Somos escultores da nossa própria vida
Mas repare, não é sobre como esculpimos. É sobre o que nos leva a afiar...
Somos todos dançarinos, mas não é sobre como dançamos, é sobre o que nos faz dançar.
Somos todos alquimistas, mas não é sobre o dom da feitiçaria... É sobre como nos deixamos enfeitiçar.
Era uma vez um reino que tinha tudo, mas não tinha sol.
Um reino onde todos viviam na escuridão, iluminados apenas pelas chamas das velas, das baterias das lanternas e por um velho farol.
O rei deste reino, que andava muito triste e aborrecido com tanta penumbra, um dia tomou uma decisão: ordenou que chamassem até o castelo dois dos homens mais inteligentes e corajosos do povoado para resolver a questão.
Quando os homens chegaram, o rei lhes ofereceu um adiantamento em moedas de ouro para que eles descobrissem uma saída que trouxesse luz a todo o reinado.
Pois bem, os homens partiram em caminhos distintos para a missão. Um deles procurou por todos os cantos da cidade a maior fonte de luz possível. Foi até os vilarejos mais desenvolvidos, conversou com especialistas em iluminação, pesquisou sobre potências e voltagens, até que, enfim, encontrou o que lhe parecia a melhor solução. Assim, ele retornou para o castelo com uma lamparina gigante, capaz de iluminar com fartura todo o palácio real.
“Sua Alteza, eis a maior fonte de luz que já existiu” – disse ele orgulhoso, e continuou: “eu a batizei de Lógica!”
Mas para sua completa decepção, o rei não ficou satisfeito. Pelo contrário, Vossa Majestade bufou desapontado, depois apoiou o queixo na mão. Ordenou, então, que o homem fosse embora e ficou na expectativa do que o segundo lhe traria.
Mas para sua tristeza, este outro estava demorando...
Já se passava mais de uma semana.
Aconteceu que este outro homem se perdeu pelo caminho e foi parar numa floresta. E andando por entre árvores, ouvindo grunhidos de bichos, pisando em gravetos e galhos retorcidos, sem querer, ele caiu num buraco.
Um buraco escuro, largo e fundo.
Ficou todo ralado e viu suas preciosas moedas esparramadas pelo chão enlameado. Mas como ali elas não tinham nenhuma valia, ele as deixou de lado, e começou a pular na tentativa de escapar.
A noite caiu, e quando já não aguentava mais pular, derrotado, ele se sentou no chão com a cabeça entre as mãos. Foi quando percebeu que a luz da lua refletia na moeda de um jeito diferente, deixando-a brilhante. Subitamente sentiu-se animado e pôs-se a fazer todo tipo de experiência com aquele metal. Aqueceu com fogo, lapidou com pedras, derreteu, misturou... E tanto fez que aquelas moedas se transformaram num grande cristal. Este cristal brilhava tão poderosamente que iluminou tudo. Iluminou até uma espécie de degrau acidentalmente construído pela natureza.
E assim o homem saiu de lá trazendo consigo a pedra iluminada que ele resolveu denominar "Ideia".
Antes mesmo de chegar no castelo o rei já havia percebido ao longe um clarão que se aproximava, e pôs-se a gargalhar de satisfação.
Foi uma festa! Daquele dia em diante, todo o reino passou a ser iluminado por uma fabulosa Ideia.
Nota: ideia esta que não veio de graça, nem muito menos de um lugar comum. Que não foi encontrada na prateleira do supermercado, nem estava escrita em livro algum.
Pelo contrário, aquela ideia tinha vindo das entranhas do desconhecido. Do lado de dentro – que é sempre misterioso e, justamente por isso, inabitado e esquecido.
Atente, as ideias que (nos) revolucionam costumam vir do fundo do poço da gente. Do desejo de sobreviver ou de sobressair. Vêm do sagrado que nos habita em silêncio e que precisa ser desperto (pela poderosa força da vontade). Vêm do inconsciente ou, como um dia escreveu um mago, vêm da alma do Universo.
Eis uma antiga verdade...
Mas se tudo isso não fizer lá muito sentido, então que fique dito o bem pouco: a felicidade, digo, a resposta quase nunca está na lógica.
Sobretudo, não na lógica dos outros.
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