Ontem recebi de um caro leitor um email dizendo que costuma ler minhas crônicas porque gosta de interpretá-las – são às vezes enigmáticas. E emendou: "penso que não são as respostas que movem o mundo e sim as perguntas". Amei no ato. Depois passei a noite em claro.
Verdade, não sei oferecer respostas (desculpe). Mas sempre soube propor perguntas. Desde menina, na escola, eu era aquele braço levantado, esperando minha hora. Queria saber (mais), descobrir (o que há por trás) e entender (especialmente o faziam questão de esconder).
Sou aprendiz das entrelinhas – me recuso a sublinhar certezas e regras claras me trazem dúvidas. Sigo na busca e a cada dia descubro novas saídas. Nos últimos tempos, por exemplo, tenho descoberto que sou inúmeras – inclusive algumas desconhecidas. Procurei saber e entendi que meus ciclos variam com as luas, minhas formas mudam com as estações, e meu olhar amplia na medida em que perco o medo do escuro.
Entendi também que o tempo se alterna em quatro: o antes, o depois, o agora e o sempre – sendo este a única constante: lugar do Sagrado. Donde concluo, se o tempo varia, então como nós meros coadjuvantes do contexto, não alternaríamos?
Diariamente me deslumbro com as possibilidades do mundo e aceito que nada é fixo. Nada é uma verdade única, senão Deus – que é UM e pronto.
Voltando, tem uma frase genial do crítico Harold Bloom, que diz: "toda obra é uma resposta a uma obra". Porque se tratando de criação, tudo que não responde, questiona.
Gera, por sinápse espontânea, uma tentativa de resposta e, consequentemente, uma pergunta nova!
Razão pela qual a criação é sempre dual: claro e escuro, céu e terra, mulher e homem, prazer e dor, pergunta e resposta, cronista e leitor.
Estamos sempre diante de uma nova porta que oculta seu interior. E sempre, diante dela precisamos decidir: abrir e seguir ou ficar ali.
É preciso "vontade de descobrir" para se levar adiante.
Às vezes com medo mesmo, porque se escolhermos seguir, conheceremos aquilo sobre nós mesmos que ainda não sabíamos – apesar de sempre ter estado ali.
E é preciso coragem para propor a pergunta-chave que abrirá a porta – ou a passagem para o caos momentâneo, um encontro com o desconhecido, travessia da noite escura para a luz do dia. Com uma recompensa à vista: luminosa é a verdade que propicia uma vida mais rica de vida, mais profunda, fecunda, frutífera.
Ainda assim, digo, mesmo com vontade e coragem, as questões resistirão... Elas sempre reaparecerão. Porque não se engane: uma porta levará à outra porta, e assim por diante, até o fim. Ou até a chegada do sempre, enfim.
Donde concluímos que enquanto houver tempo, viveremos na busca de quem realmente somos?
Este transitar constante.
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