Luiz Cola é enófilo há mais de vinte anos e membro de diversas confrarias de vinho no ES. Realiza palestras, cursos, degustações temáticas e presta consultoria em vinhos para restaurantes e adegas

Pinot noir: conheça essa sedutora e temperamental casta tinta

Uma das uvas mais admiradas pelos enófilos, a pinot noir é exigente em relação ao clima, ao tipo de solo e aos métodos de elaboração dos vinhos

Publicado em 26/06/2020 às 13h46
Atualizado em 26/06/2020 às 14h46
Uvas viníferas Pinot Noir
Uvas viníferas Pinot Noir. Crédito: Pixabay

Uma das castas mais apreciadas e admiradas do planeta, a Pinot Noir se constitui num verdadeiro desafio para qualquer enólogo que tente domar sua natureza temperamental e sua dificuldade de cultivo. Ela é extremamente exigente em relação ao clima (preferencialmente frio), ao tipo de solo onde está inserida e aos métodos de cultivo e elaboração dos vinhos.

Enquanto castas como a Cabernet Sauvignon e a Merlot conseguem entregar ótimos resultados quando plantadas em regiões distintas de seus locais de origem, adaptar a Pinot Noir fora de seu restrito habitat é uma tarefa inglória para os vitivinicultores.

A França ocupa o primeiro lugar no ranking de vinhedos plantados com a casta: cerca de 30 mil hectares, distribuídos basicamente entre as regiões de Champagne, Borgonha, Alsácia, Jura e, em menor escala, Vale do Loire.

O segundo posto nesse ranking pertence aos EUA, com pouco mais da metade da área francesa - quase 17 mil hectares, espalhados pela Costa Leste nos estados da Califórnia, Oregon e Washington.

A Alemanha, onde a casta é conhecida pelo nome Spätburgunder, completa esse pódio com pouco mais de 11 mil hectares de vinhedos, sobretudo na região de Baden, na Francônia (Franken) e em Württemberg. Atualmente, mesmo nas áreas onde a casta branca Riesling impera - Mosel e Palatinado ou Pfalz, já existem ótimos exemplares elaborados com a Pinot Noir.

Vinhedo Richebourg, na região da Borgonha
Vinhedo Richebourg, na Borgonha. Crédito: Luiz Cola

Fora desse circuito restrito, alguns ótimos resultados podem ser encontrados na longínqua Nova Zelândia, com destaque para as zonas de Marlborough e Central Otago. Aqui na América do Sul, as zonas litorâneas de San Antonio e Leyda, no Chile, a Patagônia Argentina e até mesmo o Brasil, produzem de maneira pontual alguns pinots bem interessantes.

Ainda que existam todos esses bons resultados espalhados mundo afora, é na Borgonha, essencialmente na Côte d’Or (dividida em Côte de Nuts e Côte de Beaune), que a Pinot Noir oferece todo o seu esplendor. De villages como Gevrey-Chambertin, Chambolle-Musigny e Vosne-Romanée saem para o mundo os mais sofisticados, sedutores e desejados vinhos elaborados com a casta.

Vinhedo Romanée-Conti, na região da Borgonha
Vinhedo Romanée-Conti. Crédito: Luiz Cola

Para realçar ainda mais a perfeita combinação existente entre a Pinot Noir e a Borgonha, ao longo de séculos de cultivo e observação, os monges cistercienses, antigos donos dessas terras, foram capazes de selecionar diferentes parcelas onde a casta apresenta resultados mais diversos e expressivos.

Essa miríade de facetas do terroir expressada pela Pinot Noir em pequenas áreas, muitas vezes contíguas, é um de seus aspectos mais fascinantes e estimulantes para qualquer enófilo. Porém, fazendo jus à sua fama de temperamental, os vinhos de uma mesma apelação podem, conforme a safra ou o produtor, parecer magros, apagados e frustrantes.

Outro fator que costuma assustar aqueles que desejam beber esses vinhos é o preço. Infelizmente, em virtude do ínfimo tamanho dos vinhedos, que não podem ter sua área ou rendimento ampliados, a quantidade produzida é sempre muito pequena. Além disso, a maioria dos melhores vinhedos possuem vários donos, capazes de produzir apenas centenas ou poucos milhares de garrafas anualmente.

Por sua vez, a demanda é gigantesca, sobretudo entre quem pode pagar sem perguntar o preço. Não por acaso, da Borgonha saem os vinhos mais caros do mundo.

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