Está começando um daqueles anos horríveis. Bem que poderia ser diferente. Mas não é assim que está escrito nas estrelas. Apesar dos apelos à Iemanjá, no último dia do ano, os próximos meses não prometem flores.
A primeira vez que ouvi falar em annus horribilis foi na última década do século passado. Foi assim que a Rainha Elizabeth se referiu àquele ano em que terríveis acontecimentos desnortearam sua majestade. Divórcio dos filhos, o incêndio que quase botou abaixo o Castelo de Windsor e a decisão do Parlamento que a obrigou a pagar imposto. Mais horribilis, para ela, impossível.
Mas a rainha não viu nada. Tem coisa muito pior por estas bandas de cá. E a hora é agora. Preparem-se todos porque o jogo vai começar. Não... ainda não abriram as portas dos cassinos. Somente as portas do inferno: este ano teremos eleições municipais! Cruz-credo, mangalô três vezes!
Falando sério, que tal foram as suas escolhas nas últimas eleições? Os vereadores que você andou elegendo conseguiriam ser, pelo menos, aprovados nas provas do Enem? Eles saberiam dizer, de pronto, quantos médicos por habitante têm as suas cidades? Que vereador você conhece que já tenha liderado um movimento pela melhoria da qualidade de vida dos moradores de periferias? Todos aqueles em que você votou saberiam quanto custa um botijão de gás? Uma obturação de dente?
Pois é... mas ninguém melhor do que eles sabe como fazer uma festiva sessão de homenagens. Homenagens que buscam, com maestria, pincelar com o verniz da vaidade o ego de mais e mais possíveis eleitores.
Cantores, escritores, presidentes de associações de bairros, professores, líderes rurais, amigos. Tudo isso no horário de trabalho que começa – Deus tá vendo! – com a leitura de um salmo da bíblia. O curioso é que não se sabe de nenhum homenageado que tenha publicamente retribuído a gentileza de suas excelências. Um monte de gente ingrata? Que nada, todos eles sabem muito bem com quem estão lidando.
A partir deste mês, desconfie de todos os sorrisos gratuitos. De todos os cerca-Lourenços. Fuja de cada papo-furado e não aceite santinhos. Muito cuidado porque eles estarão de plantão em cada esquina, em cada mesa de bar, nas igrejas, por onde quer que você ande. É do seu tempo a gripe asiática? Pois é, a maldita pegou todo mundo. Essa é a intenção deles.
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A experiência me ensinou a driblar esse pessoal, que não respeita nem as feiras livres. Onde eles chegam sempre escoltados por um grupo de amigos. Para me ver livre desse assédio (assédio não é crime?) desenvolvi uma estratégia que funciona que é uma beleza. Ao chegar à feira, compre logo uns cinco amarrados de taioba. Quando o candidato e sua tropa de choque vier se aproximando, levante as taiobas e fique parado junto ao meio-fio. Garanto que a maioria deles vai achar que você é uma árvore. Aposto quanto você quiser.
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