurou Weverson Meireles, diretamente e por meio da assessoria de imprensa dele, mas, até a publicação deste texto, não houve retorno.

Plano de governo original de Weverson Meireles

O arquivo, em PDF, tem 80 páginas. Há quatro menções à sigla LGBT. O texto foi inserido no sistema da Justiça Eleitoral no dia 12 de agosto, no primeiro turno da disputa pela Prefeitura da Serra. Veja a íntegra

Plano de governo modificado de Weverson Meireles

Em meio à campanha eleitoral no segundo turno, no dia 17 de outubro, Weverson enviou outro plano de governo. Nesse, as menções a LGBT, LGBTfobia e até à palavra "diversidade" em um parágrafo específico, foram deletadas. Veja a íntegra (também tem 80 páginas)

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