Todo homem um dia foi um menino que ouviu a frase: “você é um homem ou um rato?”.
É, “ser homem” não deve ser mesmo fácil...
Segundo a lógica mundana, meninos já nascem valentes. Pô, varão não chora nem na maternidade! Não sente medo de nada, nem fala de amor (rá! que piada), nem um monte de coisas proibidas que com o tempo criam uma casca rígida –– para um miolo fragilizado –– por falta de orientações emocionais e falta de cuidado.
“Seja macho!” –– essa é a ordem recebida ao longo da vida, e o menino escuta, a princípio, sem nem entender que raio é isso, mas vai, aos trancos e barrancos, descobrindo... É que o pai impõe, o tio zomba, o irmão compara, o vizinho bate, o colega aponta, e por aí ele vai virando “homem”, assim, entre aspas.
Sabe lá o que isso significa para um menino? Ser obrigado a controlar e reprimir toda e qualquer emoção que brote? Engolir o choro e todo veneno proveniente de sentimentos confusos, ambíguos, às vezes malignos... É, tóxico, no mínimo.
Mas o mundo inteiro faz vista grossa... Só que depois cobra! Agora me diga como é possível esperar empatia de um sujeito que sequer pôde experimentar o medo, a angústia, a tristeza? Se chorar não foi permitido.
Como esperar gentileza se o que sobra é raiva e ódio, desenvolvido às custas de repressão –– quando não porrada, literalmente?
Não por outra é comum que os homens se percam nas drogas, que abrem espaço para alguma manifestação de sentimentos reprimidos, ou pior, que estreitam o laço com a anestesia, com o apagamento, com a morte.
Isso sem falar da sexualidade, completamente comprometida com os valores precários da pornografia e da má (péssima) orientação: “meu filho, mulher ou é pra comer, ou é pra casar, saiba distinguir”.
Só que a mulher que ele aprendeu a desejar (assistindo aos vídeos) quase nunca se parecia com aquelas que ele podia apresentar para a mãe, e essa é a razão para uma série de desilusões. Então o homem não sente tesão pela recatada, teoricamente ideal, mas pela outra, que ele apesar de desejar, não consegue respeitar. E a que ele deve respeitar, não consegue desejar. Pensa numa bagunça!
Fora o incentivo corporativo para a arte da canalhice... ‘Ser homem é ser garanhão!’. Eis uma doutrina-lixo. Nota: até parece gosto, mas em realidade, para eles também é muito sofrido. Com a competição e a obrigação de se provar performático e viril, vêm as mentiras, a contação de vantagens, a covardia. Entre outras atitudes vulgares que com tempo se tornam hábitos.
Nós mulheres, que já nascemos falando das nossas emoções, e montamos rodas de conversa desde o maternal (literalmente), e seguimos trocando, chorando juntas, se abraçando, se cuidando, ao invés de cobrar, apontar e julgar, melhor seria assumirmos a responsabilidade de ensinar a eles essa possibilidade. Porque enquanto os meninos estiverem proibidos de falar, impossibilitados de se abrir, condenados ao machismo sistêmico, isolados e sofrendo calados, eles promoverão mais e mais sofrimento.
De modo que desbloquear as emoções é fundamental. Vou falar de novo, fun-da-men-tal.
Encontrar algum caminho, seja terapêutico, espiritual ou relacional, qualquer processo de desnudamento, de abertura, de encontro com a própria vulnerabilidade. Essa é uma escolha. Uma responsabilidade: sair da negação e pedir ajuda. Aliás, pedir e depois dar conta de receber.
Cabe a todos nós o esforço de desconstruírmos o machismo, olhar para os próprios bloqueios e acessar a possibilidade de nos nutrirmos, nos equilibrarmos até nos tornarmos pais e mães capazes de criar meninos sadios. Eu acho! Por homens mais humanos do que machos.
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