Li essa pergunta inquietante dia desse num cartaz, nem me lembro aonde.
Sei que ela caiu feito semente trazida pelo vento, germinou e criou um par de raízes em mim.
De lá pra cá, passei a reparar nas fotos de quando era menina e dei pra pensar nas coisas que já pensei um dia.
Não por acaso, tenho reencontrado amigos de infância que assim, sem mais nem menos, me falam de passagens sobre as quais eu nunca lembraria.
Na verdade, imageticamente guardo poucos instantes claros. Mas existe um específico que ficou marcado. Eu devia ter entre sete e oito anos, e estava na beira da piscina do prédio onde morava, quando tive um "insight", fui acometida por espécie de consciência profunda, estranha para uma garotinha. De repente, senti saudades daquele momento presente em que vivia. Não por outra, mas porque eu sabia: numa próxima vida o céu seria o mesmo, mas eu teria outros pais e viveria em outro lugar, com outros irmãos e outra família. E mais – talvez eles fossem os mesmos... Mas em papéis diferentes.
Que tal? Sem que ninguém me tivesse dito, eu sabia que esta vida era uma viagem ao plano físico e que meu corpo era um veículo para a manifestação da alma. Eu sabia!
Ou seja, quando menina, eu lidava naturalmente com a conexão divina.
Sábios, como o guru Sri Prem Baba, dizem que cada um de nós traz em si uma porção da consciência divina que deseja se expandir, algo a ser realizado – ou, o propósito da alma. Saber o que viemos fazer aqui, contudo, está intimamente ligado àquilo que somos em essência. E é a criança que fomos quem trouxe notícias do propósito.
As crianças sabem. É preciso sensibilidade dos pais para ouvi-las. E embora a infância demande muitos limites, é nela que se tem maior clareza sobre o que quer – o que significa uma forma rara de sabedoria.
A escola, como se sabe, nunca foi a melhor potencializadora desse tipo de recurso inato. De modo que dependemos da sensibilidade de quem cria para desenvolver as emoções, a mente, os valores humanos e o manejo dos recursos interiores disponíveis a cada um.
Fato é que precisamos ouvi-las. E numa esfera mais ampla, ouvir a criança que fomos e que com o tempo, cedeu a avalanche de influências externas e reprimiu a clareza sobre seus anseios e sonhos.
Não raro lhe disseram que este ou aquele sonho era simplesmente impossível de ser realizado; não raro acentuam como é difícil alcançar isso ou aquilo; não raro o pequeno ser desejante é cruelmente desencorajado; não raro vivemos para realizar o sonho do outro – mesmo sem saber para que raios!
Pessoalmente sinto que nunca abandonei minha menina. Em alguns momentos ainda consigo ouvi-la, sinto sua presença. Na verdade, a conexão acontece quando sinto a nítida presença do amor, quando alcanço a luz para iluminar o outro, quando, apesar do barulho aqui fora, me conecto com um lugar calmo e bonito e forte dentro de mim. É ela, sempre ela. A consciência em expansão, a menina que sabia, ela que sabe e que habita a fonte, dentro de mim.
Pensando nisso, sinto que estou no caminho quando escolho para meu filho uma escola que tem ioga na grade curricular. Claro, não é solução, dependerá de nós, a família, garantir que a conexão com a espontaneidade e a pureza não só permaneça, mas floresça. Mas acredito seja fundamental essa urgente mudança de paradigma: educação para além de geografia, matemática, física – mas como manutenção da conexão com o amor original, o propósito, ou a maior de todas as sabedorias.
Finalmente, "todo menino é um rei, eu também já fui rei", lembremos disso.
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