Dar tempo ao tempo não é só poético, nem só bonito, é preciso.
Sabe aquele pintor renomado?
Então, ele não virou pintor quando foi aclamado pela crítica, aos 50 anos. Não, nesta ocasião ele ficou famoso. Artista ele se tornou ao longo de 30 anos de trabalho diário – porque enquanto esperava sua vez chegar, pintava. Pintou tanto que seu jeito peculiar de atacar a tela foi aperfeiçoado e quando, casualmente, a sorte cruzou sua porta, o encontrou como? Pintando, claro!
Não tem novidade, nos tornamos aquilo que somos todos os dias.
Aquilo que atravessa nossa mente diariamente. Aberta ou secretamente – e, lógico, não só profissionalmente. Repare, esta não é uma questão de confiança, é uma questão de física, de química, mecânica. É obra, construção. Leva tempo, mas dado tempo ao tempo, comparece o resultado. Exatamente como aquele monumento colossal feito da união de milhares e tijolos de um palmo.
Enfim, meu ponto aqui é dizer da infalível equação "energia x tempo" que, no final das contas, nos definirá. Porque aquilo com o que gastamos nosso tempo – mental ou fisicamente, é elevado à potência da energia aplicada para realizá-lo. Resultando no que somos, ou no que em algum tempo nos tornaremos.
É aquilo mesmo, viver é esperar, sem deixar de fazer.
Ah, e como é bom saber esperar, ou melhor, como é bom poder esperar... Eis uma verdadeira medicina! Porque conquistar qualquer garantia sobre as ações do tempo, é acessar o estado de relaxamento da alma do corpo – também conhecido como conforto.
Esperar para colher o que se plantou é uma "não-ação" produtiva. Acalenta, inspira, faz a gente suspirar...
Razão pela qual todo mundo aprecia a possibilidade de estar em dia com as próprias expectativas – mas, sabe perfeitamente que isso só é possível quando existe "confiança" no plantio.
Que só existe quando estamos vivendo do próprio crédito (em nós mesmos); ou seja, só existe quando fazemos bem feito!
Porque é isso: a certeza do limite da espera é calmante. E aprender a manter-se calmo, de algum modo nos torna mais sábios, mais nobres.
Sabe, lembrei agora que quando pequena, pela manhã antes da escola, minha mãe me levava com ela para todo lado. Lembro da delícia das descobertas, como quando, por exemplo, íamos à Mesbla; e lembro da angústia de longas esperas, como durante seus jogos de tênis. E me recordo com clareza de uma atitude dela que aplacava minha impaciência: quando eu ficava agitada, ela parava o jogo, vinha até mim, tirava do pulso seu relógio dourado, me dava e mostrava o ponteiro grande dizendo: "filha, quando esta seta chegar neste número, nós vamos pra casa".
Bastava. Eu me acalmava quando entendia que dar tempo ao tempo também era uma espécie de garantia. (Ir pra casa era o que eu queria, mas o dado o prazo, eu relaxava, ia brincar e, às vezes, até amizade nova eu fazia).
Enfim, demorou, mas ficou nítido: a pausa e a espera fazem parte do processo.
Assim vejo este dia de domingo que Deus deu, por exemplo. Sagrado porque no descanso, na calma, no silêncio (e na ausência de um aparelho telefônico com internet) estão os verdadeiros fios de conexão à dimensão mais elevada.
Andamos precisados.
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