Uma vez, na Índia, um homem andava procurando um certo templo dourado. Ele abriu a porta de uma venda local e perguntou ao menino que brincava de peão sentado no chão: "menino, qual a distância daqui até o templo dourado?"
O menino coçou a cabeça e disse: "são quarenta mil quilômetros"
O homem ficou espantado: "o quê? Tão longe!"
E menino, "é, na direção que você está indo. Mas se você der meia-volta, são só dois quilômetros".
(Se você olhar pra fora, a jornada é infinita.
Se olhar pra dentro, pode ser só um momento).
Quem me contou essa história foi o Sadhguru.
Se a linguagem é uma tecnologia, ela é então um potencial em si.
Porque todos nós possuímos uma linguagem própria, uma forma de comunicar, desde a mais básica das necessidades, até o mais complexo dos sentidos. Então para avançar, o objetivo deve ser refinar e refinar, até que ela se torne um estilo.
Até deixar a ponta fina, bem precisa.
Mas pra isso ela precisa estar voltada para dentro. Sem dar voltas, isso significa que a linguagem pode ser o maior dos trunfos quando sustentada pela verdade do sujeito.
Porque a eficiência depende da essência. Quando a linguagem encontra respaldo na verdade, ela se pronuncia com magia, com um tipo de poder alquímico que penetra, articula-se como um insight, é recebida. Conecta.
Estamos vivendo um momento novo na roda do tempo. Uma nova Era.
Quer queira, quer não, agora estamos todos nos conectando com nossas essências.
Pudera, de repente, fomos obrigados a os lembrar quem somos, de onde viemos e também sobre a própria direção, daqui pra frente.
Se pintássemos a pandemia como um navio que afundou na madrugada, a princípio estávamos todos perdidos na cena. Nos debatendo, ou agarrados a algum pedaço de verdade, segurança ou medo que flutuasse... Mas agora, passados mais de 90 dias, estamos um pouco mais serenos. Mais adaptados às angustias, mais acostumados com o novas águas desse tempo.
Já encontramos alguma forma de sobrevivência do corpo e da mente; muitos aprenderam a meditar. Já entendemos aqueles com os quais escolhemos conversar, agarrados na mesma peça flutuante. Novos encontros se deram, enquanto outros se perderam no escuro. Alguns se foram para sempre; enquanto outros seguem apitando, pedindo socorro.
Aonde você está?
Olhe para dentro.
É aí que mora a resposta. Honrar esta que estamos nos tornando, essa pessoa remodelada pelos dias de isolamento e absoluta falta de lógica, é a única saída agora.
Não adianta fingir que não está vendo, que não está sentindo... Ela chegou e está tomando assento.
Não adianta fazer força para tirar o velho navio das profundezas e fazê-lo voltar à tona. Esse já era. Normal agora é palavra nova. E essa essência que está comparecendo é a nossa. Eis quem somos realmente. Ela é o que resiste, nossa porção que escolheu se agarrar à vida. Ela é o que sobrevive, e vive sobre o que haja dia após dia.
Olhe pra ela com respeito. É possível que ela não queira, ou não tope voltar a viver como antes vivia. Ela, nova ou antiga, que talvez andasse escondida, com medo de admitir que não sabia o que fazer... Agora discretamente se orgulha de não saber. Porque já entendeu que a única porta é a busca de si mesma.
Ela já olha adiante sem motivo, aprimorando sua capacidade de ver... Da mesma maneira, fala para entender, pergunta e se dispõe a trocar, para ampliar a si. E entende que a maior inteligência que existe é a inteligência da vida. E o corpo, o corpo bem pode ser só um pedaço de carne sustentado por ossos e pele; da mesma maneira, bem pode ser a própria fonte da criação.
Por isso cria.
A linguagem, estilo, alegria são as ferramentas, portas e provas: a fonte está dentro.
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