Faz exatamente uma semana que minha tia morreu, infectada pelo coronavírus. A tristeza e a dor de sermos suprimidos da homenagem de despedida talvez tenha sido a maior de todas as estranhezas da vida.
Ficaram as memórias daquela tia que fazia os melhores pratos do Natal, presentes com o nome de cada sobrinho escrito neles, risadas depois dos casos engraçados que ela contava, mistérios sobre sua verdadeira idade, café com bolo fresquinhos, lembranças do cheiro da casa e dos primos reunidos. Quantas histórias se partiram juntamente com ela.
Como entender a morte
Eu me rendo à esperança sempre que me vejo diante de uma situação de transformação humana. Um gesto de empatia, um afago na alma são exemplos que me acalentam. Agora a morte é o momento que mais nos exige o cessar da luta. É quando devemos praticar o verbo aceitar e se entregar à paz. É como entendo a morte, sabe?
Sobre isso nunca fomos ensinados e nesse isolamento tenho feito exercício para compreender e aprender sobre ela. Na escola não tivemos aula, na faculdade tampouco, e durante a minha experiência de vida, o morrer humano nunca foi tratado. Às duras penas, vou experimentando.
Nem tudo tem remédio
Quem já prendeu o dedo na porta do carro? Eu já. Dói de quase desmaiar. Sobre essa dor a ciência trata. Essa dor física na qual me refiro é a que mais se fala e se aponta o caminho para a solução, para o cessar da dor. Para ela há remédios.
Mas a dor da saudade de quem vai embora de nossas vidas para sempre, ah, para essa dor não se estudam remédios. E essa dor de quem sofre no escuro de seus pensamentos, ah, essa dói bem mais.
Qual a paz que você deseja?
Estamos vivendo diferentes camadas de um luto coletivo, de um momento onde a vida foi posta em suspensão. Precisamos lidar com a perda daqueles que amamos, o medo de contrair uma doença, a ameaça de vermos nossa democracia se desfazer. Todos buscamos a paz. Mas como muito bem observou Santo Agostinho, "cada um deseja a paz que lhe seja conveniente".
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O meu desejo é que possamos falar mais sobre o medo dessa dor que mora em nós, nos olhar como irmãos, nos olhar como humanos, já que morremos como humanos. Está na declaração universal dos direitos humanos: “temos o direito de morrer sem dor”. E de buscar a paz que seja boa para todos os seres deste redondo planeta que habitamos.
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