"O universo é som, tudo é vibração". Nada Brahma
Não posso ver uma pessoa tocando tambor... Também não sei ver tocando bateria, violão, baixo, gaita, cantando... Na verdade, não sei lidar com pessoas que fazem música – me apaixono.
Sequestrada pela magia, me planto de boca aberta (babando) diante do palco, da roda de samba, no meio da rua, na mesa ao lado. Me deixo banhar pela luz que só um solo guitarra... Me bronzeio inteira com o calor que só a bateria, e arrepio dos pés à cabeça com a voz, o balanço e a melodia. Porque a música, ah, a música me ensina a sentir... Aliás, acredito eu, que aquilo que ela me faz sentir, transforma o sentimento em si. A música ensina.
É medicina pra mim.
A começar pelos tambores. A batida, o batuque, o grave da percussão me aterra, me chama pro chão, me faz sentir o limite aonde a gravidade incide – e isso é bom. Ai, como é gostoso sentir o coração e a carne tremerem diante da vibração de um tambor que bate, ativando poderes (curativos, inclusive) que existem em nós mesmos. É quando o corpo se rende, atende, responde ao som...
Por falar nisso, você sabia que enquanto fenômeno acústico, o som é um sinal em forma de onda que se propaga por qualquer meio (elástico), produzindo vibrações que são captadas pelos ouvidos e interpretadas pelo cerebelo, mas também, e sobretudo, perceptíveis através da pele? Verdade. Se o corpo humano é composto por 70% de água, então, ele em si é um instrumento.
Vibramos.
Eu vibro. E como!
Dia desses fui assistir ao show do Silva aqui na Ilha e fiquei completamente tocada. Como não? Sujeito homem capixaba, com uma elegância 'Caetânica', uma percussão de responsa e o repertório mais nostálgico/swingado do planeta! Botou pra quebrar e me deixou de perna bamba. Da mesma maneira, toda vez que participo da roda de samba do Regional da Nair, sinto uma vibração de ordem cósmica – só pode. Porque cada átomo de cada célula resolve revolucionar sua órbita e eu, literalmente, vejo estrelas circulando minha cabeça. Também desfilando na avenida, de junto da minha escola querida, quando passo pela bateria sinto arrepiar cada singular fio de cabelo que me habita. Estremeço, vibro, viro cuíca, ripilique, pandeiro. Não penso, sinto: derreto.
Nessas horas, confesso, melhor evitar os olhos de qualquer sujeito. É como disse, qualquer espécie de troca, enquanto estou instrumento, pode ser fatal para as cordas do meu peito.
Tudo isso sem falar do violão... Não sei lidar e pronto. Talvez por não ter nascido numa família exatamente musical e tendo, portanto, conhecido cedo essa frustração – sempre quis, nunca pude – não resisto ao flerte com a música feita ao vivo com as mãos.
Nota: nem quero aqui entrar no quesito música eletrônica, aquela tocada pelo DJ, com equipamentos modernos e caixas de som. Não quero porque essa é outra louca-paixão. Não sei lidar e pronto, com a pessoa que regue uma multidão apenas com um computador e as pontas dos dedos das mãos.
Na verdade, ser instrumento é dos maiores prazeres da existência... É como Bob disse: quando a música bate, penetra, mas não machuca. Eleva.
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