Cinco da tarde. Abro o computador e inauguro uma página em branco. O cursor pisca, me ameaçando. Ataco. Começo a teclar alguma coisa sobre "as guinadas que a vida dá" ou algo parecido. Paro. Penso. Prendo o cabelo. Estou no aeroporto de Vitória, sentada numa dessas mesinhas de madeira de um café-bar. A sala de embarque está tranquila, com algumas poucas pessoas arrastando malas e filhos.
Na mesa da frente, senta um homem que não é bonito, nem elegante, nem saudável. Ele come desajeitadamente um pão que se esfarela sobre a mesa e sobre sua camisa, que cobre como pode sua imensa barriga. Também bebe, ou melhor, chupa um café no copo de isopor fazendo um barulho horrendo. Tento não me incomodar com visão e com o áudio que o homem me propicia. Faço força para me concentrar na escrita (tenho um prazo e uma vaga ideia sobre o que queria dizer). De repente, o sujeito apanha o telefone e liga: "Oi, querida. Tá, tá tudo bem... Vitória continua feia".
– Oi? Feia? (Feio é você – não disse, mas pensei). A frase dita com aquela boca cheia de pão me agrediu. Não consegui ouvir o final da conversa, mas imagino que deve ter sido aborrecido como o início.
Feio, deixa eu te dizer o que é feio. Feio é reclamar da vida para ter assunto. Sabia?
Ora, o mundo é cheio de mentiras, de maldades, de mazelas, de feiura. Mas também é cheio de poesia, de beleza, de amor e de oportunidades. De modo que não existe ponto de vista certo ou errado. Existe o seu e pronto. Que pena se o seu for ruim... Lamento muito. Lamento de verdade... (Mentira). Na verdade nada é de graça – no sentido de que o Universo te retribui com a mesma moeda energética que você oferecer. Portanto, faça esforço (se julgar que vale a pena para fazer da vida uma coisa linda), ou continue preguiçoso, colocando a culpa sempre no outro. (Mas na minha cidade...?)
Respiro profundamente. Lembro dos sábios que falam de um estado meditativo perene, que consiste em procurar beleza, ou alegria em cada pequena coisa, em cada momento, e assim, aos fragmentos, iluminar o mundo com a luz que vem de dentro.
Obviamente (ainda) não consigo. Ainda assim, faz todo sentido. Pense comigo, é possível silenciar a mente que pensa, compara e julga para ouvir, por um instante que seja, a centelha divina que nos habita. Amor.
É como sempre digo, nem tente viver sem amor. Não dá certo. Nunca vai dar. Quer dizer, até vai... Mas o sujeito vai enxergar tudo feio. (Tadinho).
De modo que, apesar do comentário infeliz, alegria é o que desejo ao caro forasteiro. Quem sabe assim, em sua próxima visita, nossa deliciosa ilha (do Mel) consiga, enfim, ou ao menos de leve, saciar seu gosto faminto.
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