Uma vez uma mulher muito sabida me disse que a gente não devia o tempo inteiro sorrir...
Secretamente discordei.
Tudo bem, confesso, depois até tentei usufruir do conselho, mas falhei.
E sigo sem conseguir.
Sorrio, enfim.
Nem sempre procuro, ainda assim, acho graça em quase tudo...
Porque, não duvide, esvaziar o poder do ego é um ótimo truque! Método que nos faz (rindo) lembrar da nossa constante falibilidade. Como o palhaço nos faz lembrar da importância de não se apegar a quaisquer coisas classificadas como certas, ou erradas, e sorri (de si) apesar disso ou daquilo.
Simples, como conseguir achar graça em tirar do pé um par de meias molhadas; ou 120 grampos da cabeça sem fazer cara feia; manter o bom humor com o voo atrasado, num aeroporto lotado; e acordar cantado às 6 da manhã para ir ao trabalho.
*Veja, pode ser terrível arrancar meias compridas quando elas estão suadas. Mas, depois de uma corrida com o corpo todo latejando de calor e endorfina, incrivelmente, as meias saem com manteiga. Também pode ser extremamente irritante catar infinitos grampos na cabeça. Mas, depois de uma festa deliciosa, com a memória encharcada de glória, catar grampo é tão gostoso quanto contar história. Sobre o voo atrasado no aeroporto lotado, minha única suspeita é que a paciência seja a vitamina nos bem humorados... Agora, sobre acordar cantarolando para tomar banho, café e ônibus para ir ao trabalho, aí não há dúvida: só mesmo sendo entusiasmado.
Ou seja, sorrir para si e de si, e não o contrário.
Há quem diga que é um dom (talvez herdado); outros acreditam que se trata de um selo divino... (tipo o sujeito nasce ou não com o carimbo); outros ainda atribuem à busca do caminho espiritual, verdade é que ninguém sabe.
De um modo ou de outro, sei que nem tudo são flores para os animados... Estes premiados, que vêem graça nas coisas mais simples, que são dedicados a quase tudo que fazem e sentem a obscena alegria de estar vivo, costumam pagar caro. Ora, desde a escola, o menino mais empolgado, alegre, feliz à toa, tende a ser tachado de bobo e daí, para baixo. Depois, na adolescência, se o entusiasmo não passa, ele começa a sofrer o preconceito de parecer sem conteúdo, alienado...
Imagine que se para um adulto (maduro) já não é fácil lidar com a imagem de alguém naturalmente feliz, simpático e apaixonado, que dirá para um adolescente (inseguro).
Os felizes, aqueles que até cantarolam rumo ao trabalho, seguem sendo desacreditados... De algum modo bizarro, o mundo insiste em premiar os angustiados, os pessimistas e os sarcásticos. Parece que viver inspirado, irrita; acreditar no amor, agride; ser satisfeito consigo mesmo, enoja; e amar o que se faz, incomoda para além das medidas...
Levanto a bandeira da intrépida trupe da vida! Para que não nos tornemos sequer parecidos como aqueles que não corre para não suar a meia; não se enfeitam para evitar dor de cabeça; não viajam para não correr riscos, e principalmente, não amam porque não sabem o que isso seja.
Eu, que vim ao mundo entusiasmadíssima, confesso que já fui bastante massacrada. Professores, colegas de trabalho, amigos falsos. Também já estremeci e ensaiei mudar meu currículo (até onde eu entendi, os sérios têm mais crédito e os céticos, mais dinheiro). Mas sigo irredutível na busca da alegria.
Crente, careta, maluca, devota, inocente... Ou uma nata e irremediável, entusiasta.
Yabba-dabba-doo e passa a marcha!
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