Antes, uma breve história:
"Alguém se decide afinal a saber. Monta em sua bicicleta, pedala para o campo aberto, afastando-se do caminho habitual e seguindo por outra trilha. Como não existe sinalização, ele tem de confiar apenas no que vê com os próprios olhos diante de si e no que mede com seu avanço. O que o impulsiona é, antes de tudo, a alegria de descobrir. E o que para ele era mais um pressentimento, agora se transforma em certeza. Eis, porém, que o caminho termina, diante de um largo rio. Ele desce da bicicleta. Sabe que se quiser avançar, deverá deixar na margem tudo que leva consigo. Perderá o solo firme, será carregado e impulsionado por uma força que pode mais do que ele, à qual precisará entregar-se. Por isso hesita e recua".
Humanos... Fomos acostumados às garantias. Por isso duvidamos e reclamamos mesmo quando não precisa.
Mas sabe que sobre isso, aprendi uma lição que talvez sirva a todos nós: só devemos ajudar uma pessoa a partir do momento em que se verificar que ela já fez alguma coisa para ajudar a si mesma. Simples assim.
Maria Sanz
Colunista
"Só devemos ajudar uma pessoa a partir do momento em que se verificar que ela já fez alguma coisa para ajudar a si mesma. Simples assim"
De modo que passo a contar outra história que só vai fazer sentido se você permitir.
Diz que certo dia, um discípulo perguntou ao mestre: "Diga-me, o que é liberdade?"
"Qual liberdade?", perguntou o mestre... "A primeira liberdade é a estupidez. Lembra o cavalo que, relinchando, derruba o cavaleiro, só para sentir depois seu pulso ainda mais firme.
A segunda liberdade é o remorso. Lembra o timoneiro que, após o naufrágio, permanece nos destroços em vez de subir no barco salva-vidas.
A terceira liberdade é a compreensão. Ela sucede à estupidez e ao remorso. Lembra o caule que balança com o vento e, por ceder onde é fraco, permanece de pé".
Ambas histórias contadas pelo mestre Bert Hellinger, falam que o maior conhecimento, ou a maior liberdade possível, exige entrega.
Demanda de nós a sutil percepção de que para avançar é preciso soltar, renunciar, deixar ir e se desapegar dos temores, das ideia preexistentes e, principalmente, das intenções (inclusive as boas).
Perceba, quando estamos identificados com nossos medos, ideias ou (melhores) intenções, estamos tentando impor à realidade algo que é nosso – ou seja, estamos fazendo esforço para alterá-la como se ela fosse um objeto, e não o contrário.
Mas não tem jeito... A ordem é preexistente. Ela precede inclusive o amor.
De modo que não adianta levar a vida em desequilíbrio dando mais do que recebe ou recebendo mais do que pode "em nome do amor". Não adianta porque cedo ou tarde a natureza corrige o engano, exatamente como faz correnteza conduzindo o caminho das águas do rio até seu destino oceânico.
De modo que liberdade significa saber navegar, digo, envergar. Porque quando finalmente aprendemos a ceder aonde somos fracos; quando nos curvamos diante da ordem da natureza; quando dançamos ao som e à luz das constelações do Universo (ó grande Mistério), aí então estaremos no caminho certo: caminho do conhecimento.
Finalmente, ter sabedoria é poder confiar, é soltar, acreditar... Deixar que a força das águas nos conduza até a outra margem.
Eis a grande travessia.
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