Alguém me fez essa pergunta e no mesmo instante eu me dei conta de que o Maior em mim precisa de mais atenção. Verdade. Ando sem tempo para refletir, sem tempo para o silêncio, sem tempo para contemplar o Maior, ou seja, a natureza essencial que habita em mim.
Mas não só eu. Percebo que os hábitos contemporâneos podem estar nos levando à loucura (literalmente), porque estamos cada vez mais acostumados com o irreal...
Entramos na dança, e na busca da aprovação e do reconhecimento do outro, pouco a pouco fomos nos tornamos uma espécie de atração, um personagem social, ou um produto cultural.
Graças às novas tecnologias e ao mundo virtual, hoje cada um de nós representa a complexa expressão daquilo que deseja, acredita ou pensa que sente... Vamos da foto de perfil, passando por frases e palavras, até imagens e vídeos que“nos definem”(será mesmo?).
Somos, ao mesmo tempo, um "porquê" e um "como" – ou um sistema no comando da edição: isso me representa, isso não; assim sou eu, assado, não.
Falar a verdade? Estamos assoberbados, isso sim! Atolados em tarefas que inventaram e nos fizeram achar que inventamos.
– Pra quê mesmo? Por que desenvolvemos estratégias para alcançar objetivos, formas e normas que sequer são nossas?
Por exemplo, será que não estamos presos entre 'ser um profissional de sucesso' e 'atuar no papel de profissional de sucesso'?
Olha, não zangue comigo, ou melhor, respire profundamente e responda a si mesmo:
– Quantas vezes você não perde contato com o que está acontecendo do lado de dentro por estar olhando tudo de fora? Avaliando sua própria performance para se manter adequado ao papel que você mesmo criou?
Afastado da razão Maior, ou bestamente seduzido pela possibilidade de sedução...
E não importa o personagem. Tanto pode ser o profissional de sucesso ou o de mulher fatal; o de boa esposa ou o de chefe cordial; professor carrasco, macho alfa, artista incompreendido, ativista político, vítima do sistema, mãe sem igual, figura pública, ou sei lá qual! São infinitos os papeis possíveis, você sabe. Fato é que todo cuidado é pouco para não cair na esparrela de levar o personagem pra cama, como diz a canção.
Sabe, essa coisa de ficar do lado de fora, seduzindo, avaliando e seguindo um script previamente concebido pode nos transformar em perfeitos Narcisos. Note, a palavra Narciso deriva de narcóticos (aprendi esses dias), e designa aquele que intoxicado pelo ego, ou seja, tão focado na própria imagem (social, profissional, cultural, sei lá) se afoga em si mesmo. Faz todo sentido... Esse afogamento contemporâneo também é conhecido como ansiedade, stress, irritação, pânico, depressão, e tantos outros abismos humanos.
Finalmente, tudo isso era pra falar da presença. Sobre nosso eu Maior. Falar sobre estar no centro de si, no aqui e agora, sem julgamento. Sobre viver cada momento através do corpo, nosso melhor instrumento.
Era sobre pensar em quem somos nós, sem (as ilusões sobre) nós mesmos.
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