Algumas regiões vinícolas desfrutam de um merecido prestígio entre os enófilos. Nomes como Bordeaux, Borgonha, Champagne, Piemonte, Toscana, Douro e Rioja ecoam como símbolos de qualidade para os vinhos oriundos dessas regiões. A fama associada a essas zonas produtoras foi construída ao longo de muitas décadas, séculos até, graças à consistência de seus vinhos que, safra após safra, ofereciam um diferencial inequívoco sobre os vinhos de outras regiões.
Uma das maneiras mais interessantes para comprovar se toda fama e prestígio de uma determinada região ainda se justifica (ou persiste apenas como tradição) é por meio de uma degustação vertical. Isso significa degustar vários rótulos de uma zona específica, mas de safras diferentes, até mesmo de décadas diferentes em alguns casos.
Para corroborar a qualidade dos vinhos de uma dessas regiões produtoras de destaque (e também uma de minhas prediletas), realizei uma degustação de tintos da Rioja (Espanha) produzidos em seis décadas distintas, das safras 1959, 1964, 1973, 1985, 1995 e 2001.
Além de avaliar a consistência qualitativa desses vinhos e de uma safra específica ao longo do tempo, essa prova vertical tão “esticada”, um intervalo entre 18 e 60 anos, permite que determinemos com maior precisão o momento ideal de consumo desses vinhos. Ainda que seja comum falarmos no longo tempo de guarda de certos vinhos, o que realmente interessa saber é qual o seu período de apogeu, ou seja, a fase de sua guarda em que alcança a máxima expressão de sua qualidade.
Essa é uma tarefa perfeita para uma degustação vertical. Então, vamos aos resultados desse painel de grandes vinhos tradicionais da Rioja, cujas safras também foram consideradas de alta qualidade:
- 1. Bodegas Palácio Glorioso Reserva Especial 1959 - É um privilégio poder apreciar uma taça de um vinho tão complexo, elegante e ainda cheio de vida após 60 anos desde a sua elaboração. São garrafas como essa que conferiram a Rioja seu elevado status entre os apreciadores de vinhos ao longo dos últimos 140 anos. Soberbo!
- 2. Bodegas Faustino I Gran Reserva 1964 - Já tive o prazer de degustar esse clássico tinto riojano de inúmeras safras, sempre com ótimas lembranças. Esse 1964, ano de uma das melhores safras da história da Rioja, repetiu a performance de outras provas anteriores, entregando muito frescor, caráter gastronômico e intensidade no paladar. Merece destaque sua excelente relação preço x qualidade na comparação com outros rótulos de prestígio na região.
- 3. Bodegas Martinez Bujanda Grandes Reservas 1973 - Esse vinho faz parte de uma coleção de safras dos anos 1960 e 1970 que ficaram mais de duas décadas em grandes tonéis de carvalho antes de serem engarrafados. Esse longo processo de guarda conferiu um sutil traço oxidativo ao vinho que pode até desagradar alguns, mas que lhe confere um caráter muito particular e interessante.
- 4. Bodegas López de Heredia Viña Tondonia Reserva 1985 - Minha vinícola preferida não poderia ficar de fora dessa prova. Os vinhos da López de Heredia têm uma “assinatura” única, carregada de refinamento e complexidade aromática e gustativa. Mesmo sendo uma versão Reserva, esse 1985 ainda se apresentou jovem, com espaço para evoluir muitos anos mais. Isso não o impediu de ser menos agradável de beber, mas ainda está longe de seu apogeu.
- 5. Bodega La Rioja Alta Gran Reserva 904 1995 - Outra bodega clássica da Rioja localizada nos arredores de Haro que sempre entrega vinhos de alta qualidade. Assim como o Tondonia 1985, esse 904 1995 mostrou-se numa fase “adolescente”, com muitos anos de evolução pela frente. Deliciosamente jovem, mas com estrutura tânica e acidez para amadurecer por mais umas duas décadas.
- 6. Bodega La Rioja Alta Viña Ardanza Reserva Especial 2001 - A Viña Ardanza pertence a La Rioja Alta, mas fica em outra parte da denominação de origem. Esse tinto da histórica safra 2001 alcançou uma qualidade tão distinta que mereceu ser um dos três únicos vinhos ao longo de sua história a receber a chancela ”Reserva Especial” (apenas o de 1964 e de 1973 haviam merecido essa deferência). Na taça, o resultado não poderia ser outro: um vinho repleto de qualidade e sofisticação, apto a ser bebido com “apenas” 18 anos de idade, mas já indicando seu grande potencial para os anos futuros. Excelente!
Os resultados obtidos nessa prova são incontestáveis, confirmando plenamente a capacidade de elaboração de grandes (e longevos) vinhos na Rioja. Por outro lado, também deixam claro que é necessária uma boa dose de paciência para deixar que o tempo faça o seu trabalho e os torne ainda melhores que em sua juventude. Quem viver, verá!
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