"A forma mais rápida de se matar uma coisa especial, é compara-la a alguma outra coisa".
Esta frase do Instagram, em poucas palavras, explica o mal estar da civilização, entre outras coisas.
Porque quanto mais imitadas, mais se diferenciam a originalidade dos sabores, estilos e pessoas.
Feito a cápsula de café que George Clooney recomenda. Não adianta. Outro dia comprei uma versão alternativa, que seria deliciosa – se a versão original não existisse. Ou como aquela artista que encanta o olhar com gestos ferozes. E a mera tentativa de imitar o gesto, ou a ferocidade dela, serão capazes de esvaziar o potencial de qualquer obra. Ou como aquele colo, aquele jeito, aquela voz, aquele peito. Que nem adianta procurar em outro alguém.
Não adianta, porque o coração não se engana.
Ninguém pode se diferenciar com diferenciais alheios. Isso é sabido.
Primeiro, porque é aquilo: o original remata!
Depois, porque sofremos de comparação crônica. Um mal que não alivia. Aliás, como uma bruxa má, a Comparação tem o condão de estraçalhar o momento, as coisas, cenas, pessoas e, às vezes, até o dia.
Comparar é como cuspir para cima – uma absoluta idiotice.
(Mas como somos distraídos...)
Ora, se as coisas como são – e como outras jamais serão. Então porque comparamos tanto?
Se a comparação leva a alegria embora? Se ela nos coloca numa parede com réguas enormes, depois mede, julga, condena e ilude?
Se ela esmaga o contentamento. Arranca o que possa haver espontâneo. Diminui o que era suficiente. Duvida do que era certo. Pisa, desencoraja, assusta, entristece....
Comparamos – mesmo sabemos de tudo isso.
Mas sabendo, experimentamos inúmeras receitas de auto-controle: meditamos; tomamos chá de cidreira; oramos; ampliamos a consciência; dialogamos; oramos mais um pouco; encontramos propósito e com sorte a alcançamos momentos de paz interior... É quando o mar de dentro serena. Respiramos... Então, nos distraímos, soltamos o leme por um instante e pimpa. Como um espirro, a mente racional vem e compara. O coração inflama.
Por que é tão difícil celebrar a vida sem perseguir a perfeição? Por que não somos gratos pelo processo, ao invés de viver focados em resultados? Por que é tão complicado abraçar em nós mesmos o que mundo possa considerar um defeito?
"Ser um poço de afeto". Este é um desejo. Pratico, honro, exercito, e quando me encontro, navego... Mas a vigilância precisa ser firme e constante.
– Claro, pisco, cochilo. Vacilo... E sinto (dói). De repente, comparo e minha alegria desmorona.
Mas a pergunta fica: por quê mesmo?
Por que involuntariamente, constantemente, estupidamente nos comparamos?
(Queria poder fazer essa pergunta a um cientista. Um desses bem didáticos que conseguisse me fazer entender os trilhos operacionais deste daninho mecanismo. Ou quem sabe um psicanalista saberia... Um antropólogo, talvez? Você, caro leito, acaso sabe me responder?)
De toda forma, tenho cá uma humilde suposição: se comparação é mundana, um impulso do ego, um mau reflexo, então, para evitá-la, precisamos basicamente estar elevados, em paz com o coração.
Mas a manutenção da paz de espírito, como se sabe, nem sempre é tão simples. Contudo, há caminhos. E o propósito é um deles.
Repare, todas as vezes que estamos em equilíbrio, de acordo com nosso propósito neste mundo, deixamos de buscar aprovação. Entendemos que cada um segue um próprio trilho, e celebramos as diferenças. Quando nos entregamos às próprias tentativas, passamos a honrar a beleza do processo e abrimos mão da perfeição. Quando estamos grandes no coração, passamos a operar com gratidão.
E a gratidão é a fada cuja varinha de condão transforma em mais do que suficiente, o que tivermos nas mãos.
Moral da história: sonhar acordado (com propósito e gratidão) é única coisa que nos garante que o café coado da nossa casa se torne literalmente incomparável.
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