O horizonte nos orienta. Concorda? Ele representa um limite, a borda. É um símbolo, um ideal lá fora.
Mas, pense comigo, ele não é real.
Ninguém pode construir uma casa linda na linha do horizonte. Não pode porque simplesmente não é possível alcançá-lo... Na medida em que nos aproximamos, ele se afasta.
Então, apesar de “existir”, ele não passa de uma ilusão de ótica.
Sabendo disso, a mera tentativa de transformar o ideal em real é uma estupidez. Primeiro porque faz com que o ideal perca seu caráter funcional, que no caso do horizonte, é orientador; depois, porque se insistimos na tentativa de tomar posse, deter ou consumir o ideal, nos tornamos alvo preferencial do mercado que vende objetos, pessoas e cenários que "representam" essa possibilidade. Ou seja, uma farsa.
A mesma coisa acontece nas nossas relações. Insistir em viver o ideal é o caminho para a conservação de uma falácia. É a perda da oportunidade de se orientar para a maior das possibilidades: transformação.
Toda vez que nos deixamos guiar pelo ideal-de-quem-somos, ou pelo ideal-do-outro, fixamos uma linha ilusória, nos alienamos da realidade e, portanto, fraquejamos. Sofremos, nos tornando ansiosos, agressivos e inseguros.
Moral da história: não existe ideal de relação, aliás, a única constante que existe nas relações é a possibilidade de transformação. Trocas!
Abertura de espaço mesmo. Como num jogo de espelhos: quando somos vistos pelo outro e nos identificamos, nos transformamos nas propriedades que aquele olhar nos devolve. Isso nos constitui, desde a primeira infância.
Portanto, esticar os próprios limites, dentro de uma relação, é como dançar sem coreografia, se deixando guiar pelo ritmo. É correr o bom risco de nos reconhecermos, de nos reconstituirmos.
E este “vir a ser” que o amor nos proporciona é ouro purinho!
Então, não se engane: nos relacionamos em busca de alívio, mas no horizonte do desejo, encontramos sempre o que? Nós mesmos.
Porque, em sendo espelhos, estamos todos envolvidos num jogo reflexivo de troca e condução à transformação.
Finalmente, não é sobre morar no horizonte, como disse no começo. É sobre se deixar orientar por ele, e continuar no jogo da vida, que é sempre maior que nós, mas ao mesmo tempo nos convida diariamente a participar dessa grandeza.
Este vídeo pode te interessar
Veja também
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.