Dezembro –– para essa roda gigante que eu quero descer!
Quero sacudir a poeira dessa última volta, que apesar de incrível, não teve a menor lógica. Quero afrouxar esses nós apertados, que nos mantiveram ansiosos, receando contato, digo, contágio. Quero, só por um instante, dispensar as máscaras.
Só por hoje, não quero conversar pela tela do telefone com íntimos estranhos, íntimas amenidades.
Só por hoje, antes de entrar, vamos sair?
Ficar juntos, off-line.
Maria Sanz
artista
"Vamos fugir da tela de assuntos volantes e escapar desse mundo brilhante, com barulho de parque lotado? Hoje eu quero tirar os sapatos, subir no telhado, deitar debaixo do céu e ouvir o silêncio dos nossos pensamentos se esbarrando. Esses, já quase desacostumados... Hoje eu quero o arrepio daquele monte de coisas que me assaltam o peito, mas que eu nunca vou saber como te dizer."
Chegamos. Dá aqui um gole da sua água? Tão bom esse vento... E esse céu? Que espetáculo!
Pronto, parei. Vou falar mais nada. (O silêncio é um advento prateado.)
Mas aqui do lado de dentro... Ai, do lado de dentro tudo segue ligado. ON! Só eu sei do barulho dos meus pensamentos, girando e girando... Eis a roda-gigante.
É que o enredo da vida nunca falha em mexer comigo. Gira a gira!
Não posso, por exemplo, ver o nascedouro de uma paixão, que o golpe da graça me deixa zonza. Me belisca, incessante, n'alma a cena, o instante em que duas almas se reconhecem. Assim, de repente: cristais unidos por aposição –– com força de diamante que, até espelho, se bobear, corta ao meio.
Ah, arrepio mesmo... Tá vendo só, o pisca-pisca girando dentro?
Voltei. Aqui agora tenho as veias saltadas, como as da minha avó. Acho bonito ver as raízes que percorrem meu corpo, levando a seiva-sangue na ída e na volta, até a fonte. Caminhos interiores.
Também acho bonitas as veias compridas do seu antebraço. Essas aí, mais grossas, que saltam até sua mão; essas que neste instante me envolvem. (Proteção). E as veias do seu pescoço que saltam quando você fala alto. Sua geografia interna... Gosto. Existimos na carne que encobre a alma.
(Pronto, voltei pra roda-gigante).
Sabe como eu sei que eu te amo?
Porque eu penso no que vou dizer. Ouço na minha mente antes, o que talvez diga minha boca. Pondero. Vê? Diacho de mania besta! Por que não sou com você o mesmo que sou com os outros? Esperta! Só que não. Com você fico mais calada e não digo o que aos outros diria de um jeito bonito e de improviso.
Sabe mais como eu sei que amo você?
Porque feito besta fico vendo você dormir. Achando a maior graça nesse seu jeito desarcodado de ser. Tão perto e tão distante. Imune a tudo que eu penso, sonhando sabe Deus com quê... Biscoito, chocolate, garoto! Dá vontade de morder.
Apetite. Apetite é coisa importante... Sabia que a posse é o túmulo do desejo? E que para cada desejo morto e acabado, é preciso dar vida a outro, que ocupe logo aquele posto. Engraçado, nesse ponto sou uma "serial killer" e uma fonte ao mesmo tempo.
Finalmente, eu e você aqui, sem máscara, sem telefone, sob o céu, sobre o telhado –– tudo nascido de um passeio no parque da rua sete. Cristais apostos... Muito diferentes de semelhança extrema.
É isso. Não tem como parar essa roda-gigante.
Bora, então! Que eu tô sem sono!
E gira a gira, que tem um ano novinho em folha, quase chegando.
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