Meu filho,
Essa não é exatamente uma conversa que você, ou qualquer outro garoto gostaria de ter com a mãe. Mas eu preciso falar sobre isso. Ontem seu pai me disse que sem querer, ou sem saber o que fazia, você viu uns vídeos esquisitos na internet.
Não sei o que foi exatamente, mas sei que o histórico da busca começou por você digitando seu nome e o da menina que você gosta na escola (romântico aos nove anos... Tão eu isso). Mas como não obteve resultados, deu sequência na busca e escreveu “menino beijando menina”, depois “beijo da boca”, e deu naquilo que você encontrou.
Na hora em que vi, confesso, sofri. Na verdade, quase morri. É enlouquecedor pensar numa criança vendo adultos copulando para uma câmera. Insuportável, pra ser sincera. E mesmo sabendo que o mundo anda enlouquecido, e que era óbvio que você, com um iPad nas mãos, mais cedo ou mais tarde teria acesso a esse conteúdo. Doeu a beça.
O problema não é o sexo, filho. Aliás, ser curioso sobre esse assunto vai ser natural para vocês, meninos. O problema é o dano potencial que existe nesse tipo de vídeo. Meu filho, não duvide: ele destrói células sadias do seu cérebro e afeta sua percepção do mundo de forma irreversível. E este é, inclusive, um dado científico: homens que assistem desde cedo, ou que assistem muita pornografia tornam-se egoístas, inseguros e machistas.
Com certeza o mundo seria muito melhor sem a influencia dessas imagens construídas sem uma gota d’alma e absurdamente sexistas. Imagine se todos os garotos tivessem a chance de ser uma tela em branco, e conhecer as surpresas da intimidade com o outro de forma orgânica, viva, no tempo certo... Imagine se a descoberta do sexo fosse natural, sem preconceitos e, sobretudo, sem expectativas.
Porque do jeito que as coisas sempre aconteceram e ainda acontecem, quando chegar a hora, vocês certamente já terão visto cenas e mais cenas dos astros da pornografia em ação. O que configura uma espécie (lamentável) de padrão a ser perseguido.
– Vê só? É muito triste.
Então, deixa eu te dizer um coisa: pornografia não é sexo de verdade. Não é amor. Não é como você veio ao mundo. Pornografia é mentira. Um teatro produzido comercialmente, com atores e atrizes praticando sexo por dinheiro.
Imagine que este é o trabalho dos profissionais escolhidos pelo tamanho dos genitais e habilidade de manter ereções usando drogas como Viagra para conseguir isso. Sem falar da edição dos vídeos, que faz as sessões de sexo parecerem longas, o que na verdade é uma grande mentira. Outra coisa maluca: os atores geralmente não tem pelos pubianos para que as cenas fiquem mais nítidas –– e não porque mulheres preferem isso.
Também as mulheres não são exatamente reais. Com todo respeito às atrizes pornô, a verdade é que elas costumam ter seios (falsos) perfeitos, maiores e mais redondos do que os das mulheres naturais. Além disso, não raro, elas também passaram por cirurgia nas vaginas para ficarem esteticamente mais “limpas”. Verdade... (Então, as vaginas do pornô são diferentes das vaginas da vida real. Saiba disso). Enfim, isso sem falar dos clareamentos, botox, alisamentos e tudo mais que possa enfeitar a cena. Só que na vida real, isso não existe. Filho, não existe.
Outra coisa, as mulheres na pornografia estão fin-gin-do. Elas são pagas para parecer que gostam de tudo, mesmo quando dói, quando é desconfortável, constrangedor ou vergonhoso. Mesmo quando estão sendo abusadas ou humilhadas. Como disse, é um teatro de mau gosto e elas são atrizes pagas. Na vida real as mulheres precisam de muito, muito mais carinho, mais cuidado, e muito, mas muito mais respeito. Entenda: esses vídeos não falam do que as mulheres gostam (ao contrário).
Sei que pode ser muito pra você saber agora, tão menino. Mas não tem jeito: melhor uma verdade precoce (ardida), a um paliativo para os efeitos colaterais (da insegurança e do machismo adquiridos) pelo resto da vida.
Com amor,
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Mamãe.
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