É artista e escritora, e como observadora do cotidiano, usa toda sua essência criativa na busca de entender a si mesma e o outro. É usuária das medicinas da palavra, da música, das cores e da dança

Hoje, agora e sempre, esteja presente

Pra dizer a verdade, raramente alguém precisa de aconselhamento sentimental-amoroso-financeiro. Porque todo mundo sabe que para as coisas que a gente quer mesmo, dá-se jeito

Publicado em 29/11/2020 às 05h00
Atualizado em 29/11/2020 às 05h01
Mulher desenhando
Desejo ter condição de estar no presente. Voltar a desenhar sentada no chão; visitar minhas avós; me alongar. Ser e estar em cada lugar. Crédito: Freepik

Há pouco recebi um e-mail emocionante.

Era o relato de uma jovem sobre o prematuro término de seu namoro. Ah... Tantas coisas eu gostaria de poder dizer a ela.

Também não há muito tempo, recebi o convite de casamento de um primo querido – de novo, com ele, quantas coisas eu também dividiria...

E ontem mesmo, entrou na minha caixa de WhatsApp o desabafo de uma amiga que descobriu estar grávida e anda se sentindo completamente perdida – outra vez, quantas coisas eu a diria.

Como consultora emocional de meia-tigela, para todas elas, eu sacaria da manga uma porção de questões e pensamentos a serem discutidos. Mas isso não é possível. Primeiro, o que é mais triste: nem elas, nem eu temos tempo para isso. Segundo, não é disso que nenhuma delas precisa.

Maria Sanz Martins

Cronista

"O que o coração delas (o meu e o seu) está suplicando, há tempos e de joelhos, é a mais ingênua, simples e óbvia de todas as coisas: amor. Mas pode chamar de presença"

Dizer a verdade, raramente alguém precisa de aconselhamento sentimental-amoroso-financeiro. Porque todo mundo sabe que para as coisas que a gente quer mesmo, dá-se jeito. E para as que não queremos tanto assim, inventamos uma boa desculpa e escapulimos.

O que o coração delas (o meu e o seu) está suplicando, há tempos e de joelhos, é a mais ingênua, simples e óbvia de todas as coisas: amor. Mas pode chamar de presença.

Atenção plena, tempo, carinho, paciência.

Se reparar, andamos um tanto perdidos entre as infinitas tarefas que nos acometem e as insistentes possibilidades das redes (sociais) – tão constantes e quase sempre irrelevantes.

Fazendo isso pensando naquilo, mergulhados na tela do smartphone. À deriva da própria vida. Ausentes mesmos. Profundamente rasos. Deixando de nos olhar nos olhos (mas sempre sorrindo para a foto). Sem perceber, estamos fazendo escolhas sem glúten e laços de papel crepom. Autoprogramados para o sucesso, sem sequer saber o que é isso ao certo.

É preciso estar presente em cada instante que se vive para que a vida se torne um curso de milagres. Um fluxo de sincronias, no serviço de casa, no trabalho, na criação do meu filho, na relação com meus amigos, nos cuidados comigo.

Amor... Mas é como disse, pode chamar de tempo, de respeito, de cuidado, de atenção, de zelo, de tesão, de dedicação.

Como nunca, ficou claro que fazer por fazer, fazer para dizer, fazer só pelo dinheiro ou fazer sem querer, dá no mesmo. Porque o Universo não sabe ficar prenho de desejos de celofane, nem de isopor. É preciso ter corpo e alma presentes em cada instante.

Maria Sanz Martins

Cronista

"Porque o Universo não sabe ficar prenho de desejos de celofane, nem de isopor. É preciso ter corpo e alma presentes em cada instante"

Ter o coração pulsando até para escolher sua espiga na panela de milho. Ter verdade em cada palavra dita a um filho. Colocar coração para entender as entrelinhas do refrão. Guardar a câmera do telefone na bolsa e nos darmos as mãos.

Desejo ter condição de estar no presente. Passo a passo. Sem economia de distância entre os pontos: percorrê-los.

Por que não? Voltar a desenhar sentada no chão; visitar minhas avós; me alongar. Ser e estar em cada lugar. Me envolver e abraçar a amiga que precisa de um carinho; sair para conversar com a prima que vai se casar; ler com emoção (pela centésima vez) “Os três porquinhos” para o meu filho.

Desejo ao meu e ao seu coração, tempo.

Tato. Sem análise de certo e errado.

Ser. Sem preconceitos, nem prejuízos.

Amar (nem que seja só um pouquinho) o que quer que seja aquilo que iremos fazer.

Finalmente, aos corações amigos, jovens, antigos, contemporâneos, capitalistas, sofridos, pusilânimes, sinceros, ativos, românticos ou o que mais o seu possa ser, uma certeza empírica (com hálito de baunilha): só o amor é sine qua non.

A Gazeta integra o

Saiba mais
opinião Crônica

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.