Atrapalhar. Verbo que pode ser transitivo direto, indireto e intransitivo. Que pode ser um obstáculo, pode perturbar, estorvar, impedir. "As tolices do Ministro atrapalham meus estudos.” Que pode significar: agir de maneira inoportuna, impedindo ações de alguém. “Não atrapalhe os estudos da pessoa com deficiência.”
Poderíamos mergulhar profundamente num texto sobre a regência dos verbos que a nossa língua portuguesa nos permite, mas o mergulho aqui é de cabeça na ignorância, na ausência de propostas relevantes, no autoritarismo e na mediocridade que o Ministro da Educação nos joga cada vez que se manifesta.
Constato indignada o que ouvi e confesso que me senti ultrajada diante da fala mais uma vez infeliz e com efeito dilacerante em meu coração: de que “crianças com deficiência atrapalham na sala de aula”. Tão ignorante quanto iletrado, a frase é um incentivo à brutalidade e me pareceu ainda que o Ministro não tem preparo algum para a gestão em Educação, e muito menos sabe algo sobre o movimento das pessoas com deficiência.
Diante de tanta grosseria, ódio, preconceitos, desrespeito e principalmente, pelas ações alheias à educação, resolvi trazer aqui e prestar uma homenagem a alguns dos muitos colegas e profissionais que um dia, quando crianças com deficiência, passaram pelas salas de aulas e hoje prestam um serviço imensurável a sociedade do Brasil e do mundo.
Adriana Dias - deficiência física: antropóloga, mestre e doutora em Antropologia Social pela Universidade de Campinas.
Anahi Guedes de Mello – deficiência auditiva: mestre e doutora em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina.
Décio Guimarães - deficiência visual: doutor e mestre em Cognição e Linguagem pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro e professor do Instituto Federal Fluminense.
Douglas Christian Ferrari - deficiência visual: doutor em educação no programa de pós-graduação em Educação pela Ufes.
Éder Pires de Camargo - deficiência física: formado em Física, mestre, doutor e pós-doutor.
Elaine de Oliveira Souza Fonseca - deficiência visual: enfermeira, mestre e doutoranda em Enfermagem e Saúde na UFBA.
Ligia Assumpção Amaral – deficiência física: mestre e doutora em Psicologia Social.
José Augusto Reis Almeida - deficiência visual: engenheiro agrônomo, mestre em Ciências Agrárias.
Ricardo Tadeu da Fonseca – deficiência física e visual: juiz e desembargador do Tribunal Regional do Trabalho do estado do Paraná.
Citei alguns exemplos de pessoas que conseguiram enfrentar não apenas os desafios do conhecimento, mas todas as barreiras sociais e culturais para chegar onde estão. Iguais a eles, temos milhares trilhando o caminho para a auto-realização. Porque é disso que trata. Para muito além de um papel profissional, ter uma carreira, ter um lugar onde conseguimos exercer nossa potência de vida, é quando nos tornamos inteiros e felizes. A trilha do aprendizado é construída com a nossa vontade, com o acesso à escola, com professores capazes e dispostos, que reconhecem as diferenças e nos tratam como iguais, que incentivam e fortalecem os nossos objetivos.
Diferenças não são problemas, são oportunidade para desenvolver e ampliar a visão de mundo. Visão essa que o Ministro da Educação insiste em mostrar que não tem. A diversidade humana oportuniza a convivência de todas as crianças. Não venha com seu retrocesso atrapalhar nosso progresso.
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