Com muito tempo sobrando pra conversar, ler, assistir e inventar moda, passei a prestar atenção numa prática muito comum do jornalismo atual. Nos jornais, nas rádios e na televisão, volta e meia, somos chamados para matérias especiais, sobre assunto de real interesse de todos. Mas o que chama a atenção é a retranca dessas chamadas: “Reportagem completa”. Então fiquei a imaginar como seria uma reportagem incompleta. Pelo menos anunciada como tal.
Queimei a mufa – como se falava – buscando um exemplo dessa possibilidade. Talvez uma matéria que relatasse o mundo de ensinamentos que recebemos de nossos pais nunca fosse completa.Vejamos. Desde o saudável arroto, um providencial alívio para os gases depois da mamada, até a maneira certa de escanhoar a barba, na adolescência,aprendemos com eles.
Na escola nos ensinaram para que serve a tabela periódica (pra que serve mesmo?). Mas foi um pai que ensinou aos filhos como soltar uma pipa. Foram as mães que ensinaram as filhinhas a treinar com bonecas os futuros banhos de suas possíveis netas. Na escola nos contaram tudo sobre a vida de Tiradentes. Da qual lembramos mais ou menos. Mas foi em casa que nos tornamos íntimos de Chapeuzinho Vermelho. E de suas aventuras nunca mais nos esquecemos.
Andar de bicicleta, pular corda, fazer um estilingue, ganhar figurinhas no bafo. Amassar um bolo de farinha pra pescar piaba; meter a mão na loca, no barranco do rio, pra pegar cascudo, se você é do interior. Pescar siri no jereré e catar budigão na areia da praia, se é do litoral. São heranças eternas de pais para filhos. Foram as mães que ensinaram às filhas a fazer tranças, a juntar graça e conhecimento e serem obstinadas na conquista de seus ideais.
Foram os pais que ensinaram boas maneiras aos filhos. A cumprimentar as pessoas, a reverenciar os avós, os tios e os amigos da família. Foram as mães que abriram para os filhos as cortinas do palco de todas as história infantis que conhecemos: a Gata Borralheira, João e Maria ,Os Três Porquinhos.... e mais uma ou duas que todas acabavam inventando para ver se você dormia mais depressa.
A escola ensina a construir edifícios. Mas foi sua mãe que lhe ensinou a fazer castelos de areia. Aposto. E nos fins de semana foi seu pai quem o levou à banca de jornais para iniciar você na leitura prazerosa.
Quem lhe ensinou a andar de bicicleta? Seu pai, claro. E quem levou você aos primeiros bailes infantis de carnaval? Sua mãe, claro.
Os pais são na verdade os maiores e mais competentes mestres do universo. Plenos de conhecimento, rigorosos, excessivamente duros às vezes, mas cheios de amor até não caber mais. Com eles aprendemos tudo de mais importante desta vida.
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Tudo, tudo mesmo. Tudo mesmo? Mais ou menos. Um vacilo imperdoável deles deixou a reportagem incompleta. Não é que só agora aprendemos, na televisão, como lavar corretamente as mãos? Dá pra acreditar? Ninguém é perfeito.
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