Na coluna anterior, falei sobre os vinhos de Bordeaux e contei um pouco da história da classificação de seus famosos grands crus. Agora chegou a vez de apresentar um outro conjunto de vinhos da França, tão famosos (ou mais): os grands crus da Borgonha.
Existem inúmeras diferenças entre os vinhos das duas regiões, mas talvez a mais importante delas envolva a importância do conceito de terroir. Como não é possível fazer uma tradução literal dessa palavra, a melhor forma de sintetizar seu significado é dizer que ela agrega as interações entre o solo, o clima, as vinhas e o ser humano na elaboração dos vinhos.
Enquanto a definição dos grandes vinhos de Bordeaux levou em consideração o preço e o status da propriedade na época da classificação (e que continua válida até hoje), na Borgonha essa definição envolveu um aspecto mais singular, refinado ao longo de séculos: a qualidade do solo.
Desde a Idade Média, os monges cistercienses, responsáveis pelo cultivo das vinhas na região, foram pacientemente identificando as diversas características do solo e selecionando as uvas que apresentavam os melhores resultados em cada parcela de terreno.
Esse processo de seleção perdurou até a Revolução Francesa (1789), quando todos os vinhedos foram tomados pelo Estado e posteriormente vendidos em leilão. Ao longo de quase 150 anos, os novos proprietários respeitaram, sabiamente, os preceitos e as divisões de vinhedos estabelecidos pelos monges.
O SURGIMENTO DOS 33 GRANDS CRUS
Finalmente, em 1936, com a formalização das AOCs (apelações de origem controlada) na Borgonha, surgiram oficialmente os 33 grands crus da região. Estes, cuja área de aproximadamente 550 hectares é estritamente demarcada, representam apenas uma minúscula fração dos vinhedos da região, produzindo menos de 2% do total de vinhos.
Alguns vinhedos são tão pequenos, como o La Romanée (de apenas 0,84 hectares), que produzem poucos milhares de garrafas por ano. Os maiores, Le Corton e Chablis (somando as sete parcelas) ocupam cerca de 100 hectares.
A imensa maioria dos grands crus da Borgonha está inserida numa área conhecida como Côte d’Or, subdividida em Côte de Nuits, onde estão 24 deles, e Côte de Beaune, com outros oito vinhedos. O grand cru restante, dividido em sete parcelas, fica em Chablis, no extremo norte da Borgonha.
Como mencionei acima, ao contrário de Bordeaux, onde a classificação dos grands crus está ligada a uma propriedade (château), na Borgonha esse status é diretamente relacionado ao terreno e, no caso, à sua excepcional qualidade.
Assim, mais de um produtor pode vinificar um determinado grand cru, ou mesmo vários deles, desde que possua vinhas dentro do vinhedo demarcado, muitas vezes por muros de pedra, algo bastante comum, seja por questões hereditárias, seja pela aquisição das terras. A única exceção a esse modelo são os vinhedos “monopoles” que, cujo nome indica, pertencem a um único proprietário (como o renomado Romanée-Conti).
Dizem que os vinhos de Bordeaux são "vinhos de barões", enquanto os vinhos da Borgonha são "vinhos de camponeses”. Pode até ser verdade em relação a quem os produz, mas diante do intrincado sistema de produção, em áreas extremamente restritas, a reputação e a qualidade dos vinhos da Borgonha os leva cada vez mais a patamares estratosféricos de preço.
OS 33 GRAND CRUS DA BORGONHA E SUAS POSIÇÕES GEOGRÁFICAS:
- Côte de Nuis (todos tintos)
- Chambertin-Clos de Bèze (Gevrey-Chambertin)
- Charmes-Chambertin (Gevrey-Chambertin)
- Chapelle-Chambertin (Gevrey-Chambertin)
- Griotte-Chambertin (Gevrey-Chambertin)
- Latricières-Chambertin (Gevrey-Chambertin)
- Le Chambertin (Gevrey-Chambertin)
- Mazis-Chambertin (Gevrey-Chambertin)
- Mazoyères-Chambertin (Gevrey-Chambertin)
- Ruchottes-Chambertin (Gevrey-Chambertin)
- Bonnes-Mares (Morey-Saint-Denis)
- Clos de la Roche (Morey-Saint-Denis)
- Clos des Lambrays (Morey-Saint-Denis)
- Clos de Tart (Morey-Saint-Denis)
- Clos Saint-Denis (Morey-Saint-Denis)
- Bonnes-Mares (Chambolle-Musigny)
- Le Musigny (Chambolle-Musigny)
- Clos de Vougeot (Vougeot)
- Échezeaux (Flagey-Echézeaux)
- Grands Échezeaux (Flagey-Echézeaux)
- La Grande Rue (Vosne-Romanée)
- La Romanée (Vosne-Romanée)
- La Tâche (Vosne-Romanée)
- Richebourg (Vosne-Romanée)
- Romanée-Conti (Vosne-Romanée)
- Romanée-Saint-Vivant (Vosne-Romanée)
- Côte de Beaune (tintos e brancos)
- Le Corton (Aloxe-Corton e Ladoix-Serrigny) Tintos
- Corton-Charlemagne (Aloxe-Corton) Brancos
- Bâtard-Montrachet (Puligny-Montrachet) Brancos
- Bienvenues-Bâtard-Montrachet (Puligny-Montrachet) Brancos
- Chevalier-Montrachet (Puligny-Montrachet) Brancos
- Le Montrachet (Puligny-Montrachet e Chassagne-Montrachet) Brancos
- Bâtard-Montrachet (Chassagne-Montrachet) Brancos
- Criots-Bâtard-Montrachet (Chassagne-Montrachet) Brancos
- Chablis (todos brancos)
- Chablis Grand Cru (Les Clos, Blanchots, Les Preuses, Bougros, Grenouilles, Valmur e Váudesir)
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