Natural, orgânico e biodinâmico são termos cada vez mais presentes ao lado do nome dos vinhos disponíveis no mercado. Mas, afinal, o que eles agregam de positivo a esses vinhos? Em que sentido eles se diferem de todos os outros, frequentemente denominados pelos apreciadores mais radicais como vinhos “industrializados”.
Como não há uma regulamentação formal que englobe todos os aspectos relativos a esses tipos de vinhos, é necessário tratar o assunto por etapas: desde as condições de cultivo dos vinhedos até a forma como o vinho propriamente dito é elaborado.
Por definição, não existe um vinho orgânico (ou biodinâmico). O que existe são vinhas cultivadas de maneira orgânica, ou seja, sem nenhum (ou quase nenhum) uso de defensivos agrícolas e de fertilizantes químicos. Complementando esse manejo mais saudável e natural, os viticultores podem se valer também de práticas biodinâmicas no trato da terra, da vinha e das uvas.
VINHOS DE CULTIVO ORGÂNICO
No Brasil existem normas que certificam os produtos orgânicos de origem agrícola. No caso dos vinhos nacionais, a existência do selo “Produto Orgânico Brasil” é uma garantia desse manejo. Para vinhos do resto do mundo, existem diversas certificadoras que atestam as condições de manejo dos vinhedos, dos vinhos e dos seus métodos de produção.
VINHOS BIODINÂMICOS
Os conceitos adotados nesse tipo de cultivo são baseados na filosofia desenvolvida pelo austríaco Rudolf Steiner, nos anos 1920. Assim, o vinho biodinâmico existe como uma variante complementar ao vinho orgânico, incorporando aspectos holísticos (e um tanto esotéricos) da natureza no cultivo das uvas: desde a observância das fases da lua (e da energia cósmica) para as diversas etapas do cultivo até a preparação do solo com misturas feitas com chifres de boi, crinas de cavalo, esterco e ervas, destinados a enriquecer o solo e buscar uma maior sintonia com a natureza.
VINHOS NATURAIS
Enquanto os vinhos dito orgânicos e/ou biodinâmicos remetem, a princípio, apenas ao trato com os vinhedos e as uvas, os vinhos naturais enfatizam o processo de elaboração. Do ponto de vista enológico, o objetivo dos produtores é fazer um vinho com a menor intervenção possível.
Em suma, a intervenção humana não vai além da condução do processo de fermentação com leveduras indígenas, sem nenhum tipo de adição de quaisquer produtos enológicos permitidos pela legislação, especialmente de conservantes (sulfitos), tolerado apenas em doses mínimas. Em tese, nada deve ser acrescentado ao vinho natural de forma que altere sua essência. Ele pretende refletir apenas sua origem geográfica e a qualidade das uvas colhidas em um determinado local.
QUALIDADE E ESCALA
Obviamente, o cultivo de vinhedos orgânicos e/ou biodinâmicos é mais caro, trabalhoso e arriscado do que os métodos convencionais, além de pouco viáveis para uma produção em larga escala. Eles funcionam bem para produções de pequeno porte e com alto grau de controle sobre as vinhas, plantas notoriamente suscetíveis a diversas pragas. Em vinhedos de grande extensão, o risco de perdas expressivas é bastante factível e pode inviabilizar a produção em anos de clima desfavorável.
De todo modo, cabe compreender que a qualidade de um determinado terroir e a habilidade do produtor são as peças chave para o sucesso dos vinhos elaborados dentro desses preceitos. Não basta ser nomeado como natural, orgânico ou biodinâmico para ser considerado um vinho de qualidade superior. O maior dos méritos desses vinhos reside em sua autenticidade enológica e em seu respeito à saúde da natureza e a de seus consumidores.
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